A diocese de Roma encerrou no mês passado a investigação sobre as virtudes e a reputação de santidade de Chiara Corbella Petrillo, esposa e mãe que morreu de câncer em 2012 aos 28 anos de idade ao adiar o tratamento da doença até depois do nascimento de seu filho.

Chiara é conhecida por sua alegria e fé simples, que perseveraram mesmo tendo perdido seus dois primeiros filhos logo depois do nascimento.

“Uma das características fundamentais da fé de Chiara: ela nunca foi ostentosa, não era alguém que saía por aí dizendo 'eu sou boa' ”, disse o pai de Chiara, Roberto Corbella, à CNA, do grupo EWTN, a que pertence ACI Digital, na cerimônia de encerramento da fase diocesana de sua causa de beatificação na arquibasílica de São João de Latrão em 21 de junho.

Com o encerramento da fase diocesana, testemunhos documentados e outros materiais serão agora enviados ao dicastério para as Causas dos Santos da Santa Sé para um exame mais aprofundado. O próximo passo no processo será o papa reconhecê-la como alguém que viveu uma vida de virtude heroica e declará-la venerável.

Chiara estava “sempre sorrindo, adorava uma brincadeira… sempre pronta para encontrar o lado alegre das coisas. E ela não se levava muito a sério”, diz Corbella.

“O fato de vermos que tantas pessoas no mundo contam com ela nos ajuda a aceitar melhor [sua morte], no sentido de que fica claro que eu preferiria... ainda tê-la sentada no meu colo”, disse Corbella com lágrimas nos olhos. “Mas ver tantas pessoas pedindo sua ajuda certamente nos faz aceitar tudo muito melhor.”

Segue abaixo a entrevista completa da CNA com Roberto Corbella.

Quem foi Chiara?

Acho que Chiara era a filha que todos gostariam de ter: uma criança muito alegre, muito atenta a tudo ao seu redor, às pessoas, mas também aos animais, às coisas. Ela era muito curiosa e cuidava de tudo ao seu redor. Sempre sorrindo, adorava uma brincadeira, então sempre pronta para encontrar o lado alegre das coisas. E ela não se levava muito a sério.

O senhor tem alguma lembrança favorita com Chiara?

Tenho muitas lembranças lindas. Talvez o momento que sempre lembro com mais alegria é depois do almoço, quando Chiara tinha o hábito de sentar no meu colo. Ela fazia isso mesmo quando adulta, mesmo depois de casada. Quando ela vinha almoçar em nossa casa, depois do almoço. Era sua maneira de demonstrar afeto.

Depois de ver sua filha passar por grande sofrimento junto com o marido, Enrico, sua perspectiva sobre dor e sofrimento mudou?

Chiara sempre foi muito cuidadosa para não nos deixar vê-la sofrer. Quando ela se sentia muito mal durante sua doença, voltava para seu quarto dizendo que não estava se sentindo muito bem. Ela nunca reclamava, nunca nos deixava ver. Na verdade, ela minimizava o que estava passando, então só percebemos parcialmente qual era sua situação real. Mas certamente, sim, ela me ensinou a entender que tudo é relativo na vida. Nós reclamamos todo dia, "Está tão quente hoje", todo mundo reclama. E então, em pouco tempo, reclamamos que está muito frio. Existem algumas coisas que fazem parte da vida que são naturais. Chiara foi capaz de suportá-las, claramente por causa de sua grande fé.

Como é ter uma filha que agora é conhecida no mundo todo por sua fé?

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Eu sempre digo que somos pais sortudos, porque todos os dias, ao assistir ao noticiário, ouvimos falar de crianças que morreram em situações de violência... Ela nos deixou com um sorriso, ela foi embora depois de nos dizer a todos: "Eu amo vocês".

Então, ver que tanta gente no mundo conta com ela, nos ajuda a aceitar melhor, no sentido de que fica claro que, em vez de estar aqui hoje fazendo isto, eu preferia ainda tê-la sentada no meu colo. Mas ver tanta gente pedindo a ajuda dela certamente nos faz aceitar tudo muito melhor.

