28 de ago de 2024 às 12:42
O papa Francisco adiou o início de sua habitual catequese na audiência geral de hoje (28) para falar dos migrantes, vítimas da “indiferença e do descarte” que perdem a vida nos mares e desertos “mortais” em busca de uma vida de paz e segurança.
O papa falou sobre os mares e desertos onde morrem muitos migrantes. Ele se referiu ao mar como “todas as massas de água traiçoeiras que tantos irmãos e irmãs em todas as partes do mundo são obrigados a atravessar para chegar à sua meta”.
Francisco falou também de “todos os territórios inacessíveis e perigosos, como as florestas, as selvas, as estepes, onde os migrantes caminham sozinhos, abandonados a si próprios”.
O papa Francisco voltou a dizer que o mar Mediterrâneo se tornou um cemitério. “E a tragédia é que muitas, a maioria destas mortes, poderiam ter sido evitadas”.
Repelir migrantes é um pecado grave
“É preciso dizê-lo claramente: há quem trabalhe de forma sistemática e com todos os meios para repelir os migrantes”, disse o papa. “E isto, quando feito com consciência e responsabilidade, é um pecado grave”.
“O órfão, a viúva e o estrangeiro são os pobres por excelência que Deus sempre defende e nos pede para defender”, disse Francisco.
“Infelizmente, também alguns desertos se tornam cemitérios de migrantes. E até aqui, muitas vezes, não se trata de mortes ‘naturais’. Não! Às vezes foram levados para o deserto e abandonados lá”.
“Na era dos satélites e dos drones, há homens, mulheres e crianças migrantes que ninguém deve ver: escondem-nos. Só Deus os vê e ouve o seu clamor. E esta é uma crueldade da nossa civilização”.
Para o papa Francisco, esses lugares “testemunham o drama do povo que foge da opressão e escravidão. São lugares de sofrimento, medo e desespero, mas ao mesmo tempo de passagem para a libertação - e hoje quantas pessoas passam pelos mares, pelos desertos para se libertar - são lugares de passagem para a redenção, alcançar a liberdade e o cumprimento das promessas de Deus”.
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“O Senhor está com os migrantes”
Por isso, Francisco sublinhou que “para acompanhar o povo a caminho da liberdade, o próprio Deus atravessa o mar e o deserto; Deus não permanece à distância, não, partilha o drama dos migrantes, Deus está com eles, com os migrantes, sofre com eles, com os migrantes, chora e espera com eles, com os migrantes”.
“O Senhor está com os nossos migrantes no mare nostrum, o Senhor está com eles, não com aqueles que os rejeitam”, disse o papa.
Numa coisa todos podemos concordar, continuou o papa Francisco: “nesses mares e desertos mortais, os migrantes de hoje não deveriam estar - e infelizmente estão. Mas não é através de leis mais restritivas, não é mediante a militarização das fronteiras, não é através de rejeições que alcançaremos este resultado”.
“Ao contrário, só o conseguiremos ampliando as rotas de entrada seguras e regulares para os migrantes, facilitando o refúgio para quantos fogem das guerras, da violência, da perseguição e de muitas calamidades; só o conseguiremos favorecendo, em todos os sentidos, uma governança global das migrações fundamentada na justiça, na fraternidade e na solidariedade. E unindo forças para combater o tráfico de seres humanos, para impedir os traficantes criminosos que exploram sem piedade a miséria dos outros”, disse Francisco.
Por fim, o papa reconheceu e elogiou “o esforço de tantos bons samaritanos, que fazem o possível para socorrer e salvar os migrantes feridos e abandonados nas rotas da esperança desesperada, nos cinco continentes”.
“Estes homens e mulheres corajosos são sinal de uma humanidade que não se deixa contagiar pela cultura negativa da indiferença e do descarte: o que mata os migrantes é a nossa indiferença, a atitude de descarte. E quem não pode estar como eles ‘na linha da frente’ – penso em tantas pessoas boas que estão na linha da frente, na Mediterranea Saving Humans e em tantas outras associações - não está excluído desta luta de civilização: não podemos estar na linha da frente, mas não estamos excluídos; há muitas formas de oferecer a própria contribuição, sobretudo com a oração”, disse Francisco.
“Queridos irmãos e irmãs, unamos os nossos corações e forças, para que os mares e os desertos não sejam cemitérios, mas espaços onde Deus possa abrir caminhos de liberdade e fraternidade”, concluiu o papa.
No final da sua reflexão, durante a saudação aos peregrinos, o papa Francisco dirigiu-se especificamente a um grupo de jovens para os encorajar a ir à missa todos os domingos e a aproximar-se do sacramento da penitência.
Como de costume, o papa encerrou a audiência geral ao rezar pela paz no mundo, especialmente na Palestina, em Israel, na Ucrânia e em Mianmar. “Que o Senhor vos conceda o dom da paz”, concluiu o papa.