A violência étnica e religiosa na Nigéria matou quase 56 mil pessoas nos últimos quatro anos, segundo relatório publicado pelo Observatório para a Liberdade Religiosa na África. Dos 30,8 mil civis mortos, pelo menos 16,8 mil eram cristãos, 6,2 mil muçulmanos e 154 adeptos de religiões tradicionais africanas. A religião de 7,7 mil vítimas é desconhecida. O número total inclui mortes de civis, terroristas e militares.

O relatório registra mais de 11 mil incidentes de violência de outubro de 2019 a setembro de 2023. Em 9,9 mil ataques, 55,9 mil pessoas foram mortas. Outros 2,7 mil ataques geraram 21,6 mil pessoas sequestradas.

A perda proporcional para os cristãos, no entanto, foi muito maior nos Estados onde ocorreram os ataques. Em termos de populações estaduais, o relatório constatou que os cristãos tinham 6,5 vezes mais chances de serem mortos e 5,1 vezes mais chances de serem vítimas de sequestro.

"Milhões de pessoas estão indefesas", disse Frans Vierhout, analista sênior do Observatório da Liberdade Religiosa na África, em comunicado. "Durante anos, ouvimos falar de pedidos de ajuda sendo ignorados, pois terroristas atacam comunidades vulneráveis. Agora os dados contam sua própria história".

Segundo o relatório, 81% dos assassinatos de civis foram ataques terrestres a comunidades. Cerca de 42% desses assassinatos foram cometidos por milícias muçulmanos da etnia fulani, que os pesquisadores disseram que invadiram pequenos assentamentos agrícolas cristãos para matar, estuprar, sequestrar pessoas e queimar casas.

Os terroristas fulani mataram pelo menos 9,1 mil civis cristãos e pelo menos 1,4 civis muçulmanos, segundo os dados.

Cerca de 41% dos ataques terrestres a comunidades vieram de uma variedade de grupos, que o relatório categoriza como "outros grupos terroristas". Esses grupos são responsáveis por 10,2 mil mortes em ataques a comunidades, sendo 3,8 mil de cristãos, e 2,9 mil de muçulmanos. A religião de cerca de 3,5 mil é desconhecida.

"A milícia étnica fulani tem como alvo as populações cristãs, ao mesmo tempo em que os muçulmanos também sofrem severamente em suas mãos", disse o reverendo Gideon Para-Mallam, outro analista do Observatório de Liberdade Religiosa na África, em comunicado.

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"Os sequestradores trabalham para objetivos islâmicos", disse o reverendo. "Mulheres jovens são sequestradas, torturadas e violentadas, a esperança de uma vida normal de casada e de uma família pode desaparecer".

Os grupos terroristas islâmicos Boko Haram e a Província da África Ocidental do Estado Islâmico fizeram cerca de 11% dos ataques terrestres a comunidades. O Boko Haram matou pelo menos 851 civis cristãos e 491 muçulmanos. O Estado Islâmico matou pelo menos 265 cristãos e 127 muçulmanos.

Nina Shea, diretora do Centro de Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, disse à CNA que "os números de mortos e sequestrados são impressionantes e a documentação agora é irrefutável".

"Os milicianos fulani estão travando uma guerra religiosa, uma jihad, contra comunidades agrícolas cristãs indefesas em grandes áreas da Nigéria", disse ela. "Igualmente inegável e chocante é o fato de que o governo nigeriano assistiu e tolerou esses ataques implacáveis ao longo de muitos anos. O objetivo dos militantes de erradicar a presença cristã por meio de assassinatos, conversão forçada ao Islã e expulsá-los de sua terra natal parece ser compartilhado pelo governo em Abuja ou então ele agiria”.

Shea criticou o Departamento de Estado dos EUA por se recusar a incluir a Nigéria na lista de Países de Preocupação Particular, por graves violações da liberdade religiosa.

A Nigéria foi incluída na lista em 2020, último ano do governo de Donald Trump. Em 2021, no primeiro ano do governo do presidente Joe Biden, a Nigéria saiu da lista. O Departamento de Estado dos EUA sob Biden culpa "confrontos intercomunitários" e uma competição por recursos causada pelas mudanças climáticas pela violência na Nigéria.