Roberto Corbella no encerramento da fase diocesana da investigação da causa de beatificação da filha, Chiara Corbella, na basílica de são João de Latrão em Roma em 21 de junho de 2024. Daniel Ibáñez/CNA
Roberto Corbella no encerramento da fase diocesana da investigação da causa de beatificação da filha, Chiara Corbella, na basílica de são João de Latrão em Roma em 21 de junho de 2024. Daniel Ibáñez/CNA

Essa experiência mudou alguma coisa para o senhor e sua experiência com Deus, com a fé e com a Igreja?

Bem, sim. Eu sempre digo que eu era o mais secular da família, porque Chiara, sua irmã, sua mãe, elas sempre iam à igreja. Eu era um dos que o papa Francisco chama de “católicos de domingo”. Eu ia à missa, mas eu fazia apenas o esperado, embora não estivesse particularmente motivado. Muitas vezes me pego questionando. A estrada é muito longa, pelo menos para mim, então estou tentando aprender.

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Como eram a fé e a oração de Chiara? Especialmente porque ela fazia parte de um mundo e de uma geração que pratica cada vez menos a fé.

Eu diria que [Chiara viveu a fé] de forma muito simples e muito natural. Desde muito pequena, sua mãe a levou, junto com sua irmã, para um grupo de oração. Então ela cresceu nesse grupo de crianças que se reuniam regularmente, rezavam e assim por diante, e assim ela desenvolveu uma fé interior muito forte. Tanto ela quanto sua irmã encontravam tempo para se dedicar à oração todos os dias. Elas se trancavam em seu quarto em silêncio. Era mais uma oração de escuta do que uma oração verbal. Isso a marcou por toda a sua vida. Depois houve evoluções: na vida adulta, durante o período de seu relacionamento [com o futuro marido Enrico], ela buscou apoio nos frades em Assis. Lá ela fez cursos vocacionais com o [centro juvenil] e... Lá ela voltou para dar palestras de testemunho depois de perder seu primeiro filho. E lá ela voltou quando estava em crise com Enrico [durante o noivado], e então lá eles se casaram. Então ela amadureceu. Mas uma das características fundamentais da fé de Chiara: ela nunca foi ostentosa, não era alguém que andava por aí dizendo “eu sou boa...”

Ela tinha relacionamentos com todo mundo, até mesmo com pessoas absolutamente contrárias à fé. E ela não desconsiderava [a falta de fé deles], mas não julgava nem criticava ninguém. Foi mais o exemplo dela, o saber ouvir, que causou impacto. Então, uma fé simples. Ela era muito simples: calça jeans, uma camiseta. Comparada com a irmã ou a mãe, sua maquiagem levava 30 segundos, então ela sempre era muito rápida. Acho que é isso que é mais transmitido, especialmente para os jovens. Hoje, Chiara é apreciada porque a veem como uma deles. Eu sempre digo que se ela ainda estivesse aqui hoje, ela se misturaria com os outros.

Qual é a mensagem que Chiara gostaria de divulgar ao mundo e que o senhor leva em seu coração?

Eu diria que talvez a mensagem mais relevante nestes tempos seja a mensagem de paz. Chiara, quando criança, vivenciou a guerra na Iugoslávia. Ela era muito pequena, via as notícias na televisão e ficava muito chateada ao ver as pessoas que foram afetadas. Então, hoje ela teria dificuldade em aceitar o que está acontecendo ao redor do mundo em tantos lugares e que infelizmente muitas pessoas ajudam a alimentar. Portanto, acho que precisamos diminuir as tensões e tentar pensar na paz.

Como está o filho vivo de Chiara, Francesco?

Francesco fez 13 anos recentemente e já é tão alto quanto a avó... Ele é muito parecido com Chiara. Quando ele era bem pequeno, não só fisicamente, mas seus dons, suas características, suas habilidades criativas, e assim por diante. Fora isso, ele é um garoto de 13 anos, tão bagunceiro e acostumado a fazer o que garotos de 13 anos fazem. Mas um neto legal. Também temos outros três netos.