22 de jul de 2024 às 13:36
A serva de Deus Vitória da Encarnação, “em vista da sua vocação e missão de vida consagrada, dedicava tempo especial à oração, meditação e contemplação. Nós devemos imitá-la. Em um mundo marcado por tantos desafios, é importante encontrarmos tempo para a oração”, disse o arcebispo de Salvador (BA) e primaz do Brasil, cardeal Sérgio da Rocha, ao celebrar os 309 anos da morte da freira baiana, que está em processo de beatificação.
A missa pelos 309 anos da morte de madre Vitória da Encarnação foi celebrada na sexta-feira (19), na igreja do Convento do Desterro, em Salvador, onde a religiosa viveu e morreu com fama de santidade. “Quem vai crescendo na devoção a esta serva de Deus sente o chamado para ainda mais vivenciar a oração de vida pessoal e em comunidade”, disse dom Sérgio da Rocha.
O arcebispo também apresentou a serva de Deus como “um exemplo de caridade”, ao recordar que a madre viveu a caridade “primeiramente entre as irmãs, mas sobretudo com os pobres”.
“Não há santo que tenha vivido sem a caridade. Jesus quer de nós, hoje, a misericórdia. Não basta o puro cumprimento das leis: se faltar a caridade, se faltar a misericórdia, nós não estaremos cumprindo a própria lei”, disse.
Ao final da celebração o cardeal Sérgio da Rocha e os fiéis presentes se dirigiram até o túmulo onde estão os restos mortais da religiosa e rezaram por sua beatificação.
Serva de Deus Vitória da Encarnação
Madre Vitória da Encarnação nasceu em 6 de março de 1661, em Salvador, filha de Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe. Teve um irmão e três irmãs.
Em 1677, quando foi fundado o Convento de Santa Clara, em Salvador, seu pai queria que ela entrasse para a vida religiosa. Na época, ela tinha 16 anos, e não aceitou.
Alguns anos depois, conta a biografia da serva de Deus publicada no site da arquidiocese, Vitória começou a ter sonhos com Nossa Senhora e o Menino Jesus, que a chamavam para a vida religiosa. Mas, manteve-se firme na recusa.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
Em uma noite de 1686, aos 25 anos, Vitória sonhou que estava “nos porões sujos e cheios de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar”. “Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas, que caminhavam para a perdição, enquanto que na parte de cima da embarcação havia muitos religiosos contentes, pois caminhavam para a salvação. Seu anjo da guarda então lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto que os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição”.
Depois desse sonho e de pensar em sua vida, decidiu fazer a vontade de Deus. Em 29 de setembro do mesmo ano, Vitória foi acolhida no noviciado das clarissas no Convento do Desterro, junto com sua irmã Maria da Conceição. Recebeu o nome religioso Vitória da Encarnação e fez sua profissão solene em 21 de outubro de 1687.
No convento, buscava se fazer “a menor de todas e aquela que servia a todas”. “Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava a adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro”. Viveu dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de ajuda. “Doou em vida tudo o que possuía aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando então a dormir no chão sobre uma esteira de palha”.
Segundo sua biografia, a madre Vitória da Encarnação “se transfigurava quando fazia a via-sacra, todas as sextas-feiras do ano”. Querendo “imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos”, usava cilícios e disciplinas duríssimas. Fazia jejuns rigorosos e, quando comia algo que lhe agradava o paladar, colocava cinzas para estragar o sabor.
“Amou tanto as almas do purgatório que sufragava-as diariamente com orações”, diz a biografia. Também tinha o dom de “sonhar com as pessoas necessitadas e, em seguida, enviar ajuda” e “o dom da revelação e profecia”.
Madre Vitória da Encarnação morreu em 19 de julho de 1715, uma sexta-feira, às 15h, com fama de santidade. Em 1720, o arcebispo de Salvador, dom Sebastião Monteiro da Vide, publicou em Roma a biografia “História da Vida e Morte da Madre Sóror Victória da Encarnação”.
Em 7 de julho de 2019, a então Congregação para a Causa dos Santos da Santa Sé (hoje, dicastério) autorizou a abertura da causa de beatificação da madre Vitória. Em 19 de novembro do mesmo ano, aconteceu a cerimônia de abertura do processo de beatificação e canonização da madre Vitória da Encarnação.
“A causa se encontra em encerramento da fase diocesana, então já vamos ter uma data próxima para finalizar a parte de documentação. Tivemos dificuldade com documentação histórica, mas conseguimos provas que, de fato, a madre Vitória existiu, bem como relatos de graças alcançadas por intercessão dela. Nessa fase nós também ouvimos testemunhas, pessoas que atestam a fama de santidade dela”, disse o professor Thiago Felipe, que faz parte da comissão histórica da causa, ao final da missa na sexta-feira.