O bispo de Katsina, Nigéria, dom Gerald Mamman Musa, trabalha para construir pontes entre cristãos e muçulmanos, tarefa especialmente difícil na Nigéria, que está entre os dez países do mundo onde os cristãos são mais perseguidos.

Segundo a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), dom Musa se tornou o primeiro membro da etnia hausa a ser ordenado bispo. A ACN destaca que o termo em latim para bispos da Igreja, Pontifex, significa “construtor de pontes”, título “especialmente apropriado” para o bispo nigeriano.

O bispo lidera a diocese de Katsina, criada no norte da Nigéria no ano passado. A grande maioria dos hausas são muçulmanos, como o seu pai, que se converteu ao cristianismo aos 12 anos, mas “precisava da perseverança de um adulto” para caminhar na fé.

“A Sociedade dos Missionários da África fundou uma escola que meu pai teve o privilégio de frequentar, mas as atividades missionárias lá não duraram muito”, disse dom Musa.

“A escola fechou e a missão também, o que fez com que um bom número de convertidos ao cristianismo voltassem ao islamismo. Pelo que sei, meu pai foi o único que permaneceu cristão”, disse o bispo.

Seu pai se tornou catequista e colaborou na tradução da Bíblia e de outros textos religiosos para o dialeto hausa. “Meu pai disse que viu algo diferente no cristianismo”, contou dom Musa.

“O amor que os missionários demonstraram por ele, o amor do qual ele fez parte e a educação mudaram completamente sua vida”, disse.

A fé de seu pai nunca foi uma fé irracional. Na verdade, ele “estudou o seu conteúdo e a diferença entre ela e as outras, tanto as crenças tradicionais como o islã. Para ele, a diferença era clara”, acrescentou dom Musa.

A situação na sua diocese

A perseguição contra os cristãos na Nigéria piorou nos últimos anos. Mesmo dentro das famílias, os muçulmanos desconfiam dos cristãos. A ACN denuncia a proliferação do islamismo radical.

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Por isso, dom Musa hesitou em informar sua família sobre a sua nomeação episcopal. Mas, ficou surpreso com a reação deles ao saber da notícia: até mesmo pessoas de cidades vizinhas foram parabenizá-lo.

“Achei que a diferença religiosa os impediria de vir, mas vieram em grande número e muito felizes. Pude ver a felicidade em seus rostos, isso foi graça de Deus”, disse.

“Não só os meus familiares, mas também os meus colegas da escola primária, 95% muçulmanos – com quem mantenho contato – enviaram cinco representantes para a ordenação”, contou o bispo.

Dom Musa considera essas experiências uma espécie de debate inter-religioso e destaca que o diálogo social da vida cotidiana prevalece na diocese de Katsina.

“Muçulmanos e cristãos vivem como vizinhos e coexistem pacificamente”, disse.

Embora o Estado de Katsina tenha adotado a sharia [lei religiosa islâmica] há alguns anos, o bispo disse que a Nigéria é uma nação diversificada na qual convergem diferentes religiões.

Dom Musa falou sobre a importância de adotar um sistema jurídico unificado que “incorpore os nossos valores culturais e religiosos em prol da unidade nacional”.

O bispo disse que é necessário combater a corrupção no país, para que a lei seja eficaz. “Nem a lei sharia nem a lei canônica podem ser eficazes se os cidadãos não respeitarem as leis civis”, acrescentou.

Os nigerianos são cada vez mais atraídos por um Estado de direito sólido, em que “elementos cruciais da lei não são negligenciados em favor de práticas religiosas superficiais”, disse dom Musa.

“A corrupção e a desigualdade persistem porque há indivíduos que se consideram acima da lei”, disse. Ele concluiu defendendo mais uma vez um quadro jurídico comum que promova a verdadeira justiça, amor e paz.

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