O papa Francisco elogiou o trabalho de um capelão americano com presos condenados à morte como um ministério que reflete a "realidade mais profunda do Evangelho" em novo prefácio de livro sobre a pena de morte.

O papa escreveu pessoalmente a introdução de A Christian on Death Row: My Commitment to Those Condemned (Um cristão no corredor da morte: meu compromisso com os condenados, em tradução livre), de Dale Recinella, advogado que serviu como católico leigo aos presos no corredor da morte no Estado da Flórida por mais de 25 anos.

O papa Francisco chama o trabalho de Recinella de "adesão apaixonada à realidade mais profunda do Evangelho de Jesus, que é a misericórdia de Deus".

"Dale Racinella realmente entendeu e testemunha com sua vida, toda vez que cruza o limiar de uma prisão, especialmente aquela que ele chama de 'a casa da morte', que o amor de Deus é ilimitado e imensurável", escreveu o papa Francisco no prefácio do livro que será publicado em 27 de agosto.

"E que mesmo o mais hediondo de nossos pecados não destrói nossa identidade aos olhos de Deus: continuamos sendo Seus filhos, amados por Ele, cuidados por Ele e considerados preciosos por Ele".

Recinella era um bem-sucedido advogado na década de 1980, quando começou a reavaliar como vinha usando seus dons e habilidades até aquele momento.

Junto com a mulher, Susan, Recinella se envolveu em um ministério de ajuda a sem-teto e pacientes de AIDS. O organizador do ministério perguntou se Recinella estaria disposto a ir ainda mais fundo.

 

"Ele perguntou se eu estaria disposto a ir à sua prisão e começar a ver homens com câncer e AIDS", disse Recinella à CNA, agência em inglês da EWTN News, em entrevista em 2020. "E o que eu não tive coragem de dizer a ele foi que nunca tinha estado em uma prisão; Eu tinha financiado prisões em Wall Street em todo o país, prisões enormes, mas nunca estive em uma e não tinha vontade de entrar em uma”.

A família de Recinella ajudou a convencê-lo de que ele deveria mergulhar no início dos anos 1990.

"Foram Susan e as crianças ao citar Jesus no Evangelho em Mateus 25 que me convenceram de que, se minha fé estava realmente guiando minha vida, que Jesus havia dito que quando visitávamos os menores na prisão, nós o visitamos, mas quando não o fizemos, nos recusamos a visitá-lo. E então pensei em tentar", disse ele.

Levaria alguns anos até que a ideia do corredor da morte realmente passasse pela cabeça de Recinella, quando ele e sua família acabaram se mudando para a pequena cidade de Macclenny, Flórida. Essa cidade era o local da prisão do corredor da morte do Estado.

Recinella ficou chocado com as duras condições que encontrou quando pisou pela primeira vez em uma prisão no corredor da morte.

"A primeira coisa que me impressionou, minha primeira experiência foi: 'Não acredito que ainda estamos fazendo isso no século 20' ", disse ele, ao falar que, apesar do calor da Flórida, os presos não tinham ar-condicionado.

Recinella finalmente decidiu desistir de praticar a lei para poder ministrar aos presos no corredor da morte.

Ministrar a criminosos condenados não tem sido fácil. Recinella se lembra de ter sido designado para ministrar a um serial killer que matou mulheres jovens de idade semelhante à da filha de Recinella.

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"Eu não estava pronto para lidar com os desafios espirituais de lidar com o nível de sofrimento humano que experimentamos no ministério de rua, ministério de AIDS, ministério de prisões e ministério no corredor da morte", disse ele.

Recinella encontrou forças para fazê-lo por meio de conversas com um padre de confiança e por meio dos sacramentos, disse ele.

Além de passar vários dias por semana visitando os presos, ele também treinou outras pessoas para fazer o ministério prisional e foi testemunha em quase 24 execuções.

Recinella disse ao EWTN News In Depth em 2021 que entre as pessoas a quem ele ministrou quando estão morrendo - sejam elas sem-teto, advogados, políticos ou presos - todos pediram misericórdia em seus momentos de morte.

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"Nunca ninguém me pediu para rezar para que Deus lhes desse justiça", disse ele. "Todos, mesmo que não achassem que tinham fé, quando enfrentam o fim do túnel, todos me pediram para rezar com eles pela misericórdia de Deus."

Papa pede abolição da pena de morte

O papa Francisco revisou o Catecismo da Igreja Católica em 2018 para dizer que “a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa” (CIC, 2267).

No prefácio do livro de Recinella, o papa Francisco sublinhou sua forte oposição à pena capital, dizendo que "a pena de morte não é de forma alguma uma solução para a violência que pode atingir pessoas inocentes".

"As execuções capitais, longe de trazer justiça, alimentam um sentimento de vingança que se torna um veneno perigoso para o corpo de nossas sociedades civis", disse o papa.

O papa Francisco enfatizou querer que o Ano Jubilar de 2025 da Igreja seja um momento para "todos os crentes pedirem coletivamente a abolição da pena de morte".

Irã, Arábia Saudita, Somália e EUA foram os países com mais execuções confirmadas em 2023, segundo a Anistia Internacional.

"Os Estados devem se concentrar em permitir que os prisioneiros tenham a oportunidade de realmente mudar suas vidas, em vez de investir dinheiro e recursos em sua execução, como se fossem seres humanos que não fossem mais dignos de viver e de serem descartados", escreveu Francisco.

O papa Francisco conheceu Recinella e sua mulher em audiência privada no Vaticano em 2019. A Pontifícia Academia para a Vida da Santa Sé concedeu a Recinella seu primeiro Prêmio Guardião da Vida em 2021 em homenagem às suas décadas de serviço e ministério aos presos no corredor da morte.

O novo livro de Recinella será publicado pela Libreria Editrice Vaticana, editora da Santa Sé, em 27 de agosto. Ele também é o autor de When We Visit Jesus in Prison: A Guide for Catholic Ministry (Quando visitamos Jesus na prisão: um guia para o ministério católico).

Com colaboração de Jonah McKeown, da CNA.