4 de out de 2024 às 11:37
Desde outubro de 1717, Nossa Senhora da Conceição Aparecida inspira a criação de pinturas, esculturas, músicas, filmes e livros. A partir de Aparecida, muitas obras foram escritas, mas a doutora em Arquitetura Adriane Baldin, explora algo inédito: um olhar sobre Aparecida a partir das moradas que a abrigaram.
O livro Maria do Brasil – As Moradas da Santa de Barro fala da história, da arquitetura e das técnicas de construção das casas, capelas e igrejas que receberam a escultura desde que ela foi encontrada por três pescadores, no Rio Paraíba. A partir desse fio condutor, a autora também traça um panorama da vida e da cultura da época.
A ideia do projeto surgiu quando Adriane foi convidada para dar uma palestra na paróquia que frequenta. “Percebi, então, que havia poucos trabalhos acadêmicos sobre o tema e achei importante escrever sobre Aparecida com um viés histórico e cultural”, explica.
Quando começou a pesquisar, ela percebeu que havia um paralelo entre as casas dos brasileiros e as capelas de Aparecida. Para a autora, “o brasileiro deu a Aparecida algo muito seu, a forma de morar”.
Taipa de Mão e Taipa de Pilão
A primeira capelinha, edificada possivelmente em taipa de mão, precisou logo ser substituída por uma maior e mais resistente, dada a quantidade de devotos que iam rezar aos pés da santa.
Foi necessária a construção de uma igreja de maior porte, feita em taipa de pilão. Esse método construtivo, muito empregado em São Paulo, utilizava a terra crua, socada em formas de madeiras, os taipais, com um pilão.
Adriane relata que o barro era um material bastante utilizado, especialmente em localidades sem recursos, como o Vale do Paraíba e São Paulo de Piratininga. “Não havia mão de obra especializada no uso da pedra nos sertões coloniais paulistas” diz a autora. “Além disso, a região tinha uma terra boa, vinda dos muitos rios da região”.
Já no século XX, o grande santuário de Aparecida foi edificado em alvenaria de tijolo cozido, ao mesmo tempo em que esse material se popularizava na construção de casas.
Administradores das esmolas indicados por Portugal
Maria do Brasil – As Moradas da Santa de Barro, aborda também um problema que já assolava o Brasil e que prejudicou a construção de igrejas para abrigar a imagem de Aparecida: o desvio de dinheiro.
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Com a Lei do Padroado e com o controle do Estado sobre os cofres das capelas, as esmolas eram geridas por um administrador indicado pelo poder temporal. “Na história de Aparecida tivemos alguns administradores do reinado corruptos, que se beneficiaram dos seus cargos”, afirma Adriane. “Isso só mudaria no final do século 19, quando a República separa Estado e Igreja. Aparecida passou, então, a ser administrada por padres redentoristas alemães e a história mudou. Eles eram ótimos gestores”, afirma Adriane.
Aparições Marianas
O livro termina com um olhar sobre Maria não apenas como padroeira do Brasil, mas recordando que ele é Mãe de todas as nações.
Fátima (Portugal), Lourdes (França), Sonsoles (Espanha) e Guadalupe (México), entre outras devoções, manifestam a íntima ligação entre Maria e a cultura de cada povo.
Adriana acredita que “Maria estabelece vínculos com a humanidade no decorrer desses dois mil anos em que dividimos com Jesus a mesma Mãe, que se insere na história de cada população em um momento específico, criando laços coletivos, mas, ao mesmo tempo, individuais”.
Em Aparecida, algo semelhante ocorreu, na forma do encontro de alguns pobres pescadores com a Virgem. Encontro que mudou o rumo da história pessoal de cada um deles e moldou a religiosidade de todo o povo brasileiro.
Lançamento do Livro Maria do Brasil – As Moradas da Santa de Barro
Dia 05/10/2024 - 11 horas
Museu de Arte Sacra de São Paulo
Avenida Tiradentes 676 – Bairro da Luz – São Paulo - SP