19 de set de 2024 às 15:41
Uma nova trilha de peregrinação chamada “Pilgrims of Hope Way” (Caminho dos Peregrinos da Esperança, em inglês) foi inaugurada em 14 de setembro em Jerusalém. O evento marcou o 60º aniversário da Maison Abraham (Casa de Abraão, em francês), uma casa de hóspedes para peregrinos criada pela Secours Catholique-Caritas France (Serviço de Ajuda Católica da Cáritas França).
A Casa de Abraão está no topo de uma colina no coração do bairro muçulmano de Ras al-Amud, em Jerusalém Oriental. De lá, a vista se estende pelos muros de Jerusalém, abrangendo a cidade, do monte Moriá (o monte do Templo/Complexo de Al-Aqsa) até o Monte Sião.
“Acolhemos peregrinos de todas as religiões, especialmente os mais pobres. Essa é a missão que nos foi confiada pelo papa Paulo VI em 1964”, disse Bernard Thibaud, diretor da casa, à CNA, agência em inglês da EWTN. “Também nos pediram para promover o encontro com os moradores do bairro”.
Naquela época, a situação política e geográfica era muito diferente. A casa estava sob o domínio jordaniano, e árabes de todo o Oriente Médio podiam viajar para Jerusalém de ônibus. Apenas três anos depois da inauguração, e até hoje, a casa está localizada na área de Jerusalém sob ocupação israelense.
“Temos principalmente visitantes cristãos. Cerca de 10% a 15% são muçulmanos, especialmente durante o Ramadã, e alguns grupos de judeus — aqueles que se sentem confortáveis ao visitar um bairro árabe”, disse Thibaud.
Por ocasião do 60º aniversário, o papa Francisco enviou uma mensagem de encorajamento “para continuar essa obra de caridade, para que essa casa possa permanecer sempre um lugar de acolhida, encontro e diálogo para todos os filhos de Abraão que sinceramente buscam entrar em um relacionamento com Deus e com o próximo”. Ele também disse querer que o Caminho “seja um sinal de esperança, inspirando os corações das pessoas e líderes desta região a sentimentos de paz”.
Em 14 de setembro, o vigário geral do Patriarcado Latino de Jerusalém, monsenhor William Shomali, abençoou o Caminho dos Peregrinos da Esperança na presença de muitos padres, religiosos e fiéis leigos — entre eles cristãos, muçulmanos e judeus.
Entre as autoridades presentes estavam o cônsul-geral da França em Jerusalém, Nicolas Kassianides, o arcebispo de Reims, França, dom Éric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal Francesa, que celebrou a missa, o diretor do Secours Catholique, Didier Duriez, e os diretores da Pontifícia Missão e da Cáritas em Jerusalém, respectivamente Joseph Hazboun e Anton Asfar.
O Pilgrims of Hope Way foi concebido como uma reflexão sobre a missão da Casa de Abraão. A rota passa sob o jardim e os terraços da casa, marcada por 15 estações com azulejos de cerâmica com citações da Bíblia, da Bíblia hebraica e do Alcorão.
“É inspirado por valores cristãos, mas achamos que pessoas de todas as fés podem encontrar inspiração”, disse Thibauld à CNA. “A mensagem central é hospitalidade: precisamos praticar a hospitalidade, e isso deve ser expandido, que é a essência da misericórdia”, disse Thibaud.
A primeira seção da peregrinação foca na hospitalidade e inclui cinco estações. Um ícone representando Abraão e Sara dando as boas-vindas aos três estrangeiros domina a pequena praça. “Desde o início do nosso caminho, somos convidados a meditar sobre o encontro com o eterno por meio da acolhida incondicional de todos os estrangeiros”, disse Thibaud.
A segunda seção é chamada “Fé e Caridade” e inclui quatro estações: a fé de Abraão, que estava pronto para oferecer seu único filho no monte Moriá; a fé do peregrino representada pelo monte Sião; a caridade do bom samaritano; e a dos justos.
“É isso que a Cáritas é e o que nos conduz até hoje”, disse Thibaud. O nome “Pilgrims of Hope” está conectado tanto à história da Cáritas França quanto ao próximo Jubileu. A Casa de Abraão também foi o local de fundação da Cáritas Jerusalém em 1967.
