Futuros cardeais de três continentes disseram ontem (8) que a Igreja no sul global tem muitos dons imateriais para dividir com o Ocidente, incluindo a riqueza das vocações sacerdotais e uma fé cheia de alegria.

“Quando o Santo Padre fala sobre periferias, penso que as periferias estão se movendo... Talvez as periferias estejam se movendo em direção à Europa”, disse o arcebispo de Tóquio, dom Tarcisius Isao Kikuchi, à CNA, agência em inglês da EWTN News, em entrevista coletiva ontem (8) sobre o Sínodo da Sinodalidade.

Os comentários do arcebispo japonês sobre as contribuições da Igreja fora da Europa foram ecoados pelo arcebispo de Korhogo, Costa do Marfim, dom Ignace Bessi Dogbo; e pelo arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), que também participaram da entrevista coletiva.

Todos participam do sínodo e serão criados cardeais num consistório em 8 de dezembro, conforme anunciado pelo papa Francisco no domingo (6).

O cardeal designado da Costa do Marfim, dom Dogbo, disse que o Sínodo da Sinodalidade discutiu o tema da troca de dons na manhã de ontem (8).

“Nós que viemos de dioceses africanas, podemos dizer que elas parecem ser pobres do ponto de vista material, mas espiritualmente essas dioceses são muito ricas. E a fé é vivida com alegria”, disse o arcebispo. “E isso é algo que devemos compartilhar com a Igreja universal.”

Os futuros cardeais dom Tarcisius Isao Kikuchi, dom Jaime Spengler e dom Ignace Bessi Dogbo em entrevista coletiva ontem (8) sobre o Sínodo da Sinodalidade. Daniel Ibáñez/CNA
Os futuros cardeais dom Tarcisius Isao Kikuchi, dom Jaime Spengler e dom Ignace Bessi Dogbo em entrevista coletiva ontem (8) sobre o Sínodo da Sinodalidade. Daniel Ibáñez/CNA

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Dom Dogbo também falou sobre a grande graça de muitas vocações sacerdotais na Igreja na África.

O arcebispo de Tóquio, dom Kikuchi, também falou sobre o grande número de vocações ao sacerdócio vindas de países da Ásia, embora diga que o Japão infelizmente não está incluído nisso.

“Há um ponto na [assembleia sinodal] em que discutimos a troca de dons de uma Igreja para outra — aqueles que têm e aqueles que não têm. Antigamente, era entendido como Igrejas ricas, aquelas que têm dinheiro e recursos, que apoiam os países pobres como na Ásia e na África”, disse dom Kikuchi.

Com mais vocações sacerdotais vindas de países asiáticos e africanos, no entanto, “a troca de dons está mudando... dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos”, disse o arcebispo de Tóquio.

Dom Spengler, presidente da CNBB e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) desde 2023, disse que o Brasil e outros países latino-americanos comemoram o aniversário da chegada de imigrantes da Alemanha, Itália e outros países ao continente, que completa 200 anos este ano.

“De alguma forma [esses imigrantes] promoveram um processo de evangelização na América Latina num contexto histórico diferente do nosso, e eles fizeram isso muito bem”, disse dom Spengler. “Hoje, se temos uma tradição cristã forte e viva [na América Latina], devemos isso aos imigrantes”.

O arcebispo de Porto Alegre disse que os imigrantes foram corajosos ao deixar seus próprios países e cruzar o oceano, em alguns casos há mais de 200 anos, para um continente onde havia pouco na época. Mas o mais importante, disse dom Spengler, é que eles trouxeram a fé católica com eles.

O arcebispo disse que o desafio atual para a Igreja em países tradicionalmente cristãos é entender como apresentar a fé para a próxima geração.