28 de ago de 2024 às 14:25
O arcebispo de Bamenda, Camarões, dom Andrew Nkea Fuanya, disse que a Igreja na África não é influenciada pela cultura ao recusar mudanças controversas levantadas pelo Sínodo da Sinodalidade.
O “veemente não” da África em relação a tópicos polêmicos como bênçãos a casais do mesmo sexo, e a ordenação de diaconisas foi guiado pelas Escrituras e pela doutrina da Igreja, disse dom Nkea. “Não puramente” pela cultura do continente, que ele disse ter sido descrita como “inferior”.
Em discurso feito na sexta-feira (23) nos debates sinodais semanais em curso, dom Nkea falou sobre as reuniões que os delegados africanos ao Sínodo da Sinodalidade fizeram antes da primeira fase do Sínodo. Os participantes falaram a uma só voz sobre os tópicos que escolheram do Instrumentum Laboris, documento de trabalho do Sínodo.
“Quando fomos ao Sínodo, ficou claro que a África tinha de assumir a responsabilidade pelo seu próprio destino”, disse dom Nkea. “Sabíamos que tínhamos de fazer ouvir a nossa voz na primeira fase do Sínodo”.
Ao fazer ouvir a voz da África, os delegados deixaram claro que o continente “não estava falando puramente a partir de um contexto cultural”.
“A África falava a partir do pano de fundo das tradições dos nossos padres e do pano de fundo da doutrina da Igreja”, disse o arcebispo em evento que a Rede Pan-Africana de Teologia Católica e Pastoral (PACTPAN, na sigla em inglês) organizou em colaboração com a Conferência de Superiores Maiores da África e Madagascar (COMSAM, na sigla em inglês).
“Ao apresentarmos os nossos pontos de vista no Sínodo, portanto, não queríamos ser vistos como apresentando pontos da África por causa da cultura de onde viemos”, disse o arcebispo. “Nossa posição não teve nada a ver com cultura; tratava-se de fidelidade à verdade; fidelidade ao que Cristo ensinou. Tratava-se de fidelidade ao que os Apóstolos transmitiram às gerações”.
Ele disse que na preparação para a sessão de 2 a 29 de outubro de 2024 em Roma, os africanos continuarão guiados tanto pela doutrina da Igreja como pelas Escrituras.
“A África vai, como uma só voz, falar em nome do povo africano a partir de duas perspectivas”, disse ele. “Portanto, não aceitamos a ideia que as pessoas nos dizem que argumentamos a partir da cultura. E que viemos de uma cultura que ainda está em desenvolvimento e por isso não entendemos certas coisas”.
Dom Nkea, que também é presidente da Conferência Episcopal Nacional dos Camarões (NECC, na sigla em inglês), enfatizou que “teologia é teologia” e “argumento é argumento”, independentemente da superioridade cultural.
Ele defendeu a posição dos delegados africanos no Sínodo da Sinodalidade sobre uniões homossexuais. “A África não estava defendendo uma ideia cultural”, disse dom Nkea Fuanya. “A África defendia a doutrina que a Igreja tem há 2 mil anos”.
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“Quando começamos a discutir a ideia de abençoar as uniões homossexuais, a posição da África nas discussões foi um veemente não”, disse dom Nkea. Segundo ele, os argumentos dos bispos africanos se baseavam no que a Bíblia diz sobre os atos homossexuais.
Ele disse que a África também “rejeitou veementemente” Fiducia supplicans, documento publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé que permite a bênção de uniões homossexuais e casais em situação irregular. “Voltaremos à segunda sessão com a mesma rejeição veemente desse documento”, disse o arcebispo.
Sobre a oposição à ordenação de mulheres, que também é um dos temas polêmicos nas conversações do Sínodo da Sinodalidade, o arcebispo disse: “A nossa Igreja tem uma tradição.”
Dom Nkea disse que uma das questões às quais a África disse um veemente não no Sínodo da Sinodalidade em curso é o uso da ideia de “tenda”, no lema usado pelo Sínodo da Sinodalidade “Alarga tua tenda”.
“Vimos de um continente fragmentado, um continente onde todos vêm pescar, mas quem vive nesse continente não tem peixe para comer. É um continente quebrado e maltratado. É um continente que tem sido assediado e desprezado e, no entanto, esse continente só vê tendas no contexto de quando vagamos por aí carregando caixas nas nossas cabeças como refugiados”, disse dom Nkea. “Não corremos como refugiados na Igreja Católica e, portanto, as tendas para nós têm um significado muito depreciativo. Para nós, as tendas significam refugiados que estão em fuga, perseguidos por predadores e por aqueles que querem roubar as nossas riquezas. Rejeitamos a tenda”.
“A África é uma família. A Igreja continua a ser uma família de Deus e continuamos a promover essa ideia da Igreja como uma família de Deus”, disse ele.
Dom Nkea, que é arcebispo de Bamenda desde fevereiro de 2020, destacou que a posição da África sobre questões controversas no Sínodo da Sinodalidade em curso não tem nada a ver com política.
“Nós, os bispos e membros que participamos no Sínodo, não estamos vendo nada no contexto da criação de uma Igreja Africana”, disse ele, e acrescentou: “A Igreja é a Igreja de Cristo. E penso que precisamos nos opor aos políticos que nos dizem que é hora de criar uma Igreja Africana”.
O debate africano ocorrido na sexta-feira (23), a 12ª conferência virtual semanal que reúne teólogos africanos, clérigos, mulheres e homens religiosos e leigos, foi organizada como tema: “Critérios teológicos e metodologias sinodais como base para o discernimento compartilhado de questões doutrinárias, pastorais e éticas controversas”.
Dom Nkea falou sobre o tema, centrando-se na razão pela qual a África deveria falar com uma voz clara sobre temas polêmicos e questões controversas, não apenas no Sínodo da Sinodalidade em curso, mas além.
Os organizadores do evento disseram em nota enviada à ACI Africa, agência de EWTN News, que os participantes vão “abordar corajosamente algumas das questões morais contestadas que surgiram nos últimos dois anos desde que a conversa sinodal começou na África”.