Dois padres de Burkina Faso, na África ocidental, disseram que o povo de Deus no país vive em constantes medo dos grupos terroristas islâmicos.

O padre Bertin Namboho, administrador financeiro diocesano da diocese de Nouna, e o padre Jean-Pierre Koné, pároco em Tansila, Burkina Faso, falaram em entrevista coletiva organizada pela fundação de caridade pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) na segunda-feira (2) sobre suas experiências pessoais no país que sofre com o terrorismo islâmico desde 2015.

"Desde o início desses ataques, testemunhamos nossa comunidade sendo dilacerada”, disse o padre Namboho. “Os terroristas bloquearam nossa cidade, destruindo serviços essenciais. Não há eletricidade, nem água, e o sistema de saúde é reduzido ao mínimo. A situação é crítica".

"Agora temos cerca de 5 mil pessoas em nossa cidade que fugiram das aldeias”, disse Namboho. “Eles perderam tudo. Seus maridos e pais foram mortos ou desapareceram, e estamos lutando para suprir suas necessidades básicas".

O impacto econômico na cidade de Nouna é devastador, disse o padre Namboho. A destruição da infraestrutura interrompeu o comércio local, deixando os moradores sem acesso a bancos e serviços essenciais.

"Toda a cidade está sitiada, sem acesso a alimentos ou suprimentos médicos. A situação é extremamente difícil para todos", disse o padre.

Ele falou sobre suas experiências pessoais com os terroristas, dizendo que vários encontros incutiram nele "medo profundo".

 

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"Durante minhas viagens para o trabalho da igreja, enfrentei grupos armados que nos interrogam e nos ameaçam. Eu estava com freiras e fomos parados e revistados. É aterrorizante enfrentar tamanha hostilidade e saber que padres foram sequestrados e mortos", disse. "Estamos constantemente vivendo com medo, sem saber se sobreviveremos a cada dia".

O padre Koné falou sobre a escalada da violência em Burkina Faso ao longo dos anos. Ao chegar a Tansila em 2022, Koné encontrou a região já enfrentando graves desafios de segurança.

"A situação era tensa desde o início, mas piorou progressivamente. Os terroristas atacaram e destruíram todas as redes de comunicação, isolando-nos do resto do país."

Koné lembrou o impacto devastador dos ataques terroristas em 15 de abril de 2023, quando mais de 200 milicianos invadiram Tansila.

"Eles chegaram à noite e atacaram a cidade com tanta violência que os moradores nem tiveram tempo de recolher seus pertences. Eles saquearam tudo – comida, dinheiro e até meios de transporte", disse Koné. "A destruição foi imensa. Nossa igreja, presbitério e todos os nossos artefatos religiosos foram vandalizados. Voltamos para encontrar tudo em ruínas".

O impacto psicológico e espiritual desses ataques, disse ele, foi "profundo".

"A destruição de nossa igreja parece a perda de nossa identidade religiosa. É como se tivéssemos sido despojados de nossa dignidade e de nossa fé. A dor não é apenas física, mas profundamente espiritual. Isso levanta questões sobre onde Deus está no meio de tal sofrimento."

“Celebramos um Natal sombrio no ano passado", disse o padre na coletiva de imprensa da ACN. "Os ataques nos deixaram em estado de pânico e desespero. Nossas comunidades estão profundamente marcadas e o sofrimento é inimaginável."