A escolha da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, do governador de Minnesota, Tim Walz, como companheiro de chapa para a eleição presidencial de 2024 na semana passada foi recebida com preocupação por líderes católicos por causa das visões "radicais" que, segundo eles, o colocam em desacordo com a doutrina da Igreja.

Com base em seu histórico como governador, segue o resumo de sua posição em questões importantes para os católicos.

Ideologia de gênero

Durante o mandato de Walz como governador, ele apoiou a promoção da ideologia de gênero na sala de aula, apoiou leis para garantir que médicos possam fazer operações de “mudança de sexo” em menores e apoiou a proibição de serviços de aconselhamento que desencorajam menores de “mudar de sexo”.

Ideologia de gênero é a militância política baseada na teoria de que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros mais variados do que homem e mulher.

A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis 1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou”, na tradução oficial da CNBB.

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível [que não se pode perder] e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher», refletem a sabedoria e a bondade do Criador.

Em março de 2023, Walz assinou uma ordem executiva que determinava que as agências estaduais deveriam "proteger" as pessoas que buscam operações de “mudança de sexo”, incluindo crianças, e devem se recusar a cooperar com outros Estados que punem quem facilite uma operação de “mudança de sexo” em um menor.

No mês seguinte, ele promulgou lei que permite que os tribunais de Minnesota assumam jurisdição temporária de emergência sobre disputas de custódia de crianças, se um dos pais levar uma criança ao Estado para uma operação de “mudança de sexo” ou para receber drogas de “mudança de sexo”. O projeto proíbe os tribunais de Minnesota de cooperar com ordens judiciais de outros Estados se o outro pai estiver tentando impedir que a criança obtenha as drogas ou a operação.

Em abril de 2023, Walz também promulgou lei que proíbe os profissionais de saúde mental de fornecer "terapia de conversão". A definição de terapia de conversão do projeto de lei inclui serviços de aconselhamento que ajudam crianças com disforia de gênero a se sentirem mais confortáveis com seu sexo natural. Em vez disso, a lei protege explicitamente o aconselhamento que busca a transição social do gênero de uma criança.

O apoio de Walz à ideologia de gênero também se estendeu às salas de aula.

Ele assinou uma legislação que proíbe os conselhos escolares locais de remover livros das bibliotecas escolares que promovam a ideologia de gênero e contenham material controverso que alguns pais acreditam ser sexualmente explícito. A lei também proíbe bibliotecas públicas e faculdades de restringir esse material. A lei afirma que apenas bibliotecários profissionais ou alguém com determinadas qualificações podem decidir quais livros estarão nas bibliotecas.

Outra lei promulgada por Walz exige que as escolas disponibilizem absorventes internos e outros produtos de higiene menstrual nos banheiros masculinos e femininos. Os republicanos propuseram uma emenda para limitar a exigência apenas a banheiros femininos, mas ela não foi aprovada.

Aborto e fertilização in vitro

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Minnesota tem algumas das leis mais pró-aborto dos EUA: os abortos eletivos são legais durante toda a gravidez, até o momento do nascimento. Os abortistas também podem fazer um aborto em uma menor de qualquer idade e em qualquer estágio da gravidez sem notificar os pais.

Em janeiro de 2023, Walz promulgou a Lei de Proteção de Ações Reprodutivas, pelo qual toda pessoa tem o direito de "obter um aborto" e os governos das cidades são proibidos de impor limites a esse direito.

Walz promulgou lei em abril de 2023 que proíbe a extradição de alguém acusado de fazer um aborto ilegal em outro Estado. A lei também diz que Minnesota não reconhecerá intimações civis ou criminais de outros Estados relacionadas a investigações sobre abortos ilegais.

Em março, Walz foi com Harris a uma clínica de aborto da Planned Parenthood em Minnesota. Planned Parenthood é a maior multinacional de abortos do mundo. A visita de Harris foi a primeira de um vice-presidente em exercício dos EUA a uma clínica de aborto.

Walz também é defensor da fertilização in vitro (FIV), que a Igreja condena por separar o ato sexual da procriação. Além disso, os métodos de fertilização in vitro produzem mais de um bebê. Os que não são implantados, são congelados ou destruídos.

Em seu primeiro comício como candidato democrata a vice-presidente, Walz falou sobre a luta dele e de sua esposa contra a infertilidade e seu apoio à fertilização in vitro.

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Liberdade religiosa

Como governador de Minnesota, Walz apoiou várias políticas que desagradaram defensores da liberdade religiosa. Em alguns casos, o governador acabou sendo forçado pela Justiça a mudar essas políticas.

Quando Walz começou a reduzir algumas restrições impostas para combate à pandemia de COVID-19 em maio de 2020, ele emitiu uma ordem executiva que reabriu algumas instalações comerciais, mas manteve restrições a serviços religiosos. Segundo a ordem, as lojas poderiam abrir com 50% da capacidade, mas as igrejas eram limitadas a apenas dez pessoas.

O arcebispo de St. Paul e Minneapolis, dom Bernard Hebda, e o Sínodo da Igreja Luterana de Missouri enviaram cartas a Walz, informando-o de que reabririam para serviços religiosos, apesar das restrições. Ambos os grupos argumentaram que o tratamento desigual violava a primeira emenda da Constituição dos EUA. Menos de uma semana depois, Walz chegou a um acordo com as igrejas e emitiu uma nova ordem executiva que lhes permitia abrir com 25% da capacidade.

Em maio de 2023, Walz enfrentou ações legais de escolas cristãs. As escolas contestaram uma lei que impediria qualquer escola de exigir que os alunos apresentassem uma declaração de fé de participar de um programa que permite que alunos do ensino médio ganhem créditos universitários. Um mês depois, o Estado concordou que não aplicaria a lei enquanto o litígio estivesse em andamento, mas continuou a defender a lei no tribunal.

Walz também assinou um projeto de lei em 2023 que alterou a Lei de Direitos Humanos de Minnesota para incluir a proibição de discriminar a "identidade de gênero" de uma pessoa. A Conferência Católica de Minnesota e outros grupos religiosos criticaram a lei porque ela não continha isenções para instituições religiosas. Cerca de um ano depois, Walz assinou outra versão alterada, que acrescentou isenções religiosas à lei.

Como governador, Walz também se opôs consistentemente às políticas de escolha de escolas. Uma lei permitiria aos pais usar fundos públicos para pagar educação privada. Walz criticou essas propostas em entrevista em agosto do ano passado, dizendo: "[O que] acabamos fazendo é subsidiar pessoas que já frequentam escolas religiosas particulares ou fazem educação domiciliar".