O arcebispo de Viena, Áustria, cardeal Christoph Schönborn, disse em entrevista recente à revista católica francesa Famille Chrétienne que, diante da crescente secularização e do crescimento do islamismo em muitos países historicamente cristãos, os católicos devem “confiar na obra da graça” e lembrar que a Igreja é “uma especialista em humanidade”.

“A Igreja está viva e sempre estará, embora em circunstâncias diferentes. Devemos aceitar o declínio da Europa. Temos a tendência de olhar para o nosso umbigo eclesiástico, mas é um movimento continental inegável”, disse Schönborn à revista.

“Em 20 anos, a população europeia não será a mesma de hoje, e já não é a mesma de 50 anos atrás. Isso é inevitável, sobretudo devido ao declínio da taxa de natalidade na Europa, mas também devido à imigração e à crescente presença do islamismo. Isso coloca novos desafios para nós, cristãos. Também não podemos esquecer que o Senhor está trabalhando em Sua Igreja! Pense nos 12 mil batismos de adultos e jovens na França este ano”.

O cardeal austríaco, que ajudou a elaborar o Catecismo da Igreja Católica, disse que, apesar do declínio da influência da Igreja na Europa, ele está convencido de que a Igreja “ainda não deu seu último suspiro”.

“Apesar da secularização, as grandes questões dos homens e das mulheres permanecem as mesmas de antes: nascimento, crescimento, educação, doença, preocupações econômicas. E então há a família, o casamento e a morte”, disse Schönborn. “Fala-se muito sobre mudança, mas muito pouca atenção é dada às constantes da sociedade. A Igreja deve lembrar que é uma especialista em humanidade, como disse Paulo VI”.

O cardeal chamou de “absurda” a ideia de que a França e a Europa “não são mais cristãs” por causa da influência do islamismo, mas enfatizou firmemente que “os católicos devem retornar à Igreja”.

“Se os católicos abandonaram a Igreja, não devemos nos surpreender que eles sejam minoria”, disse, ao pedir uma “aproximação fraterna” com o islamismo, ecoando as palavras do papa Francisco, dizendo que os cristãos “não pegam em armas, mas confiam na obra da graça”.

“Ambas as nossas religiões têm um apelo absoluto. Para os muçulmanos, Deus exigiu que o mundo inteiro se submetesse a ele e ao Alcorão. Quanto a Cristo, ele nos confiou uma missão universal: 'Fazer discípulos de todas as nações'. Nenhuma delas pode, portanto, renunciar à sua missão. Mas a maneira de agir dos cristãos não é a do Alcorão, mas o seguimento de Cristo em todas as dimensões de nossas vidas”, disse ele.

Ao falar sobre o Sínodo da Sinodalidade em andamento — cuja sessão final ocorrerá em outubro em Roma e deverá produzir um relatório final para aprovação do papa —, Schönborn disse que "a sinodalidade é central para o pontificado de Francisco, mas há continuidade com sínodos anteriores, que foram sobre comunhão, participação e missão".

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“Você pode ficar desapontado porque os tópicos específicos estão um pouco incertos, mas esse é, antes de tudo, um sínodo sobre o 'modus operandi' dentro da Igreja”, disse Schönborn.

“Na minha diocese, experimentei essa sinodalidade com os padres em pequenos grupos e tentei vivê-la por meio de conversas espirituais. Todos concordaram que a troca nunca foi tão profunda”.

Respondendo sobre Fiducia supplicans, documento publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé em dezembro do ano passado que autorizou bênçãos não litúrgicas para uniões homossexuais e casais em “situações irregulares”, Schönborn disse acreditar que o documento mostra “confusão” por parte da Igreja. O cardeal criticou anteriormente, em 2021, a rejeição da Santa Sé às bênçãos de uniões homossexuais, dizendo que o documento foi marcado por um “claro erro de comunicação”.

“Eu experimentei isso como experimento as coisas — concretamente”, disse o cardeal. “Se amigos me dizem: 'Nosso filho acaba de nos anunciar que é homossexual e que encontrou um parceiro', então pergunto a eles: 'Ele ainda é seu filho?'. Na maioria das vezes, a resposta vem naturalmente. Acredito que com os dois documentos sucessivos de Roma [o Responsum ad Dubium de 2021 e o Fiducia Supplicans], a Igreja mostrou sua própria consternação diante dessa questão. Esses textos, aos meus olhos, são instáveis. Estamos diante de uma questão para a qual não pode haver uma resposta certa”.

“O caminho que o papa Francisco nos propõe é o do discernimento, tentando ver o que o Senhor está nos mostrando”, disse ele. “A propósito, o infortúnio do [caminho sinodal] alemão é que eles querem respostas precisas e inequívocas. E a falta de ambiguidade não funciona na vida concreta”.

Respondendo sobre as restrições do papa Francisco à missa tradicional em latim por meio do documento Traditionis custodes de 2021, dom Schönborn expressou a esperança de que a “nova geração” possa “facilmente” passar da missa tradicional em latim para movimentos modernos e “grupos de oração”, como a Comunidade Emanuel.

O cardeal austríaco disse: “Aceitemos que Francisco tem suas razões para fechar as portas novamente, pelo menos parcialmente, assim como aceitamos que Bento XVI teve suas razões para abri-las. Confiemos que o Senhor está guiando a Igreja”.

Schönborn respondeu por fim sobre qual “perfil” o próximo papa depois de Francisco, que fará 88 anos em dezembro, deveria ter.

“Naquele dia, o Espírito Santo guiará a Igreja. Não devemos nos preocupar. Se for um africano, será um africano. Talvez seja um asiático ou um homem da velha Europa. Mas o mais importante é que ele acredite que é um servo de Cristo e que ame a Igreja. É assim que a Igreja seguirá em frente”, disse o cardeal Schönborn.