O papa Francisco disse ontem (1), na véspera da abertura da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade, que a Igreja deve primeiro reconhecer seus pecados e pedir perdão antes de poder ser confiável na execução da missão que Jesus Cristo confiou à sua Igreja.

“O pecado é sempre uma ferida nos relacionamentos; nosso relacionamento com Deus, nossos relacionamentos com nossos irmãos e irmãs”, disse o papa em liturgia penitencial na basílica de São Pedro, no Vaticano. Mais de 500 pessoas estavam presentes.

“Como poderíamos ser credíveis na missão se não reconhecemos e admitimos os nossos erros e não nos curvamos para curar as feridas que causamos com os nossos pecados?”, perguntou o papa.

Na celebração penitencial noturna, confissões e testemunhos foram anunciados por bispos, religiosos e leigos que foram impactados por pecados cometidos contra menores, migrantes, vítimas de guerra e pobreza, contra o meio ambiente, contra povos indígenas, contra as mulheres e contra a sinodalidade.

Depois de cada uma das dez confissões e testemunhos lidos em voz alta na liturgia, houve um pedido de perdão.

'Pecados contra a paz'

“Peço perdão a Deus Pai, sentindo vergonha pela falta de coragem necessária para buscar a paz entre os povos e as nações em reconhecimento a cada vida humana em todas as suas fases”, disse o arcebispo de Mumbai, Índia, dom Oswald cardeal Gracias.

“Para fazer a paz, é preciso coragem”, disse o cardeal Gracias. “Diga ‘sim’ ao encontro [e] ‘não’ ao choque; ‘sim’ aos respectivos acordos e ‘não’ às provocações.”

Bispos, religiosos e leigos fizeram confissões e deram testemunhos em celebração penitencial ontem (1) na véspera da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade. Vatican Media
Bispos, religiosos e leigos fizeram confissões e deram testemunhos em celebração penitencial ontem (1) na véspera da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade. Vatican Media

A irmã Dima Fayad também deu seu testemunho sobre os pecados contra a paz que ela testemunhou em sua terra natal, a Síria.

“De fato, a guerra frequentemente consegue trazer à tona o pior lado de nós. Ela traz egoísmo, violência e ganância à tona”, disse ela.

“No entanto, também pode trazer à tona o que há de melhor em nós — a capacidade de resistir, de nos unirmos em solidariedade e de não ceder ao ódio”.

'Pecados de abuso'

Laurence, leigo sul-africano que sofreu abuso sexual quando criança, disse que a falta de transparência e responsabilização por parte das autoridades da Igreja quebrou a confiança dos sobreviventes e tornou a jornada de cura dele e deles mais difícil.

“Durante décadas, as acusações foram ignoradas, encobertas ou tratadas internamente em vez de relatadas às autoridades”, disse Laurence.

“Essa falta de responsabilização não só permitiu que os abusadores continuassem com seu comportamento, mas também corroeu a confiança que muitos depositavam nessa instituição”.

O arcebispo de Boston, EUA, dom Seán cardeal O'Malley, presidente emérito da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, pediu perdão por aqueles que “usaram a condição de ministério ordenado e vida consagrada” para cometer pecados contra crianças.

Bispos, religiosos e leigos que foram impactados por pecados cometidos contra menores, migrantes, vítimas de guerra e pobreza, contra o meio ambiente, contra povos indígenas, contra as mulheres e contra a sinodalidade fizeram confissões e deram testemunhos em celebração penitencial ontem (1) na véspera da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade. Vatican Media
Bispos, religiosos e leigos que foram impactados por pecados cometidos contra menores, migrantes, vítimas de guerra e pobreza, contra o meio ambiente, contra povos indígenas, contra as mulheres e contra a sinodalidade fizeram confissões e deram testemunhos em celebração penitencial ontem (1) na véspera da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade. Vatican Media

“Quanta vergonha e dor sinto ao falar sobre o abuso sexual de menores e de pessoas vulneráveis”, disse o cardeal O’ Malley. “Abusos que roubaram a inocência e profanaram a sacralidade daqueles que são fracos e desamparados”.

