A ‘escuridão espiritual’ de madre Teresa não era depressão nem perda de fé, diz estudioso

11 de set de 2024 às 12:37

A escuridão espiritual que madre Teresa descreve em seus escritos pode ser difícil de compreender, mas esse sentimento de vazio não foi causado por depressão ou perda de fé, disse um palestrante em conferência acadêmica organizada pelo Instituto Madre Teresa nos EUA.

A “noite escura da alma” de santa Teresa de Calcutá foi um carisma distinto que a ajudou a construir sua fé, não o que se diagnostica hoje como depressão, nem perda de fé, disse o professor de filosofia da Universidade Loyola de Maryland, EUA, Derek McAllister, num simpósio em 6 de setembro na Universidade Católica da América em Washington, D.C., um dia depois da festa da santa.

Santa Teresa de Calcutá, fundadora das missionárias da Caridade, foi uma freira albanesa que passou a maior parte de sua vida cuidando de moribundos achados entre os que viviam nas ruas de Calcutá, Índia. Ela foi canonizada em 2016.

“Um problema mental ou emocional não promove a virtude nem aumenta a profundidade do relacionamento com Deus”, disse McAllister. “Sabemos que com a noite escura, as noites por si só aumentam muito o amor, a humildade, a paciência e coisas do tipo. E elas decididamente preparam a pessoa para uma oração mais profunda.”

A palestra focou em algumas cartas de madre Teresa, que descrevem um vazio e uma escuridão espiritual, basicamente uma incapacidade de sentir a presença de Deus.

“A escuridão é tão escura, e eu estou sozinha”, escreveu santa Teresa de Calcutá. “Indesejada, abandonada. A solidão do coração que quer amor é insuportável. Onde está minha fé? Mesmo lá no fundo, não há nada além de vazio e escuridão. Meu Deus, quão dolorosa é essa dor desconhecida? Ela dói sem cessar”.

Santa Teresa de Calcutá escreveu que “o lugar de Deus em minha alma está vazio, não há Deus em mim” e “eu apenas anseio e anseio por Deus e então sinto que ele não me quer — ele não está lá”.

McAllister disse que outros santos tiveram tais sentimentos e mencionou o poema do século XVI de são João da Cruz, “Noite Escura da Alma” e seus comentários subsequentes sobre esse poema. Ele descreve a crise de fé do místico espanhol e uma incapacidade de sentir a presença de Deus, embora Deus estivesse realmente presente e guiando a experiência.

“Na escuridão e seguro, pela escada secreta, disfarçado — oh, feliz acaso! — na escuridão e na ocultação, minha casa agora está em paz”, diz o poema de são João.

McAllister citou as descrições de são João sobre sua experiência, dizendo que "ele identifica, pelo nome, a melancolia e diz: não é disso que estou falando".

McAllister disse que uma "condição afetiva que sobrecarrega as pessoas" não descreve com precisão essas experiências, mas sim que a experiência empurrou são João a aproximar-se de Deus.

“Embora você possa experimentar a desolação da presença sentida de Deus nos sentidos, você está sendo purgado e atraído para mais perto de Deus, mas você não sente isso enquanto experimenta isso”, disse McAllister.

No caso de madre Teresa, McAllister comparou e contrastou os sintomas descritos em seus escritos com os critérios usados ​​para diagnosticar um transtorno depressivo.

Segundo McAllister, a depressão frequentemente inclui uma introspecção doentia e uma falta de realismo. Alguém que tem depressão clínica, disse ele, frequentemente vai experimentar fadiga crônica, insônia. Ele também disse que a depressão, por si só, não promove a virtude: “É por isso que é chamada de transtorno”.

Ele citou os escritos da santa para mostrar que ela buscava respostas para sua escuridão espiritual, como quando ela disse ao seu confessor: “Cada vez o seu sim ou não [a uma pergunta] me satisfez como a vontade de Deus.”

Ele também disse que ela não experimentou os outros sintomas que comumente acompanham a depressão. Os frutos de sua experiência, disse ele, também não indicam um transtorno como a depressão.

“Para que serve isso [escuridão espiritual] em si mesmo?”, perguntou McAllister retoricamente. “Isso traz humildade, caridade, gentileza e crescimento em Cristo? E vejam o que aconteceu. Sim, com certeza.”

A conferência contou com a presença de várias freiras missionárias da Caridade e membros leigos da ordem, alguns padres e alguns professores e alunos de pós-graduação.

O padre Brian Kolodiejchuk, presidente do Instituto Madre Teresa, disse à CNA, agência da inglês da EWTN News, que a organização funciona como “o braço acadêmico do Centro Madre Teresa” que se concentra em seus escritos e suas palavras. Ele disse que há “muito mais profundidade na santidade de madre Teresa” do que muitos percebem.

“Acho que ela tem uma mensagem para a Igreja”, disse Kolodiejchuk. “Ela foi uma das grandes figuras do último século.”