A Santa Sé apresentou hoje (9) o Instrumentum Laboris 2, o documento de trabalho que apresenta os temas-chave que guiarão a segunda e última sessão do Sínodo da Sinodalidade, que acontecerá em Roma, em outubro de 2024.

O documento diz que a questão do diaconato feminino “não será tema dos trabalhos da segunda sessão”, mas que “é bom que a reflexão teológica continue, com tempos e modalidades apropriados”.

O documento recorda que, a pedido do papa Francisco, alguns temas atuais estão sendo estudados por um grupo de especialistas e bispos de diversas partes do mundo. Informa também que estes grupos devem concluir os seus trabalhos antes do final de junho de 2025.

Origem do documento

O documento de 52 páginas, elaborado por um grupo de teólogos e aprovado pelo papa Francisco, nasce das reflexões das conferências episcopais, das Igrejas orientais católicas e de outras realidades eclesiais internacionais.

É também resultado dos relatórios apresentados pelos párocos depois do seu encontro em Roma sobre o Relatório Síntese da primeira sessão de outubro de 2023.

Depois da redação durante esta última sessão de um documento final sobre todo o processo feito até o momento, os padres sinodais oferecerão ao papa Francisco "orientações sobre os passos a serem dados e as formas concretas de fazê-lo" em vista da elaboração de uma futura exortação pós-sinodal.

O sínodo “não termina em outubro”

O documento de trabalho diz que o sínodo não termina depois da assembleia de outubro, mas que é “um caminho de conversão e de reforma” que deve continuar em cada uma das realidades da Igreja, e dedica uma seção para esclarecer e definir o termo sinodalidade.

Durante a coletiva de imprensa de hoje, o cardeal Mario Grech, secretário-geral da Secretaria Geral do Sínodo, falou do “entusiasmo pela metodologia sinodal” e disse que na África começou um discernimento teológico pastoral para acompanhar as pessoas em situação de poligamia.

 

Apresentação do Instrumentum Laboris. Crédito: Daniel Ibáñez/ EWTN News.
Apresentação do Instrumentum Laboris. Crédito: Daniel Ibáñez/ EWTN News.

Autoridade na Igreja

Segundo o documento publicado hoje, a sinodalidade “não implica de forma alguma a desvalorização da autoridade particular e da tarefa específica que o próprio Cristo confia aos pastores”.

Ao contrário, continua o texto, “oferece o quadro interpretativo mais adequado para compreender o próprio ministério hierárquico, convidando toda a Igreja, incluindo aqueles que exercem autoridade, à verdadeira conversão e reforma”.

Participação da mulher

Uma seção do Instrumentum Laboris diz que “cresceu a consciência da variedade de carismas e vocações que o Espírito Santo suscita constantemente no Povo de Deus”.

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Por isso, fala da necessidade de discernir e refletir mais profundamente “sobre a questão da participação em relação à comunhão e à missão”.

Para isso, fala de três “direções”: a necessidade de “atualizar” a capacidade de anunciar e transmitir a fé, a renovação da vida litúrgica e sacramental e uma reciprocidade sã e renovada entre homens e mulheres.

Sobre o último, destaca “a necessidade de dar um reconhecimento mais pleno aos carismas, à vocação e ao papel das mulheres em todas as esferas da vida da Igreja”.

Mais em

O documento diz que, “enquanto algumas Igrejas locais pedem que as mulheres sejam admitidas ao ministério diaconal, outras reiteram a sua oposição” e informa que esta questão “não será objeto dos trabalhos da segunda sessão”.

Uma Igreja “não burocrática”

O documento diz que durante o processo sinodal “surgiu o apelo a uma Igreja que não seja burocrática, mas capaz de cultivar relações: com o Senhor, entre homens e mulheres, na família, na comunidade, entre grupos sociais”.

“O caminho percorrido até aqui levou ao reconhecimento de que uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, capaz de acolher e acompanhar, de ser percebida como casa e família”, diz.

O cansaço e a fadiga de bispos e sacerdotes

O Instrumentum Laboris também se refere ao “cansaço” de bispos e sacerdotes, resultado da dificuldade de “caminhar verdadeiramente juntos no ministério partilhado”.

Propõe a sinodalidade como “uma oportunidade de libertação destas fadigas”, ao mesmo tempo que diz que “este caminho de conversão implicará uma nova forma de pensar e organizar a ação pastoral, que leve em conta a participação de todos os batizados”.

O documento apela à corresponsabilidade laical e destaca que o ministério episcopal não deve ser “monárquico”, concebido como uma acumulação de prerrogativas “das quais deriva qualquer outro carisma e ministério”.

Transparência e clericalismo

O documento diz que o clericalismo é a consequência da falta de transparência e de responsabilidade quando os ministros ordenados “não são responsáveis diante de ninguém pelo exercício da autoridade que lhes é atribuída”.

Também diz que isso não se limita apenas aos abusos ou ao âmbito financeiro, mas inclui também planos pastorais, métodos de evangelização ou o respeito da Igreja pela dignidade da pessoa humana.

Papa Francisco, “garantidor da sinodalidade”

O texto diz que o bispo de Roma é o “princípio visível da unidade de toda a Igreja”, bem como “o garantidor da sinodalidade”.

 “Cabe a ele convocar toda a Igreja à ação sinodal, convocando, presidindo e confirmando os resultados dos Sínodos dos Bispos; cabe a ele garantir que a Igreja cresça em estilo e forma sinodal”, diz o Instrumento Laboris.