“Adestrar missionários? Essa seria a pior coisa a se fazer. Não se pode aprisionar o Espírito Santo”, disse o secretário do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, monsenhor Lucio Adrian Ruiz, aos participantes do 1º Encontro Nacional de Missionários Digitais que aconteceu no sábado (13) em Aparecida (SP).

Monsenhor Ruiz respondia ao missionário Alam Carrion, influenciador católico que tem 660 mil seguidores no Instagram. “A pergunta nasceu da desconfiança que algumas páginas católicas lançaram sobre o evento e que poderia ter deixado os próprios missionários em dúvida”, disse Carrion ontem (16) à ACI Digital. “Foi no sentido justamente de saber as reais intenções dessa aproximação e tranquilizar tanto os bispos quanto os missionários”.

Com o tema “Lançai vossas redes” e o lema “Do Like ao Amém”, o encontro foi organizado pela comissão episcopal para a comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) teve a participação de cerca de 80 pessoas.

Além de Alam Carrion, alguns dos maiores influenciadores católicos leigos estavam presentes, como o cantor Joaquim, com 384 mil seguidores na mesma rede, Ana Luísa Brochi, que tem 381 mil seguidores em seu perfil sobre moda modesta, noivado e rotina e Guilherme Cadoiss, que tem 191 mil seguidores no perfil Santa Carona, que se propõe a ensinar a “doutrina católica sem neura”.

Dirigido aos leigos, o evento não contou alguns dos maiores influenciadores católicos, que são padres, como frei Gilson, que tem mais de 4,4 milhões de seguidores e padre Paulo Ricardo, que tem mais de 2,1 milhões de seguidores.

Do lado da hierarquia, estavam no encontro o bispo de Guarapuava (PR), dom Amilton Manoel da Silva, o referencial para os Missionários Digitais da CNBB, e o bispo de Campo Lindo (SP), dom Valdir Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB. Monsenhor Ruiz veio especialmente de Roma como representantes da Santa Sé.

Depois de missa na Capela dos Apóstolos do Santuário Nacional Aparecida, celebrada pelo bispo de Oeiras (PI), dom Edilson Soares Nobre, os missionários digitais tiveram uma palestra do Guilherme Cadoiss. Ele é o representante no Brasil do projeto “A Igreja te Escuta” do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé. O projeto visa fazer as conferências episcopais fomentar a discussão sobre o que são os missionários digitais e aproximá-los das conferências.

Missa do 1º Encontro Nacional de Missionários Digitais em Aparecida (SP) - Lançai vossas redes. Crédito: CNBB.
Missa do 1º Encontro Nacional de Missionários Digitais em Aparecida (SP) - Lançai vossas redes. Crédito: CNBB.

Para Cadoiss, não há interesse de regulamentação de parte da Santa Sé, mas há um interesse de aproximação e unidade. “As três partes estavam muito ansiosas e desejosas de que essa aproximação acontecesse”, disse Cadoiss à ACI Digital. “Não um interesse institucional, queriam como filhos da Igreja mesmo”, disse.

Apreensão dos influenciadores

O próprio dom Valdir buscou dissipar a apreensão dos influenciadores de que a CNBB e a Santa Sé estivessem querendo “enquadrá-los”, disse Cadoiss. “Ninguém se sente enquadrado por participar de uma paróquia, ninguém se sente enquadrado por pertencer a uma diocese”, disse o bispo aos influenciadores. “E ninguém chama isso de adestramento”.

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A preocupação vem de manifestações anteriores do clero. O bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Joaquim Mol, presidiu a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB de 2019 a 2023. Nesse período, dom Mol encomendou a cinco pesquisadores um estudo sobre o assunto, que foi publicado em fevereiro deste ano no livro Influenciadores Digitais Católicos: Efeitos e Perspectivas pelas editoras Ideias & Letras e Paulus.

Na apresentação do livro, dom Mol diz que “ainda que haja exceções, a expressão de conteúdos de IDCs [influenciadores digitais católicos] analisados se detém na construção de estereótipos, baseados em premissas moralistas, fundamentalistas, dogmáticas, psicologistas, doutrinais”.

Para ele, “emerge um cristianismo apenas de fórmulas e não de sentido, que leva à caracterização de grupos conservadores, com discursos excludentes e destrutivamente críticos em relação à linha institucional da Igreja, seja em nível mundial ou no Brasil, representada pela CNBB”.

Segundo Cadoiss, as falas de dom Mol, “inapropriadas para o momento, não ajudaram para a situação do Brasil, não promoveram comunhão nem união em lugar nenhum”. Para ele é importante ressaltar que “dom Mol não é mais o referencial para a comunicação. Hoje é dom Valdir que assume essa função. Aquilo ali está fora do contexto”. Dom Mol não participou do encontro.

Quem são os missionários digitais?

O termo missionário digital surgiu no número 17 do Relatório Síntese do Sínodo da Sinodalidade 2023 que trata sobre os missionários no ambiente digital.

1º Encontro Nacional de Missionários Digitais em Aparecida (SP). Crédito: CNBB.
1º Encontro Nacional de Missionários Digitais em Aparecida (SP). Crédito: CNBB.

Para Cadoiss, “o missionário digital é aquele que produz conteúdo católico, evangeliza diretamente na internet. Desde o menino que tem 9 mil seguidores até o frei Gilson, todos são missionários digitais”.

No encontro, monsenhor Ruiz disse que ser missionário “não é um trabalho, não é uma atividade, é uma vocação”.

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“É uma vocação intrínseca da Igreja”, disse o enviado da Santa Sé. “Chamar vocês de missionários conecta vocês com o fluxo missionário da Igreja de sempre”.

Para tentar abarcar a maior diversidade possível, foram convidados missionários de todas as regiões do Brasil, de todas as idades, desde os nove anos até quase 50 anos. “Desde o missionário que faz dancinhas, até especialista em liturgia, teólogos, público muito diverso. Todas as experiências possíveis de ser católico online”, disse Cadoiss.