Um dia depois da notícia de que centenas de milhares de católicos deixaram a Igreja na Alemanha em 2023, membros da Santa Sé reuniram-se com representantes do Caminho Sinodal Alemão para discutir os planos para um concílio sinodal permanente.

 

A reunião da última sexta-feira (28) resultou em Roma exigindo que os alemães mudassem o nome do órgão e concordassem que ele não pode ter autoridade sobre, ou ser igual à, Conferência Episcopal.

 

O encontro ocorreu em um momento crítico. Segundo estatísticas oficiais divulgadas pela Conferência Episcopal Alemã na última quinta-feira (27), mais de 400 mil pessoas deixaram oficialmente a Igreja no ano passado.

 

Embora isso represente uma diminuição em relação às 522 mil saídas em 2022, a tendência continua alarmante para líderes da Igreja e católicos como um todo.

 

Atualmente, há 20.345.872 católicos registrados na Alemanha. Se as tendências persistirem, o número pode cair abaixo de 20 milhões em 2024.

 

Além disso, apenas 6,2% dos católicos frequentam a missa de forma regular. Isso se traduz em aproximadamente 1,27 milhão de católicos praticantes em um país de mais de 80 milhões de habitantes.

 

Os novos números oficiais também revelam disparidades significativas na participação na missa em toda a Alemanha.

 

A diocese de Görlitz, na fronteira com a Polônia, lidera com uma taxa de participação de 13,9%, apesar de ser a menor diocese, com menos de 30 mil católicos. Em contraste, a diocese de Aachen, no Reno, no oeste da Alemanha, registra apenas 4,2% dos católicos praticando sua fé regularmente.

 

Uma comparação de 20 anos, divulgada pela Conferência Episcopal Alemã, pinta um quadro sombrio do declínio da Igreja: desde 2003, o número de católicos diminuiu em quase 6 milhões, enquanto a frequência à missa dominical despencou de 15,2% para 6,2%.

 

O número de padres ativos também diminuiu, com 7.593 no ministério pastoral em 2023, contra 7.720 no ano anterior. As ordenações sacerdotais caíram significativamente, de 45 em 2022 para 28 em 2023.

 

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Um relatório de 2021 da CNA Deutsch indicou que um terço dos católicos na Alemanha pensava em deixar a Igreja. As razões para sair variam, com pessoas mais velhas citando a forma como a Igreja lidou com a crise de abusos e pessoas mais jovens indicando maior probabilidade de desfazer seu registro como católicos para evitar o pagamento obrigatório do imposto da igreja, segundo um estudo anterior.

 

A Conferência Episcopal Alemã estipula atualmente que deixar a Igreja resulta em excomunhão automática, uma regulamentação que gerou controvérsia entre teólogos e advogados canônicos.

 

Cientistas da Universidade de Freiburg previram em 2019 que o número de cristãos que pagam impostos sobre igrejas na Alemanha deve cair pela metade até 2060.

 

"Uma forma concreta de sinodalidade"

 

Ao alertar sobre uma ameaça de um novo cisma da Alemanha, a Santa Sé fez uma intervenção em julho de 2022 contra os planos de um concílio sinodal alemão.

 

No contexto do declínio dramático e da divisão interna, a Santa Sé se envolveu em mais uma rodada de discussões com representantes do Caminho Sinodal Alemão na última sexta-feira (28).

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A reunião da última sexta-feira (28) envolveu altos funcionários da Santa Sé e representantes da Conferência Episcopal Alemã.

 

Do lado da Santa Sé, estiveram presentes o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, e quatro prefeitos: cardeal Victor Manuel Fernández, prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé; o cardeal Kurt Koch, prefeito do dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos; o cardeal Robert Prevost, prefeito do dicastério para os Bispos; e o cardeal Arthur Roche, prefeito do dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

 

Aos cardeais juntaram-se o arcebispo Filippo Iannone, prefeito do Dicastério para os Textos Legislativos.

 

Do lado alemão, o bispo de Limburg, dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã; o bispo de Trier, dom Stephan Ackermann; o bispo de Augsburg, dom Bertram Meier e o bispo de Essen, dom Franz-Josef Overbeck, representaram o Caminho Sinodal. A eles se juntaram a secretária-geral da Conferência Episcopal, Beate Gilles, e o diretor de comunicações, Matthias Kopp.

 

As negociações centraram-se na proposta de conselho sinodal, que inicialmente pretendia supervisionar a Igreja na Alemanha permanentemente, mas foi rejeitada pela Santa Sé.

 

Segundo um comunicado de imprensa conjunto, ambos os lados querem "mudar o nome e vários aspectos do projeto anterior". Ambos os lados também concordaram que o conselho sinodal não seria "superior ou igual à conferência episcopal".

 

O encontro teve uma "atmosfera positiva, aberta e construtiva", disse o comunicado, com discussões focadas em equilibrar o ministério episcopal com a corresponsabilidade de todos os fiéis, enfatizando aspectos canônicos do estabelecimento de uma "forma concreta de sinodalidade".

 

"Quem realmente leu essa carta?"

 

O diálogo em curso pode marcar um passo significativo nas negociações entre a Santa Sé e os organizadores do Caminho Sinodal Alemão, depois de repetidas intervenções anteriores do papa Francisco e da Santa Sé.

 

Ambas as partes concordaram em continuar as negociações depois da conclusão do Sínodo da Sinodalidade, em outubro, com planos para abordar mais tópicos antropológicos, eclesiológicos e litúrgicos.

 

Trata-se de um desenvolvimento significativo: em meio ao êxodo contínuo de fiéis, a notícia de que o processo alemão simplesmente não vai se encaixar com o Sínodo da Sinodalidade, em Roma, levanta a questão do propósito geral do processo.

 

Em mensagem de vídeo divulgada no último sábado (29), o arcebispo de Colônia, o cardeal Rainer Maria Woelki, pediu aos católicos alemães que levem a sério as preocupações da Santa Sé. O arcebispo lembrou aos fiéis que o papa Francisco disse "tudo o que tinha que dizer" em uma carta aos católicos alemães há cinco anos.

 

O papa Francisco alertou sobre a desunião na carta de 5,7 mil palavras. Ele também advertiu os católicos alemães a evitarem o "pecado da secularização e uma mentalidade secular contra o Evangelho".

 

Woelki não amenizou o tom em seu vídeo. "Sejamos honestos: quem realmente leu essa carta?".

 

"Devemos cumprir seu desejo tão urgentemente expresso - para nosso próprio bem, mas também para o bem da Igreja na Alemanha, porque só assim ela terá um futuro", disse Woelki ao observar que o papa pediu aos católicos alemães que evangelizem.