“Eu não sei se a abertura à possibilidade de homens casados exercerem o ministério ordenado no grau de presbítero é ou seria a melhor solução”, disse o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, ontem (8) na entrevista coletiva do Sínodo da Sinodalidade, no Vaticano. “Mas creio que precisamos sim de franqueza, parresia para usar uma expressão do Santo Padre, para tratar dessa questão também”.

Dom Jaime, presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), está no sínodo por ser também o presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam).

Ordenação de homens casados

Dom Jaime respondia a um jornalista que lhe perguntou sobre se o CELAM não poderia ter um papel para retomar a reflexão sobre a ordenação de homens casados, não só para a Amazônia. “É uma questão de disciplina da Igreja, não é uma questão teológica, sabemos disso”, disse dom Jaime.

Ele falou sobre a experiência do bispo prelado do Alto Xingu-Tucumã, dom Jesús María López Mauoléon, que, ao assumir a prelazia em 2019, só tinha um padre em um território que segundo dom Jaime é duas vezes maior que a Itália. “É uma realidade sim que precisa de aprofundamento”, disse ele.

Dom Jaime disse que a arquidiocese de Porto Alegre investe “em diáconos casados, permanentes”. “Eu imagino sim ali a partir da experiência do diaconato permanente talvez ver num futuro oxalá não muito distante se um ou outro desses homens não poderiam talvez ser ordenados presbíteros para uma comunidade específica”.

“É claro que isso exigiria e vai exigir de todos nós parresia, capacidade de abertura de coração. É uma questão que precisamos sim avançar. Qual é caminho? Eu não sei. Eu não tenho a resposta. Mas podemos e devemos sim abordar com coragem essa questão tendo presente sim aspectos teológicos em primeiro lugar, sem dúvida, bíblicos, teológicos, da tradição da Igreja, mas também atentos aos sinais dos tempos”, disse.

Rito Amazônico

Ao responder sobre se tinha alguma informação adicional sobre a fase de teste do rito amazônico anunciada pelo padre Agenor Brighenti há uns meses, dom Jaime disse que “atualmente se discute a possibilidade de um rito amazônico”.

A criação de um rito amazônico foi uma reivindicação feita no documento final do Sínodo da Amazônia, que aconteceu no Vaticano em 2019. Na exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, publicada no ano seguinte em resposta ao sínodo, o papa Francisco não estabeleceu a criação de um rito amazônico.

É verdade que nós temos comunidades em vários lugares, onde passam não dias ou semanas ou meses, mas anos sem a celebração da eucaristia”, disse ele.

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 “É verdade que no atual contexto, sobretudo no âmbito da CEAMA (Conferência Eclesial da Amazônia) há um grupo trabalhando sobre a possibilidade de um rito específico para aquela região”, continuou.

“Hoje na Igreja latina nós temos o rito romano que não só pode como deve ser inculturado nas diversas realidades”, disse ele. “Eu pessoalmente acho que nós podemos explorar de forma mais intensa essa possibilidade que a própria igreja concede de inculturação do rito romano”.

Para dom Jaime, “encontrar um rito que caracterize aquela região, um rito novo, eu creio que seria talvez até mais fácil do que encontrar talvez caminhos para a inculturação do rito romano propriamente dito”.

Sinodalidade e autoridade

Respondendo sobre a Sinodalidade na América Latina e no Caribe, dom Jaime falou que a “questão da autoridade hoje, na sociedade e no mundo é uma questão decisiva”.

“Estamos vivendo um momento por exemplo de crise das democracias, mas não só”, continuou ele. “Estamos conscientes também de uma crise nas instituições de mediação no seio da sociedade, seja internacional global, seja continental”.

Nesse contexto, ele citou o que Paulo VI dizia nos anos 70. “O ser humano hoje ouve muito mais os testemunhos que os mestres. E se ouve os mestres, é porque são testemunhas. Eu creio que aqui está em jogo toda a questão da autoridade. Ela não vem de um poder sociológico, mas de um testemunho ético, moral, e diria também religioso. Creio que aqui está a questão”.

Nomeação cardinalícia

Dom Jaime Spengler foi nomeado cardeal pelo papa Francisco no domingo (6). “Realmente eu não esperava essa nomeação nesse momento nem em outro momento”, disse dom Spengler. “Estamos aí com essa disposição de poder servir naquilo que formos solicitados da melhor forma possível”.

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“Para mim, o que sempre me guiou na minha vida primeiro como frade franciscano, depois como sacerdote, foi algo que prometi para mim mesmo no dia que fiz profissão na ordem franciscana: Jamais dizer não àquilo que a Igreja me solicitasse e ao longo desses anos todos eu tenho cumprido a promessa”, concluiu.