QUITO, 12 de set de 2024 às 13:07
“Precisamos de Cristo para amar. Sem Jesus Cristo não sabemos amar”, disse o bispo de Orihuela-Alicante, Espanha, dom José Ignacio Munilla, ontem (11) ao 53° Congresso Eucarístico Internacional em Quito, Equador.
O bispo e teólogo espanhol falou sobre a importância da graça divina para poder viver o mandamento do amor. Em tom enfático, perguntou aos milhares de presentes: “Poderíamos cumprir o mandamento de amar uns aos outros como Jesus nos amou, ou mesmo o mandamento de amar o próximo como a si mesmo, sem a graça de Jesus Cristo? Impossível".
Na conferência com o tema “O Sagrado Coração de Jesus, uma exigência de fraternidade”, dom Munilla disse que o ser humano “está enfraquecido pelo pecado” e, portanto, “não somos capazes de amar”.
“Precisamos do Coração de Jesus como escola de amor. Sem o amor infinito de Deus, que funda a fraternidade evangélica, não existe tal esperança”, disse o bispo no quarto dia do evento global, do qual participaram delegações de 54 países.
Dom Munilla dirigiu-se especialmente às pessoas que sofrem feridas emocionais e afetivas em qualquer uma das suas formas, ao dizer que “sem a graça de Cristo é impossível curá-las”.
“Por exemplo, narcisismo. Quanto o narcisismo nos faz sofrer? Panssexualismo. Quanto o sexo divorciado do amor nos faz sofrer? A desconfiança. Quanto essa distância entre nós nos faz sofrer? Não confiamos um no outro porque falhamos um com o outro muitas vezes. Todas essas feridas emocionais precisam ser curadas pelo Coração de Cristo”, disse dom Munilla.
O bispo disse que através do Sagrado Coração de Jesus revelado nos Evangelhos, e ao qual disse ter especial devoção, é possível “confiar, doar-nos generosamente, viver na pureza, esquecer-nos e doar-nos generosamente”.
No início do seu discurso, dom Munilla disse que o Congresso Eucarístico Internacional deste ano destaca o fato de que o Equador foi o primeiro país a se consagrar ao Sagrado Coração de Jesus há 150 anos e também o primeiro a organizar um Congresso Eucarístico Nacional dez anos depois da consagração.
O bispo também comparou a consagração à imagem do Sagrado Coração de Jesus no cerro de los Ángeles, na Espanha, que traz a inscrição “Reinarei na Espanha”, ao sugerir que no Equador, no centro do mundo, também se poderia dizer “Eu reinarei no mundo”.
“Que Cristo reine, que Cristo reine, que o reinado de Cristo se torne realidade. Proclamamos isso daqui, do centro do mundo”, disse o bispo.
“Existimos porque somos amados”
Dom Munilla disse também que neste ano se comemoram os 350 anos da revelação do Sagrado Coração de Jesus a santa Margarida Maria Alacoque, que recebeu uma mensagem crucial: “Eis este coração que tanto amou os homens”. Porém, logo em seguida a santa recebeu a mensagem de que esse amor muitas vezes foi retribuído com ingratidão.
“É um drama que Deus não seja correspondido, que Deus esteja lhe dizendo 'eu te amo', 'eu te amo', e que às vezes respondemos com indiferença”, disse o bispo espanhol.
Apesar da rejeição do homem, dom Munilla diz que o Sagrado Coração de Jesus é “um grande sinal” que destaca “a declaração de amor que Deus fez à humanidade”.
“O sinal do coração de Jesus é: existimos porque somos amados (…) Se eu não tivesse sido amado por uma decisão muito livre de Deus, que decidiu me trazer ao mundo por amor, eu não existiria”, disse o bispo ao público.
“Se Deus me ama… não tenho o direito de me desprezar”
Dom Munilla disse que muitas pessoas sofrem de baixa autoestima, sentindo-se desvalorizadas diante de críticas ou falta de aceitação. O bispo disse que para enfrentar a atual crise de sentido é fundamental compreender que “Deus me ama, Deus me ama”.
“Se Deus me ama e me quer, e isso é o que o Coração de Cristo revelou, não tenho o direito de me desprezar ou de pensar que esta vida não tem sentido”, disse dom Munilla.
Deus é Pai
O bispo disse que chamamos Deus de Pai, antes de tudo, porque ele nos criou a todos e “criou o mundo e pensou no bem de todos os seus filhos”.
