“A Igreja nunca recomendou o curso de noivos compacto de fim de semana”, diz André Parreira, leigo, casado há mais de 25 anos com Karina Parreira, com quem tem sete filhos. “O adequado é a catequese matrimonial com um acompanhamento para um discernimento vocacional”, diz ele que escreveu com a mulher o livro Matrimônio: Encontros de preparação. A obra é usada atualmente em mais de 80 dioceses do Brasil.

“Disseminou-se muito no Brasil e em outros países a ideia de curso de noivos”, disse Karina Parreira à ACI Digital. “Os noivos com casamento marcado iam lá receber dicas de como viver bem, orientações, conselhos, perdão, diálogo”.

 “Mas a Igreja pede algo além, algo que não é curso de noivos. Ela pede o discernimento, o curso para ficar noivos, por isso é recomendada para os namorados, chamados pela Igreja como candidatos ao matrimônio”.

Depois de anos ajudando nos cursos de noivos e ao perceber que esse modelo era insuficiente, André e Karina começaram a acompanhar casais de forma mais pessoal e por mais tempo. O material que prepararam para esse acompanhamento tornou-se, depois, o livro Matrimônio: Encontros de Preparação, que já foi usado na preparação de mais de 200 mil casais.  

“O livro propõe 12 encontros, semanais ou quinzenais, com um tema por encontro com reflexões, aprofundamento, que mexem com os casais com tarefas, perguntas, com textos”, contou André Parreira à ACI Digital.  “A ideia é realmente mexer com os casais, pois se resolverem se casar, que seja de fato com consciência”. 

Segundo André, eles não foram pioneiros no formato, pois há muito tempo a Igreja pede que a preparação não seja condensada em um fim de semana. “O diferencial desse material é a simplicidade, a doutrina colocada na forma de leitura partilhada, onde lemos, partilhamos, paramos para conversar e assim a reflexão vai acontecendo”, diz.

Os encontros acontecem em um ambiente de acolhimento, geralmente na casa dos agentes da pastoral familiar.

Atualmente, 80 dioceses do Brasil têm paróquias que adotaram esse formato de Encontros de Preparação para a Vida Matrimonial (EPVM) usando o livro dos Parreira como apoio para os agentes da pastoral familiar. Segundo André, em mais de 30 dioceses os EPVM são o único modelo de preparação instituído pelo bispo em todas as paróquias da diocese. A primeira diocese a adotar o modelo foi a de Ribeirão Preto (SP) em 2017. A mais recente foi a de Nova Friburgo (RJ) que emitiu uma nota sobre o modelo oficial de preparação para o matrimônio na diocese no último dia 5. 

Os EPVM trazem muitas pessoas que estavam afastados de volta para a Igreja, diz Karina. Durante a preparação os casais “entram em contato com a catequese básica que há na formação sobre o sacramento, a importância da missa, do amor conjugal e vão se encantando novamente pela Igreja”.

“As catequeses ajudam no discernimento para a vida matrimonial, para um casamento consciente, seguro, para que não haja nulidades matrimoniais”, disse Karina. 

André também diz que alguns casais que fazem a catequese decidem não se casar na Igreja “porque perceberam que não é a vocação ou que é sério demais e ainda não estão maduros para receber o sacramento”.

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Para ele, “é melhor que cheguem poucos bem preparados para se casar do que muitos sem ter de fato o que é a consciência do sacramento”.

O livro aborda temas como harmonia conjugal, administração do lar, paternidade responsável, sexualidade, abertura à vida, métodos naturais de regulação da natalidade, educação dos filhos, entre outros temas. Além do livro, é importante o acompanhamento dos catequistas para que os casais tenham vida de oração, vivência da fé, frequência nos sacramentos e participação ativa na paróquia.

Karina contou que muitos casais começam os encontros com “uma mentalidade mundana principalmente em relação aos filhos, pensando, “filhos? Melhor não tê-los. Ou que sejam poucos”.

Os encontros mexem “muito com eles porque o que mais se vê é o fechamento à vida”. Eles descobrem que “a abertura à vida é um dos compromissos do matrimônio” que devem “acolher os filhos e educá-los na fé”.

Os próprios André e Karina Parreira têm sete filhos. João Bosco tem 22 anos e é casado. A irmã Maria Laetissimi Cordis, 21 anos, é freira Servidora do Senhor e da Virgem de Matará. Maria Paula, 15 anos, é aspirante na mesma congregação. José Afonso, Maria Isabel, Ana Francisca e João Diego têm 18, 13, 11 e nove anos.

“Tem a questão da fidelidade também, a consciência desses compromissos assumidos no matrimônio”, continuou Karina. “Hoje em dia tudo é descartável, os objetos, o celular, tudo fica obsoleto, tem que trocar, pegar novo”. Para ela, é importante lembrar que o sacramento é um compromisso assumido em que “Cristo nos dá essa força de estar unidos até o fim independente do que venha a acontecer”.

Nas catequeses, o matrimônio é tratado como vocação e missão. “Cristo está com o casal e Ele vai ajudar esse casal a levar adiante o compromisso assumido no altar”.

Segundo André, a catequese sobre o casamento resgata a “questão da doação, entrega, da vocação como qualquer outra vocação”.

“Um missionário não espera encontrar tempos fáceis quando vai missionar lá num país distante”, disse Parreira. “No matrimônio também, temos alegria, felicidade, mas temos que saber que é uma missão que nos desafia a cada dia”. 

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“Até o Concílio Vaticano II a Igreja nunca havia falado de preparação para o matrimônio. Mas com o novo século, os desafios do mundo novo como o divórcio, a contracepção, a revolução sexual, perdeu-se a estima pelo matrimônio”, disse André. Ele citou o número 52 da constituição pastoral Gaudium et Spes que pede para “promover o matrimônio e a família”. “Agora temos que promover o que é o óbvio”, concluiu.