9 de ago de 2024 às 16:02
O presidente da Pontifícia Academia para a Vida (PAV), dom Vincenzo Paglia, disse que "a Igreja reitera sua oposição absoluta a qualquer forma de eutanásia e suicídio assistido" e acrescentou: "Também é minha convicção, mesmo que alguns queiram que eu diga o contrário".
Sobre a posição contra práticas que ameaçam ativamente a vida humana em seu fim, dom Paglia disse ao Vatican News, serviço oficial de informações da Santa Sé, que "a Igreja também nos convida a refletir sobre o fato de que a obstinação irracional (obstinação terapêutica) não é uma expressão da medicina e do cuidado verdadeiramente à medida e em benefício da pessoa doente".
"Nunca devemos encurtar a duração da vida", disse dom Paglia, mas não se deve "insistir em obstruir seu curso de forma alguma".
Dom Paglia disse isso depois de encontrar-se ontem (8) com o papa Francisco para apresentar-lhe o glossário Pequeno Léxico do Fim da Vida publicado pela PAV no mês passado.
Nas últimas semanas, algumas análises do texto sugeriram que o texto continha "aberturas" sobre a posição essencial de proteção da vida humana defendida pelo humanismo cristão católico.
Sobre essas críticas, dom Paglia disse que "já em 1956 Pio XII - conforme relatado no Léxico - afirmou a legalidade da suspensão da ventilação se certas condições graves estivessem presentes" e que, “já em 2007, a própria Congregação para a Doutrina da Fé, depois de afirmar um pressuposto positivo para seu uso, reconheceu que pode ser licitamente interrompida (ou não iniciada) quando comporta ‘uma excessiva gravidade ou um relevante desconforto físico’ ”.
Em sua opinião, "são dois critérios que fazem parte da definição de tratamento não proporcional, ou seja, aquele que deve ser suspenso. É uma avaliação que sempre exige, na medida do possível, o envolvimento do paciente”.
"O Léxico deve ser lido em sua totalidade", disse dom Paglia.
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Respondendo sobre a opinião dada pelo papa Francisco durante o encontro, dom Paglia disse: "O papa Francisco reiterou seu apreço pelo trabalho que está sendo realizado pela Pontifícia Academia para a Vida. Certamente, o tema do fim da vida é complexo e a Igreja tem um rico Magistério ao seu lado, desde Pio XII em 1957 até hoje. A vida deve ser defendida durante todo o período da existência, não apenas em alguns momentos específicos. Acima de tudo, o direito à vida deve ser defendido e, em particular, a vida das pessoas fracas, para combater a ‘cultura do descarte’ que se esconde por trás da pretensão de autossuficiência e autonomia das mulheres e dos homens de hoje".
Não é a primeira vez declarações de dom Paglia sobre a eutanásia ou o suicídio assistido geram controvérsia.
Em abril de 2023, a PAV teve que emitir uma declaração em resposta ao que descreveu como "interpretações incorretas do pensamento de dom Paglia" sobre a lei de suicídio assistido aprovada na Itália.
Na ocasião, a PAV disse que "não se deve excluir que na nossa sociedade seja praticável a mediação jurídica que permita a assistência ao suicídio nas condições especificadas pelo Acórdão 242/2019 do Tribunal Constitucional: a pessoa deve 'estar mantida viva por tratamento de suporte de vida e afetada por uma patologia irreversível, fonte de sofrimento físico ou mental que considere intolerável, mas totalmente capaz de tomar decisões livres e conscientes.' "
"Pessoalmente, eu não praticaria o suicídio assistido, mas entendo que a mediação jurídica pode constituir o maior bem comum concretamente possível nas condições em que nos encontramos", acrescentou o presidente da PAV.
Sobre isso, a PAV disse que "nesse contexto preciso e específico, dom Paglia explicou que, em sua opinião, é possível uma 'mediação legal' (certamente não moral) na direção indicada pelo Acórdão, mantendo o crime e as condições em que é descriminalizado, uma vez que o próprio Tribunal Constitucional pediu ao Parlamento que legislasse".
Respondendo ao Vatican News sobre essas "mediações legais", dom Paglia disse que "não há "mediações aceitáveis" a priori. Certamente, nas questões fundamentais e muito sensíveis do fim da vida, é desejável que se chegue ao mais alto consenso comum possível e, portanto, que se leve em conta o modo respeitoso as diferentes sensibilidades e crenças religiosas. Essa é a tarefa da política. A Igreja pode colaborar, tendo em vista o bem comum de toda a sociedade. Cabe a Igreja a formação das consciências, mais do que a elaboração de leis”.