A terceira seção se chama “Oração e Hospitalidade” e tem três estações. Ela visa honrar a história da Casa, que costumava ser o lar da comunidade beneditina e do seminário sírio-católico (1901–1952). Algumas citações da regra de são Bento estão incluídas, como a famosa “Que todos os hóspedes que chegam sejam recebidos como Cristo”.
A última seção, sobre “Misericórdia e Serviço”, está na parte do jardim voltada para o monte Sião e o Cenáculo. O Caminho termina em frente ao ícone da “lavagem dos pés”.
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“Durante o Caminho, aprendemos que a hospitalidade se expande com o gesto do lava-pés de Jesus, que nos chama a praticar a misericórdia”, disse Thibaud. A última estação cita o profeta Miqueias (6,8) sobre o que é bom diante de Deus: “praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar humildemente com seu Deus”.
Em seu dia inaugural, a peregrinação levou cerca de 45 minutos para ser concluída, com os participantes parando em cada seção e reservando um tempo para meditar e rezar. Nas diferentes áreas, houve leituras, breves meditações, momentos de silêncio, cantos e orações.
“Normalmente nos referimos a todas as nossas peregrinações como uma 'Peregrinação da Esperança' — é como uma marca registrada para nós”, disse Thibaud. O nome faz referência ao Jubileu da Esperança 2025. “Também estamos esperando que os peregrinos visitem a Terra Santa e mostrem sua solidariedade e comunhão com a Igreja aqui. Quando as pessoas vêm como peregrinos, elas transmitem sua esperança, e as pessoas locais que as acolhem recebem alegria e esperança de que as coisas podem começar de novo. É exatamente isso que eles representam neste momento: peregrinos de esperança”.
Desde 7 de outubro do ano passado, dia em que o grupo terrorista Hamas invadiu Israel, matou 1,4 mil civis e sequestrou centenas de israelenses, a Casa de Abraão está quase vazia.
“Os únicos que estão vindo são as pessoas que vivem na pobreza, aquelas que sabem sobre as dificuldades e a esperança. O mesmo aconteceu durante a pandemia da covid”, disse Thibaud. “Pessoalmente, acho que as pessoas pobres podem dar um testemunho de esperança para os outros que podem não ter tantas dificuldades”.
Thibaud disse que a Secours Catholique-Caritas France tem um programa específico para ajudar pessoas necessitadas a economizar dinheiro para que possam fazer uma peregrinação à Terra Santa. O programa leva mais de um ano.
“Eles trabalham duro para economizar dinheiro: eles fazem atividades, fazem bolos, vendem cartões postais... e temos vários fins de semana de preparação”, disse Thibaud.
Por ocasião do aniversário, cerca de 15 peregrinos em situação de pobreza na França foram à Casa de Abraão para celebrar e falar sobre seu próprio caminho de fé e esperança.
Um deles, Peter S., deu seu testemunho: “Quando vim à Terra Santa pela primeira vez numa peregrinação como esta, eu me encontrei e percebi que minha vida iria mudar. Agora sou ativo na paróquia, vou à missa... Estou fazendo 60 anos, ainda sou tão pobre quanto antes, mas estou feliz”.
Quando esses peregrinos chegam à Terra Santa, eles já se conhecem há muito tempo.
Thierry D., pai de cinco filhos, incluindo três crianças com deficiência, disse: “Quando cheguei, conheci pessoas do nosso grupo de peregrinos que se tornaram família. Até agora ainda mantemos contato uns com os outros; eles vieram ao meu 25º aniversário de casamento. Esse é o significado dos ícones no Caminho dos Peregrinos da Esperança: experimentei o lava-pés na França, assim como em Belém, e isso mudou minha vida”.
Em alguns meses, Thibaud vai se aposentar de seu cargo de diretor da Casa de Abraão.
“Para mim, foi um privilégio estar lá por quatro anos”, disse Thibaud. “Sempre me lembrarei da alegria do povo palestino, com quem trabalhei, sua maneira de encarar a vida, de lidar com todos os problemas com muita paciência e alegria. Desde o começo, minha fé foi construída pelo testemunho das pessoas mais sofredoras e pobres, elas continuam construindo minha fé por meio de seu testemunho brilhante através das injustiças e dificuldades da vida.”