O regime do presidente Daniel Ortega e de sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, na Nicarágua, cancelou o status legal de 1,5 mil organizações não governamentais (ONGs) como a Cáritas de Granada e associações católicas e evangélicas, e expulsou mais dois padres.

A decisão de cancelar as 1,5 mil ONGs foi anunciada na última segunda-feira (19) no jornal oficial do governo La Gaceta e assinado por María Amelia Coronel Kinloch, ministra do Interior da Nicarágua.

O texto diz que as 1,5 mil ONGs “não cumpriram com suas obrigações”, como não relatar “suas demonstrações financeiras por períodos entre um e até 35 anos”.

A declaração determina que a procuradoria-geral da República deve transferir os ativos líquidos e fixos de todas essas organizações “para o Estado da Nicarágua”.

Essa ação ocorreu quatro dias depois do regime anunciar uma nova forma de trabalhar com as ONGs, exigindo que elas fizessem “alianças” com o Estado para controlá-las.

678 ONGs católicas e evangélicas canceladas

678 ONGs católicas e evangélicas foram canceladas, como a Bethel Church, Rivers of Living Water, Prince of Peace, House of the King Church, The Rock Christian Church in Nicaragua, a Educating in Faith Foundation, a Brotherhood of Nicaraguan Evangelical Pastors, a Christian Foundation More than Conquerors, a Congregação Religiosa Mãe do Divino Pastor, a Associação para a Ordem Franciscana Secular e a Associação de Senhoras Salesianas.

Outros grupos também foram cancelados, como a Associação Nicaraguense pelos Direitos da Diversidade Sexual, a Rede Trans da Nicarágua, o Movimento Indígena Monimbo, a Fundação para o Desenvolvimento Empresarial de Matagalpa, a Associação de Aposentados e Pensionistas Camilo Ortega Saavedra e a Associação de Hotéis da Nicarágua.

Segundo o jornal La Prensa, essas 1,5 mil ONGs se somam a outras 3,6 mil que já foram canceladas pelo regime desde 2018.

Martha Patricia Molina, pesquisadora e autora do relatório “Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?” — que em sua quinta edição, em 15 de agosto, citou 870 ataques do regime contra a Igreja desde 2018 — lamentou o fechamento das ONGs.

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Sobre a Cáritas Granada, ela destacou que esse braço católico de solidariedade ajudou as pessoas durante a pandemia da covid-19, também tem “diferentes programas de alimentação e educação, e até ajudou a Polícia Sandinista”.

“Hoje, um capítulo se fecha em Granada porque o SANDINISMO, que é sangue e morte, cancelou arbitrariamente seu status legal e procederá ao confisco de suas propriedades e ao roubo de ativos líquidos e contas bancárias”, lamentou ela.

Sandinismo é o nome do regime do presidente Daniel Ortega, ex-líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional, grupo guerrilheiro que, em 1979, derrubou o ditador Anastasio Somoza.

“Uma parte fundamental da nossa luta pela democracia é a denúncia implacável das atrocidades perpetradas pelo regime criminoso de Ortega contra o povo nicaraguense”, disse Felix Maradiaga, ex-candidato à presidência e presidente da Fundação Liberdade para a Nicarágua.

“Não podemos ficar em silêncio enquanto esse ditador fecha ONGs, sufocando a sociedade civil e violando os direitos de milhares de cidadãos. Ontem iniciamos uma turnê por organizações internacionais, veículos de comunicação e formadores de opinião com o objetivo de desmascarar as consequências devastadoras desse ato brutal e sem precedentes”, enfatizou.

Arturo McFields, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA), disse em vídeo na rede social X que “a ditadura da Nicarágua comete crimes contra a humanidade contra a igreja católica e evangélica. É uma operação de extermínio ao estilo de Hitler”.

Mais dois padres exilados da Nicarágua

Segundo o jornal Mosaico, que cobre os principais acontecimentos nas cidades de Matagalpa e Jinotega, Nicarágua, desde 15 de agosto mais dois padres foram exilados em Roma: Denis Martínez García e Leonel Balmaceda, das dioceses de Matagalpa e Estelí, respectivamente, que foram presos pelo regime há poucos dias.

Ao contrário dos últimos padres que foram exilados, desta vez o regime não se pronunciou sobre o assunto.

Um padre que vivia no exílio, que o jornal Mosaico não identificou por razões de segurança, disse que esse silêncio do governo estaria buscando “evitar o escrutínio internacional. Ao não fazer nenhuma declaração, poderiam estar tentando reduzir a visibilidade de seus atos repressivos e, assim, reduzir a pressão de organizações internacionais e governos estrangeiros”.

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