O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé (DDF), cardeal Víctor Fernández, autor do documento que aprova a experiência espiritual de Medjugorje, disse que o papa Francisco não deseja confirmar a sobrenaturalidade dos acontecimentos porque teria “consequências muito fortes sobre espiritualidade de muitos fiéis” e as mensagens poderiam ser confundidas com o Evangelho ou com os escritos dos santos.

A Santa Sé aprovou hoje (19) a experiência espiritual ligada a Medjugorje sem confirmar o seu caráter “sobrenatural”, prática que se tornou comum desde a publicação das novas normas para o estudo de supostas aparições na Igreja.

Baseado nesse novo regulamento, publicado em 17 de maio, a Santa Sé deu seu veredito sobre nove supostas aparições marianas em lugares como Índia, Espanha, Itália, Amsterdã e Porto Rico.

Embora a Santa Sé tenha aprovado a maioria delas, em todas as ocasiões evitou ratificar que as mensagens vinham de Nossa Senhora.

O regulamento diz que das decisões tomadas pelas autoridades eclesiásticas relativas a esse tipo de fenômenos, “de forma habitual, não se pode esperar um reconhecimento positivo” sobre sua origem divina.

Devido à grande devoção à “Rainha da Paz” e ao crescente número de peregrinos que chegam ao santuário na Bósnia-Herzegovina, a Santa Sé deu hoje (19) uma conferência de imprensa que contou com a presença do cardeal Fernández, do secretário da seção doutrinária do Dicastério, monsenhor Armando Matteo; e do diretor editorial do Dicastério para a Comunicação, Andrea Tornielli.

No final do briefing, respondendo a uma dos jornalistas presentes, o cardeal Fernández falou sobre as razões pelas quais o papa Francisco preferiu, nesta ocasião, “não ir mais longe” e considerar a “nulla osta” (Nada impede, em italiano) como “absolutamente suficiente”.

Teria “consequências muito fortes na espiritualidade de muitos fiéis”

A jornalista da rede de televisão italiana Mediaset Italia, Valentina Renzopaoli, perguntou à autoridade da Santa Sé “por que não foi possível dar indicações mais precisas sobre os videntes”, cujas experiências continuam a ser consideradas “supostas”, razão pela qual disse que “nada muda em relação ao que nós sabíamos até agora.”

Em primeiro lugar, o cardeal argentino disse que a Santa Sé permitiu a leitura dos textos publicados e que “são edificantes”.

No entanto, o prefeito do DDF disse que caso for confirmado “que têm uma origem sobrenatural, e que foram verdadeiramente transmitidos pela Virgem”, tornam-se ainda “mais importantes” do que os escritos de alguns santos.

O cardeal Fernández deu como exemplo os textos de santa Teresa d’Ávila, “que não recebeu este tipo de mensagens, e escreveu sob sua capacidade, na vida normal da Graça”. Por isso, disse o cardeal, “é tão difícil chegar a uma decisão desse tipo”.

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“De 1980 até hoje, quantas declarações de sobrenaturalidade houve? A gente nem sabe bem, são umas três ou quatro. E dessas três ou quatro, não temos certeza de algumas, porque foram feitas sem esperar a conclusão do dicastério”, disse o prefeito do DDF.

No entanto, o cardeal disse que no mesmo período aconteceram 3.159 beatificações e canonizações na Igreja.

“E a questão é: por que é tão difícil chegar a essas conclusões e fazer [reconhecer] algum beato e santo parece muito mais fácil?”

“Exatamente porque, especialmente quando há textos e mensagens, há sempre o risco, se for feita uma declaração de sobrenaturalidade, de não haver muita distinção entre o Evangelho e esses textos, que são considerados mais importantes do que os textos que são tão belos e ricos dos grandes autores espirituais”.

O prefeito do DDF disse que “é uma decisão que tem consequências muito fortes na espiritualidade de muitos fiéis”.

Papa Francisco considera ser “absolutamente suficiente”

O cardeal disse que sempre há a possibilidade de um papa decidir avançar e ver se pode ser feita uma declaração de sobrenaturalidade.

O papa me disse explicitamente: 'Não, de forma alguma, considero a nulla osta absolutamente suficiente. E não há necessidade de ir mais longe em direção a uma declaração de sobrenaturalidade’ ”.

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Fernández disse que o papa considera “muito, muito difícil” chegar a esse tipo de conclusão porque não existe uma “varinha mágica”.

Segundo o cardeal, a decisão de aprovar a experiência espiritual de Medjugorje é suficiente para dizer aos fiéis: “podem rezar à Rainha da Paz, o culto público é permitido, podem ser feitas peregrinações organizadas pelas dioceses, e as mensagens recolhidas podem ser lidas sem perigo.”

“Há alguns esclarecimentos, que se alguém tiver dúvidas pode ler. Esse é o nulla osta, que para o papa Francisco é suficiente. Não há necessidade de ir mais longe”, disse o cardeal.