17 de jul de 2024 às 10:35
Artistas, ativistas e líderes católicos e não católicos assinaram uma carta para pedir ao papa Francisco que se abstenha de quaisquer restrições adicionais à missa tradicional.
A carta publicada na segunda-feira (15) e intitulada “Uma Carta Aberta das Américas ao Papa Francisco” chama a missa em latim anterior à reforma do Concílio Vaticano II (1962-1965) de uma “magnífica conquista da civilização” e “parte da herança cultural comum da humanidade”.
O arcebispo de São Francisco, EUA, dom Salvatore Cordileone, que apoiou abertamente uma carta semelhante defendendo a missa em latim publicada no Reino Unido em 2 de julho, apoiou a carta das Américas, publicando-a em sua conta na rede social X.
Entre os signatários estão Dana Gioia, ex-presidente do National Endowment for the Arts, que organizou a carta através do Benedict XVI Institute; Frank La Rocca, compositor do álbum de música sacra Mass of the Americas (Missa das Américas); David Conte, presidente e professor de composição no Conservatório de Música de São Francisco; Larry Chapp, teólogo e fundador da Dorothy Day Workers Farm; Eduardo Verástegui, produtor de cinema e ator mexicano; Nina Shea, defensora internacional da liberdade religiosa; e o escritor Andrew Sullivan.
Os autores da carta pedem respeitosamente que “nenhuma outra restrição seja imposta à missa tradicional em latim, para que ela possa ser preservada para o bem da Igreja Católica e do mundo”.
O que é a missa em latim e o que está acontecendo?
A missa em latim, também conhecida como a missa segundo o missal romano de 1962, foi codificada depois do concílio de Trento no século XVI.
Embora não tenha proibido a liturgia em latim, a Santa Sé restringiu significativamente seu uso nos últimos anos. O papa Francisco emitiu o motu proprio Traditionis custodes que impôs restrições às missas em latim em julho de 2021.
Os autores da carta ao papa reconhecem a sacralidade da missa segundo o novus ordo, publicado depois do Vaticano II. Os signatários católicos prometem explicitamente sua contínua “lealdade filial” ao papa.
No entanto, os signatários se esforçam para defender seu caso na carta: “Privar a próxima geração de artistas desta fonte de mistério, beleza e contemplação do sagrado parece uma visão curta”.
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“Vamos a vós com a humildade e a obediência, mas também com a confiança de crianças, ao contar a um pai amoroso sobre nossas necessidades espirituais”, escreveram os autores. “Todos nós, crentes e não crentes, reconhecemos que essa antiga liturgia, que inspirou o trabalho de Palestrina, Bach e Beethoven e gerações de grandes artistas, é uma magnífica conquista da civilização e parte da herança cultural comum da humanidade. É um remédio para a alma, um antídoto ao materialismo grosseiro da era pós-moderna”.
'A beleza evangeliza'
Dom Cordileone disse em artigo de opinião publicado em 8 de julho no jornal National Catholic Register, do grupo EWTN a que pertence ACI Digital, que a beleza da missa em latim é uma parte importante do ministério da Igreja em uma "era descristianizada que está se tornando cada vez mais inóspita para qualquer senso tradicional de religião".
O bispo destacou a doutrina do concílio Vaticano II sobre a importância de ler os sinais dos tempos, ao dizer que “Um sinal que está diante de nós agora mesmo em grandes letras maiúsculas é: a beleza evangeliza”.
“Vivemos em uma época em que precisamos alavancar o poder da beleza para tocar mentes, corações e almas, pois a beleza tem a qualidade de uma experiência inescapavelmente real, que não está sujeita a argumentos... Em uma época de ansiedade e irracionalidade, a beleza é, portanto, um recurso amplamente inexplorado para alcançar as pessoas, especialmente os jovens, com a mensagem de esperança do Evangelho”, escreveu Cordileone.
Shea falou sobre sua decisão de assinar a carta, ao enfatizar que a missa em latim é “parte de nossa herança cultural” em declaração à CNA, agência em inglês da EWTN.
Shea diz que uma de suas experiências mais memoráveis com a missa em latim foi participar de uma liturgia celebrada pelo cardeal chinês Ignatius Kung logo depois de ser libertado de uma prisão comunista onde estava preso há 33 anos.
“Ele não falava inglês, mas conseguimos nos unir em nossas orações por meio de nossa antiga língua litúrgica compartilhada e de uma forma que não era desconhecida para mim”, disse ela.
“Eu não costumo ir a missas em latim, mas aprecio sua beleza e o pensamento de que meus ancestrais adoravam dessa forma há séculos”, disse Shea. “Acho que nós, católicos, deveríamos aprender e preservar nossas principais tradições antigas transmitidas através dos tempos. Nada é mais central para essa tradição do que a prática litúrgica.”