“Deus Pai quer que todos conheçam Jesus Cristo (…) Deus Pai enviou seu Filho ao mundo para nos redimir do pecado. Jesus resgatou-nos ao preço do seu sangue derramado para obter o perdão dos pecados, e a nossa fé confessa que a sua redenção não se limitou a perdoar-nos, mas, no auge da sua misericórdia, elevou-nos à condição de filhos, num sentido muito superior ao que tivemos para a criação”, disse o teólogo espanhol.
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Dom Munilla disse que Deus Pai “nos torna participantes da filiação divina de Jesus Cristo”.
“Somos filhos no Filho. É incrível. É como se estivéssemos enxertados na relação pai-filho que existe entre Jesus e o Pai. E a graça de Cristo nos introduz nessa relação”, disse o bispo.
Em poucas palavras, dom Munilla disse ao público que “em Jesus Cristo somos introduzidos no seio da Santíssima Trindade”.
Mas ao contrário do que acontece no resto da criação, “essa filiação sobrenatural deve ser aceita gratuitamente pela fé” e por cada um através do sacramento do Batismo.
O bispo também foi claro ao dizer que “não há outro nome debaixo do céu pelo qual possamos ser salvos”.
“É Jesus quem nos salva, é o que diz em Atos dos Apóstolos, capítulo quatro, versículo 12 diz : 'Não há outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos' ”.
Coração de Jesus, escola de amor
Dom Munilla disse que anunciar a “maravilhosa paternidade de Deus” traz consigo muitas consequências para o homem, principalmente que somos chamados a descobrir uma relação de “fraternidade” íntima com o Senhor; e consequentemente, o Sagrado Coração de Jesus é a chave para conseguir isso, pois é a “escola do amor” que permite esse vínculo.
“Permitam-me esta expressão: O Coração de Jesus é a escola humana do amor divino e é a escola divina do amor humano. Digo que é a escola humana do amor divino porque, com linguagem humana, Jesus, que é o revelador do Pai, nos diz que Deus é amor. Ele não só me ensina a amar, não só me diz que Deus é amor, mas me permite amar, me dá a graça de amar”.
Dom Munilla disse que o pecado original e suas consequências “enfraqueceram muito a capacidade de amar do ser humano”, mas que o próprio Cristo proporcionou ao ser humano o caminho para se santificar através da Eucaristia, que “nos configura com o coração de Jesus”.
Do coração de Jesus brota a Eucaristia
Dom Munilla falou sobre a profunda ligação entre a imagem do Coração de Jesus e a Eucaristia. O bispo disse que na Última Ceia, na qual foi instituída a Eucaristia, o discípulo amado, são João Evangelista, reclinou a cabeça sobre o peito de Cristo.
“Esse é um símbolo que o Coração de Jesus nos dá a Eucaristia. Vocês se lembram?: 'Ansiava por comer convosco esta Páscoa antes de sofrer' (cf Lc. 22, 15)."
“O Coração de Jesus nos dá a Eucaristia, mas, ao mesmo tempo, a Eucaristia nos configura com o Coração de Jesus. São dois movimentos simultâneos e rotativos: do Coração de Jesus brota a Eucaristia, e da Eucaristia brota essa transformação do meu coração de pedra num coração semelhante ao de Jesus”.
Dom Munilla disse que, ao compreender que o grande milagre da transformação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus ocorre na Eucaristia, “a comunhão frequente bem realizada e a adoração eucarística serão chaves para o milagre da transformação interior".
“Você, ao receber Jesus Cristo, também é transformado, aprende a amar. Se aprende a amar, muda sua família; há uma transubstanciação também. E muda seu trabalho, porque antes você trabalhava amargurado, mas agora você trabalha vocacionalmente. Muda a sua vida, muda o seu trabalho, muda a sua vida na paróquia”, disse o bispo.
Por fim, dom Munilla falou ao público sobre a importância de “estar apaixonados pela Eucaristia”.
“Porque a Eucaristia será responsável por nos cristificar. Nós nos eucaristizamos para nos cristificarmos”, disse o bispo.
“Termino dirigindo-me ao Coração Imaculado de Maria, para que também ela nos ensine a amar (…) Olhemos para Maria: nunca houve na história um coração humano indiviso como o dela. E por isso invocamos com fé: ‘Sagrado Coração de Jesus, confio em Ti; Doce Coração de Maria, seja minha salvação' ”, disse dom Munilla ao concluir.