A determinação sobre a possível retirada dos mosaicos do padre Marko Rupnik, ex-jesuíta e artista acusado desde 2018 de abusar de mais de 20 mulheres da congregação que cofundou, da Basílica do Santuário de Nossa Senhora de Lourdes na França deve ser anunciada nos próximos dias.

“A decisão será anunciada em breve”, disse o diretor de comunicação do santuário, David Torchala, à OSV News.

A resolução será o resultado de meses de reflexão da comissão criada em 2023 pelo bispo de Lourdes, dom Jean-Marc Micas, que informou que os mosaicos do ex-jesuíta poderiam ser removidos por causa do sofrimento das vítimas que chegam ao santuário em busca de consolo.

Durante mais de um ano, dom Micas reuniu-se com vítimas de abusos, ouviu especialistas em arte sacra e consultou os especialistas de toda a França que compõem a comissão.

“Tínhamos falado da primavera. Demorou um pouco, mas a decisão será anunciada em breve”, disse David Torchala, referindo-se à intenção de dom Micas de comunicar a decisão em abril passado.

O porta-voz do santuário que recebe milhões de peregrinos todos os anos, disse que a situação “é terrível” porque receberam “cartas das vítimas do padre Rupnik que sofreram e continuam a sofrer por culpa dele”.

 “As pessoas que sofrem estão no coração” deste lugar “de conforto e cura”, disse o porta-voz.

O bispo de Lourdes disse à CNA, agência em inglês da EWTN, em fevereiro deste ano, que esta é uma “decisão muito, muito difícil de tomar”. “Mas tenho que conseguir isso”, disse ele.

Autoridade da Santa Sé: “Antecipar uma decisão não é bom”

O prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Paolo Ruffini, defendeu o uso da arte do padre acusado de abusos e que atualmente é investigado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé nos meios oficiais da Santa Sé.

Ele fez isso durante uma conferência em Atlanta, EUA, que reuniu especialistas em comunicações católicas em 21 de junho.

Respondendo às perguntas dos jornalistas sobre o uso da obra de arte de Rupnik no Vatican News, Ruffini disse que ainda não há um veredicto oficial e que "antecipar uma decisão é algo que, em nossa opinião, não é bom".

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Ele disse que utilizaram as imagens que já tinham no passado, sem acrescentar nenhuma nova. “Remover, apagar, destruir a arte nunca foi uma boa escolha”, disse,

Para Ruffini, remover a arte do padre Rupnik “não é uma resposta cristã”, pois, como cristãos, “somos convidados a não julgar”.

Em resposta à jornalista Colleen Dulle da revista jesuíta America Magazine, ele também disse que a cúria jesuíta em Roma não retirou a arte do padre Rupnik da sua capela.

Em declarações à OSV News, ele disse que “é evidente a proximidade da Igreja a qualquer vítima. Mas também está claro que há um procedimento em curso. Então temos que esperar pelo procedimento. Não estamos falando de abuso de menores. Estamos falando de uma história que não conhecemos”.

O caso do padre Rupnik

Num comunicado divulgado em 27 de outubro de 2023, foi noticiado que o papa Francisco decidiu suspender a prescrição do caso do padre Marko Rupnik, acusado de ter cometido graves abusos contra as mulheres, para permitir que um processo seja realizado.

Segundo o comunicado, “em setembro, a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores informou ao papa que havia sérios problemas na forma como o caso do padre Marko Rupnik foi tratado e na falta de proximidade com as vítimas”.

“Consequentemente, o papa Francisco pediu ao Dicastério para a Doutrina da Fé que examine o caso e decidiu derrogar a prescrição para permitir a realização de um julgamento”.

Mais em

O padre Marko Rupnik é acusado de abusos espirituais, psicológicos, sexuais e de consciência, situações que teriam ocorrido por mais de três décadas.

O superior-geral da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa confirmou que o padre Rupnik foi excomungado em maio de 2020 por ter confessado a uma das suas vítimas, medida que foi levantada em muito pouco tempo.

Depois de ter sido expulso dos jesuítas em junho de 2023, Rupnik foi aceita em outubro do mesmo ano por uma diocese da Eslovênia para continuar a exercer o seu ministério sacerdotal e encontra-se atualmente em Roma à espera de um veredicto.