Um grupo de freiras carmelitas em Arlington, Texas, EUA, anunciou este mês que passaria a se associar à Fraternidade São Pio X (FSSPX), grupo tradicionalista que não está em plena comunhão com a Igreja e tem um status canonicamente irregular.

As freiras estão sob investigação da diocese de Fort Worth sobre acusação de abuso sexual contra a madre superiora da ordem.

As freiras resistiram a um decreto da Santa Sé sobre seu mosteiro e pediram à Justiça ordem de restrição contra o bispo de Fort Worth, dom Michael Olson. A rejeição da autoridade das freiras "é escandalosa e é permeada pelo odor do cisma", disse dom Olson.

Líderes da Igreja já disseram a mesma coisa sobre a FSSPX, fraternidade de padres dedicada à celebração da missa tradicional em latim e à oposição às mudanças trazidas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).

O princípio animador do grupo "é o sacerdócio e tudo o que lhe diz respeito e nada além do que lhe diz respeito", diz a FSSPX em seu site. O grupo foi fundado em 1970 pelo arcebispo emérito de Tulle, França, dom Marcel Lefebvre, arcebispo francês que liderou no Vaticano II a resistência a muitas das mudanças que acabaram adotadas.

Além da mudança na liturgia, dom Lefebvre também se opôs ao "ecumenismo – um ponto de vista que considera todas as religiões como benéficas e válidas – e à colegialidade – que insiste que a Igreja seja governada principalmente pelo processo democrático e pelas conferências episcopais", segundo o site do grupo.

 

O grupo administra priorados, capelas, missões e seminários em todo o mundo. Ele congrega centenas de padres e seminaristas.

O momento mais crítico do grupo ocorreu em 1988, quando dom Lefebvre consagrou quatro bispos em Écône, Suíça, contra determinação explícita do papa são João Paulo II. Poucas horas depois, a Santa Sé disse que Lefebvre e os quatro bispos haviam incorrido em excomunhão.

Em seu motu proprio Ecclesia Dei, são João Paulo II disse que  "não se pode permanecer fiel à Tradição rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja".

O papa Bento XVI suspendeu a excomunhão em 2009, embora tenha escrito numa carta que a FSSPX não tem status canônico e, portanto, "seus ministros não exercem ministérios legítimos na Igreja".

O papa Francisco determinou que, durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia de 2015-2016, as confissões ouvidas pelos padres da FSSPX fossem válidas. Depois, o papa estendeu a validade dessa ordem indefinidamente.

Em 2017, Francisco aprovou uma maneira de os padres do grupo celebrarem casamentos validamente, dando aos bispos diocesanos ou outros ordinários locais a capacidade de autorizar as celebrações.

 

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 Católicos podem assistir a uma missa celebrada por padres da FSSPX?

Alguns católicos procuram missas ministradas pela FSSPX devido à sua solenidade e fidelidade às formas anteriores da liturgia. Mas isso é permitido pela Igreja?

Jimmy Akin, apologista sênior do grupo Catholic Answers (Respostas Católicas, em inglês), disse à CNA, agência em inglês da EWTN, que a FSSPX "não está atualmente em cisma".

"Em 1988, João Paulo II determinou que as ordenações episcopais que a sociedade havia conduzido em desobediência ao pontífice romano implicavam na prática a rejeição da primazia romana e, portanto, constituíam um ato cismático", disse Akin.

"Isso desencadeou a penalidade automática de excomunhão por cisma para os bispos envolvidos e, nas palavras de João Paulo II, para qualquer um que desse 'adesão formal' ao cisma".

O levantamento das excomunhões pelo papa Bento XVI em 2009 "implica que a FSSPX não está mais em cisma, uma vez que o cisma acarreta uma excomunhão automática", disse ele.

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"Se eles ainda estivessem em estado de cisma, as excomunhões não poderiam ter sido suspensas sem que a lei as reimpusesse imediatamente. Portanto, eles não estão mais em cisma".

Mas os padres da sociedade estão "celebrando a missa sem as devidas permissões, criando uma situação canonicamente irregular", disse Akin.

Ele disse que o Código de Direito Canônico diz que os católicos "podem participar do sacrifício eucarístico e receber a sagrada comunhão em qualquer rito católico". Como a FSSPX usa o rito aprovado da missa de 1962, "os fiéis podem assistir e receber a Sagrada Comunhão".

"O fato de estar sendo celebrada em uma situação canonicamente irregular não muda isso", disse Akin.

Ele disse que "toda vez que um padre comete um abuso litúrgico, isso cria uma situação canonicamente irregular", mas que a Igreja "não quer que os leigos tenham que julgar quais situações canonicamente irregulares envolvem 'muito' desvio da lei".

Assim, o "direito dos fiéis de assistir e receber a sagrada Comunhão em qualquer rito católico é protegido".

Embora os fiéis não sejam estritamente proibidos de participar das missas da FSSPX, os líderes da Igreja já desaconselharam isso, exceto em circunstâncias graves.