O papa Francisco escreveu o prefácio de Mulheres e Ministérios na Igreja Sinodal, livro de três teólogas e dois cardeais que participaram da reunião do Conselho de Cardeais, conhecido como C9, em fevereiro.

A salesiana Linda Pocher, professora de Cristologia e Mariologia da Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação Auxilium em Roma; autora da introdução do livro; Jo Bailey Wells, bispa anglicana e subsecretária geral da Comunhão Anglicana; e Giuliva Di Berardino, virgem consagrada da diocese de Verona, Itália, liturgista, professora e organizadora de cursos de espiritualidade e exercícios espirituais, são as teólogas.

Os cardeais são o arcebispo de Luxemburgo, o jesuíta Jean-Claude Hollerich, relator geral do Sínodo da Sinodalidade; e o arcebispo de Boston, EUA, o cardeal Seán Patrick O’Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores. Hollerich disse no ano passado que “com o tempo” o papa poderia permitir a ordenação de mulheres.

Prefácio do papa Francisco

O prefácio foi publicado na íntegra no jornal L'Osservatore Romano, da Santa Sé.

O papa diz no texto que "o drama dos abusos nos obrigou a abrir os olhos para a praga do clericalismo, que não diz respeito apenas aos ministros ordenados, mas também a uma forma distorcida de exercer o poder dentro da Igreja, na qual todos podem cair: até os leigos, até as mulheres".

“Um certo sofrimento das comunidades eclesiais quanto à maneira como o ministério é compreendido e vivido não é uma realidade nova”, escreveu o papa.

“Ouvindo-as sem julgamento e sem preconceitos, percebemos que em muitos lugares e em muitas situações elas sofrem justamente pela falta de reconhecimento do que são e do que fazem e também do que poderiam fazer e ser se tivessem o espaço e a oportunidade”.

“As mulheres que mais sofrem são muitas vezes as mais próximas, as mais disponíveis, as mais preparadas e prontas para servir a Deus e ao seu Reino”, escreve Francisco.

“A realidade, porém, é sempre maior que a ideia”, afirma o papa, “e quando nossa teologia cai na armadilha de ideias claras e distintas, ela inevitavelmente se transforma em um leito de Procusto, que sacrifica a realidade, ou parte dela, no altar da ideia”. Procusto é um personagem da mitologia grega que cortava as pernas das pessoas ou as esticava por meio de cordas, para que se adaptassem ao tamanho de uma cama de ferro.

As mulheres na Igreja e o diaconato feminino

A questão das mulheres na Igreja aparece no Instrumentum Laboris para a segunda fase do Sínodo da Sinodalidade, que vai ocorrer em outubro no Vaticano.

O texto destaca “a necessidade de dar maior reconhecimento” aos carismas e vocações das mulheres que, “em virtude do Batismo estão em condição de plena igualdade, recebem a mesma efusão de dons do Espírito e são chamadas ao serviço da missão de Cristo”.

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“Neste momento o debate sobre esta questão [o diaconato feminino] está muito acalorado e estão surgindo diversas publicações científicas do ponto de vista teológico que abordam este tema e as posições são muito diversas”, disse a irmã Laura Pocher em entrevista à EWTN News. “Há muitas posições sobre isso e o papa também se expressou em uma entrevista dizendo que não planeja ordenar mulheres”.

Respondendo a uma pergunta em entrevista à rede de televisão americana CBS News em maio sobre se uma católica poderia se tornar diaconisa ou sacerdote, o papa Francisco disse “não”.

“Três possibilidades” para as mulheres na Igreja

“No entanto, as possibilidades são fundamentalmente três”, disse Pocher. “A primeira é não fazer nada e continuar como estamos. Alguns acreditam que essa é a melhor opção, porque sabem que nos primeiros séculos havia diaconisas, mas com as fontes que temos não é possível reconstruir exatamente em que consistia esse diaconato”.

A segunda possibilidade mencionada pela teóloga salesiana é “uma forma de diaconato sem ordenação, porque é importante do ponto de vista institucional reconhecer o serviço das mulheres na Igreja e assim dar uma forma de ministérios na idade estabelecida”.

“A terceira possibilidade, a mais radical, é dar também às mulheres a possibilidade de serem ordenadas diaconisas. Assim como temos diáconos, homens casados ​​que não são padres”, disse ela.

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Então, disse Pocher, “um diaconato ordenado que não deveria ser por isso um primeiro passo para a ordenação sacerdotal, mas que permitiria um serviço reconhecido dentro da Igreja, por exemplo na liderança de comunidades”.

Respondendo se o assunto foi discutido na reunião do papa com o C9 em fevereiro, Pocher disse que sim, embora “não seja uma possibilidade na agenda do Sínodo e o papa não seja muito favorável, porque essa questão da ordenação de mulheres é um pouco como o elefante na sala”.

Na opinião da teóloga, “nem todos pensam nisso, mas muitas vezes não há coragem de falar porque é uma questão muito conflituosa e nos pareceu que no espírito com que o papa guia estas reuniões do concílio (C9) era importante colocar as coisas difíceis sobre a mesa”.

Papa Francisco e as diaconisas na Igreja

Embora o tema do diaconato feminino não apareça no Instrumentum Laboris 2, o secretário geral do Sínodo, o cardeal Mario Grech, secretário geral do Sínodo, disse em entrevista coletiva em 9 de julho que o papa Francisco pediu ao dicastério para a Doutrina da Fé que estudasse a participação e a liderança das mulheres na Igreja Católica, incluindo a possibilidade de mulheres diaconisas, para publicar um documento sobre o assunto.

Antes dessa designação para o dicastério para a Doutrina da Fé, o papa Francisco havia criado duas comissões para estudar as diaconisas na Igreja Católica: uma em 2016 ; que foi encerrada sem chegar a um consenso; e a segunda em 2020 ; depois da maioria dos participantes do Sínodo da Amazônia se manifestar a favor da questão.

Em Querida Amazônia, exortação apostólica do papa Francisco publicada depois do Sínodo da Amazônia de 2019, o papa encorajou as mulheres a participar da Igreja, mas não dos ministérios ordenados do diaconato ou do sacerdócio.