Um padre na Alemanha afastou um coroinha e leitor de suas funções por que ele trabalha para o partido Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão). O partido anunciou medidas legais, mas a arquidiocese apoia a decisão do padre.

No início de julho, o pároco Ralf Dunker informou a Julian-Bert Schäfer, de 20 anos, que ele não poderia mais servir como coroinha, leitor e organista na paróquia de São Francisco de Assis em Hamm, no noroeste da Alemanha. Dunker citou o envolvimento ativo de Schäfer com a AfD como incompatível com essas funções voluntárias.

Embora as pesquisas tenham mostrado o AfD como o segundo partido mais popular na Alemanha, o partido é descrito na mídia como um grupo populista, de direita, ou de extrema-direita.

O coroinha é membro da AfD há quatro anos e gerente do escritório do partido no conselho da cidade de Hamm.

"É ultrajante que um padre decida arbitrariamente, sem consultar a equipe pastoral, quais convicções políticas são compatíveis com a participação na vida da Igreja", disse Schäfer em declaração no Facebook. "Essa exclusão não é apenas uma violação dos meus direitos como crente, mas também uma traição aos princípios de tolerância e respeito que a Igreja prega".

 Schäfer disse que a contestação se basearia no artigo relevante da Lei Básica, "que garante a igualdade perante a lei".

A arquidiocese de Paderborn apoia firmemente a decisão de Dunker.  "Com base na declaração da Conferência Episcopal Alemã (...), justifica-se informar a um funcionário ativo da AfD que ele não pode exercer um cargo voluntário na paróquia católica", disse um porta-voz da arquidiocese segundo o portal de notícias católico alemão katholisch.de.

A Conferência Episcopal Alemã (DBK, na sigla em alemão) tomou uma posição clara contra a AfD. Em fevereiro, a organização publicou uma declaração sobre o nacionalismo que dizia: "Os partidos extremistas de direita e aqueles que estão na órbita dessa ideologia (...) não podem ser um lugar de atividade política para os cristãos, que não podem votar neles".

Pressão contra membros católicos da AfD

O caso do acólito demitido não é um incidente isolado. Em maio, o bispo de Trier, dom Stephan Ackermann, confirmou a demissão de Christoph Schaufert, um parlamentar estadual da AfD, de um conselho administrativo paroquial. "O exercício de mandatos políticos para a AfD é incompatível com o exercício do cargo eleito no conselho administrativo de uma paróquia na diocese de Trier", disse Ackermann.

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Durante os protestos contra um congresso do partido AfD em Essen em julho, o padre Klaus Pfeffer, vigário geral de Essen, elogiou o evento.

No entanto, a popularidade da AfD aumenta, com pesquisas recentes mostrando cerca de 20% de apoio em todo o país, tornando-a a segunda força política mais forte atrás da União Democrata Cristã (CDU) de centro-direita. Nos Estados no leste da Alemanha, onde eleições importantes estão marcadas para este ano, a AfD tem mais de 30% de apoio em pesquisas na Saxônia, Turíngia e Brandemburgo.

Essa ascensão reflete tendências europeias mais amplas, em que partidos críticos da migração em massa, do islamismo e das ideologias de esquerda ganham terreno, como o Reunião Nacional de Marine Le Pen na França e o Partido da Liberdade de Geert Wilders na Holanda.

Para a Igreja na Alemanha, a força crescente da AfD é um desafio complicado. Os líderes da Igreja se opuseram inequivocamente ao partido, mas alguns católicos apoiam – e são membros – da AfD.

À medida que a Alemanha se aproxima de sua próxima eleição federal em 2025, e com eleições estaduais críticas antecipadas, a abordagem da Igreja à AfD provavelmente permanecerá controversa. Os casos de Schäfer e Schaufert podem prever mais conflitos à medida que a Igreja equilibra as pressões políticas enquanto luta com um declínio acentuado em relevância e influência.

A DBK pediu diálogo com os eleitores da AfD para entender suas preocupações, embora diga que "os partidos extremistas de direita não podem ser um lugar de atividade política para os cristãos".

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