21 de jun de 2024 às 12:26
O papa Francisco conversou ontem (20) “via zoom” com um grupo de estudantes universitários da Ásia no âmbito da iniciativa Building Bridges Across Asia Pacific (Construindo pontes na Ásia-Pacífico). Um estudante que se diz bissexual das Filipinas pediu ao papa que parasse de usar “linguagem ofensiva” e uma estudante australiana manifestou a sua preocupação com o fato de professores em escolas católicas estarem defendendo a teoria do gênero.
A conversa de uma hora seguiu o formato de perguntas e respostas e foi organizada pela Pontifícia Comissão para a América Latina e também pela Universidade Loyola de Chicago, EUA, e teve como objetivo o diálogo e o discernimento entre jovens de todo o mundo em torno de preocupações sociais comuns.
Jack Lorenz Acebedo Rivera, estudante de psicologia de uma universidade católica em Manila que se apresentou como “JLove”, disse ao papa como se sente estigmatizado.
“Eu mesmo fui excluído e sofri ‘bullying’ por causa da minha bissexualidade, minha homossexualidade, minha identidade e por ser filho de mãe solteira”, disse Acebedo.
“Minha mãe não pode se divorciar do meu pai. Por favor, permita o divórcio nas Filipinas e pare de usar linguagem ofensiva contra a comunidade LGBTQIA+. Isso leva a uma dor imensa. Por conta disso, desenvolvi transtorno bipolar e sou estigmatizado”, acrescentou o estudante filipino.
Elizabeth Fernandez, estudante de direito e administração de Sydney, falou sobre quantos estudantes universitários católicos hoje se sentem “bombardeados por ideologias circulares, ridicularizados por causa da nossa fé e em minoria na nossa missão de sermos faróis de esperança”.
“Também estamos preocupados com o fato de que muitos jovens recebem uma formação de fé superficial. Alguns professores de religião em escolas católicas usam o tempo de aula para pregar as suas próprias agendas de aborto, contracepção e teoria de gênero”, disse ela.
“Nós propomos que todos os professores de religião sejam catequistas formados e que os jovens sejam incentivados a se tornarem catequistas”, disse Fernandez. “Queremos que os jovens também tenham maior acesso à confissão e que Cristo seja integrado em todas as matérias escolares, promovendo assim uma cultura de maior reverência à Eucaristia”.
A estudante australiana também pediu ao papa que reze por sua mãe, Donna, que é mãe de nove filhos e foi recentemente diagnosticada com câncer no cérebro.
O vídeo da transmissão ao vivo mostrou o papa Francisco fazendo anotações cuidadosamente em um pedaço de papel em sua mesa enquanto cada um dos estudantes universitários falava e contava suas preocupações. O papa ouviu vários estudantes antes de responder às perguntas, todos juntos, como um grupo.
Na sua resposta, o papa Francisco disse que a questão da identidade pessoal era um tema recorrente mencionado por muitos dos estudantes.
Francisco disse que os problemas de discriminação podem ser resolvidos com proximidade.
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Falando em espanhol aos estudantes que ouviram uma tradução simultânea em inglês, o papa disse que existe “discriminação contra as pessoas com base na identidade”, incluindo “discriminação de gênero”. O tradutor de inglês na videochamada traduziu isto para os estudantes como discriminação devido à “identidade ou orientação sexual ou discriminação de gênero”, embora o papa Francisco não tenha usado as palavras “identidade ou orientação sexual”.
Francisco continuou boa parte da sua resposta falando do problema da discriminação contra as mulheres, em que as mulheres são tratadas como se fossem de “segunda classe”. “Mas vemos que hoje no mundo as mulheres são melhores que os homens em termos de intuição e capacidade de construir comunidades”, continuou o papa.
“A capacidade para a maternidade dá às mulheres uma posição de ação muito mais eficaz do que aos homens e isto é importante”, disse o papa Francisco.
“Resumindo, não à discriminação… e sim à proximidade”, disse ele. “É isso que nos leva ao amor.”
O papa Francisco também falou da questão da educação católica, destacando a importância de uma boa formação na fé para que os jovens conheçam bem a sua fé e sejam levados a tornar-se “autênticos cristãos”.
Em resposta à preocupação de Elizabeth de que os estudantes católicos sejam ridicularizados pela sua fé no campus, o papa Francisco disse-lhe que “os cristãos sempre foram perseguidos desde o início”.
O papa advertiu que com a perseguição vem a tentação do “cristianismo morno”, mas disse que “o martírio faz parte do cristianismo”
No total, 12 estudantes da Indonésia, Taiwan, Filipinas, Coreia do Sul, Austrália, Japão e Nova Zelândia falaram com o papa Francisco na videochamada.
Hseih Hsiang, um estudante de engenharia elétrica de Taiwan, disse ao papa: “Embora os católicos sejam uma minoria em Taiwan, temos a liberdade de partilhar a nossa fé sem sermos ameaçados ou não respeitados”.
Em resposta a uma preocupação de um aluno da Indonésia sobre a tecnologia que isola os jovens, o papa Francisco disse que a tecnologia pode ajudar, mas não é suficiente. Ele falou da importância de os jovens terem um sentimento de pertença e pediu aos alunos que reflitam sobre qual é o verdadeiro significado da “pertença”.
A iniciativa Building Bridges descreveu o evento como “um encontro sinodal entre o papa Francisco e estudantes universitários”, dizendo que o evento não faz parte oficialmente do Sínodo da Sinodalidade.
O papa Francisco viajará de 2 a 13 de setembro para a Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Singapura.