Mais em

'Pecados contra os migrantes'

Sara Vatteroni, que trabalha com a instituição de ajuda a migrantes La Fondazione Migrantes na Toscana, Itália, ficou ao lado de Solange, uma migrante da Costa do Marfim, enquanto ela dava seu testemunho diante do papa na basílica de São Pedro.

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“O Mediterrâneo é considerado a rota de migração mais perigosa do mundo porque uma média de seis pessoas perdem a vida todos os dias”, disse ela.

“Tudo parece um jogo brutal do destino do qual todos somos espectadores, porque tudo o que podemos fazer é esperar na praia por aqueles que sobrevivem.”

'Pecados contra a criação, contra as populações indígenas'

O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o cardeal Michael Czerny, pediu perdão pelos pecados contra o meio ambiente e contra as populações indígenas.

“Peço perdão e sinto vergonha pelo que nós, também os fiéis, fizemos para transformar a criação de um jardim num deserto”, disse o cardeal. “Peço perdão e sinto vergonha por não termos reconhecido o direito e a dignidade de cada pessoa humana, discriminando-a e explorando-a”.

O papa Francisco disse ontem (1), na véspera da abertura da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade, que a Igreja deve primeiro reconhecer seus pecados e pedir perdão antes de poder ser confiável na execução da missão que Jesus Cristo confiou à sua Igreja. Vatican Media
O papa Francisco disse ontem (1), na véspera da abertura da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade, que a Igreja deve primeiro reconhecer seus pecados e pedir perdão antes de poder ser confiável na execução da missão que Jesus Cristo confiou à sua Igreja. Vatican Media

“Estou pensando em particular nos povos indígenas e quando fomos cúmplices de sistemas que favoreceram a escravidão e o colonialismo.”

'Pecados contra as mulheres, a família, a juventude'

O prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida; o cardeal Kevin Farrell; pediu perdão a Deus em nome de todas as pessoas na Igreja que falharam em reconhecer ou defender a dignidade das mulheres que foram exploradas e deixadas “mudas ou subservientes”.

Farrell também pediu perdão em nome da Igreja pelas vezes em que ela julgou e condenou as “fragilidades e feridas da família” e “roubou a esperança e o amor das gerações mais jovens” ao não apoiar seu crescimento e talentos.

'Pecados contra a pobreza'

O arcebispo de Rabat, Marrocos, dom Cristóbal cardeal López Romero, disse sentir vergonha quando os membros da Igreja se afastaram dos pobres, particularmente os clérigos que “se enfeitam no altar com objetos de valor que roubam o pão dos famintos”.

“Peço perdão, sentindo vergonha pela inércia que nos impede de aceitar o chamado de ser uma Igreja pobre dos pobres”, disse o cardeal Romero.

'Pecados de usar a doutrina como pedras a serem atiradas'

“Peço perdão, sentindo vergonha por todas as vezes que demos justificativa doutrinal a tratamentos desumanos”, disse o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o cardeal Víctor Manuel Fernández.

Celebração penitencial ontem (1) na basílica de São Pedro, no Vaticano. Vatican Media
Celebração penitencial ontem (1) na basílica de São Pedro, no Vaticano. Vatican Media

Segundo Fernández, muitos pastores “a quem é confiada a tarefa de confirmar irmãos e irmãs na fé não souberam guardar e propor o Evangelho como fonte viva de eterna novidade”.

'Pecados contra a sinodalidade; falta de escuta, comunhão e participação de todos'

O arcebispo de Viena, Áustria, dom Christoph cardeal Schönborn, falou sobre os obstáculos que impedem “a construção de uma Igreja verdadeiramente sinodal e sinfônica”.

“Peço perdão, sentindo vergonha por termos transformado autoridade em poder, sufocando a pluralidade, não ouvindo o povo, dificultando a participação de irmãos e irmãs na missão da Igreja”, disse o cardeal Schönborn.

A segunda e última sessão da fase de discernimento global do Sínodo da Sinodalidade começou hoje (2), com a celebração da missa com o papa Francisco.