Nos próximos dias, não se surpreenda ao ver uma nova rodada de notícias sobre apoio à ordenação de mulheres no Sínodo da Sinodalidade.

É uma previsão razoável, considerando que, hoje (15), um grupo de defesa enviou um e-mail, obtido pelo jornal National Catholic Register, da EWTN News, convidando os delegados do sínodo para um evento promovendo a causa amanhã (16).

Organizado pela AmerIndia, rede de católicos progressistas latino-americanos, e com o tema "Chamadas a Ser uma Mulher Diácona", o almoço de pizza de hoje (15) conta com algumas mulheres dizendo por que estão convencidas de que foram chamadas para o ministério ordenado sacramentalmente, que a doutrina da Igreja não permite.

Jornalistas simpáticos provavelmente vão amplificar o evento, fazendo questão de de dizer que as palestrantes vêm de vários continentes, possivelmente até mesmo sugerindo que isso enfraquece a crítica de que a ordenação de mulheres é uma "questão de nicho" promovida por ocidentais ricos. Eles também provavelmente vão citar o número de delegados sinodais que estão presentes — isto é, se o total for favorável.

Ao fazer isso, eles seguirão um roteiro familiar que está sendo usado para influenciar o Sínodo da Sinodalidade — ou pelo menos as percepções sobre ele.

Outros eventos semelhantes realizados paralelamente ao sínodo serviram como uma espécie de catalisador para artigos de notícias e conteúdo de mídia social, amplificando um conjunto de objetivos progressistas, dando a impressão de que são temas dominantes no sínodo.

Por exemplo, em 8 de outubro, o grupo de defesa LGBTQ do padre jesuíta James Martin, Outreach, fez um evento à margem do sínodo. Ele incluiu vários católicos que se identificam com tendências homossexuais pedindo que a Igreja seja mais inclusiva, incluindo um homem civilmente casado com outro homem que disse que os católicos devem "permitir que o amor seja expresso".

Assim como o evento AmerIndia de hoje (15), o Outreach foi fechado para a imprensa. Mas o grupo divulgou seu próprio relatório sobre ele, que foi posteriormente ampliado em uma história do jornal progressista americano National Catholic Reporter. O padre Martin também usou sua grande influência nas mídias sociais para aumentar a visibilidade do evento, que ele descreveu como "histórico".

Curiosamente, o Reporter disse que havia mais de 70 delegados sinodais presentes, apesar do Outreach não ter incluído nenhuma informação sobre o total de participantes em sua descrição do evento fechado para a imprensa. O teólogo e organizador do Caminho Sinodal Alemão, Thomas Söding, que participa do sínodo como especialista, escreveu sobre o evento em seu blog diário: "não há muitas pessoas presentes, mas algumas estão".

Esses eventos paralelos e a cobertura subsequente deles parecem ter como objetivo aumentar a pressão sobre os delegados sinodais e a liderança da Santa Sé, sugerindo que o movimento por trás de causas como a ordenação de mulheres e a mudança da doutrina da Igreja sobre sexualidade é avassalador, e que não agir em relação a elas pode levar ao risco de parecer que eles não ouvem e são obstinados.

Apesar de o papa Francisco dizer que o sínodo não é um parlamento, o que ele reiterou no início da sessão que ocorre de 2 a 27 de outubro deste ano, outras características do ativismo político estão presentes ao redor e até mesmo no salão sinodal.

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Segundo o Katholisch , serviço de mídia da Conferência Episcopal Alemã, “sequências de discursos habilmente coordenadas” no salão sinodal são usadas para alcançar um tipo de “foco temático” nas sessões gerais, geralmente ampliando questões como ordenação de mulheres e a agenda LGBTQ. “O número de discursos sobre certos tópicos reforça sua urgência”, escreveu Ludwig Ring-Eifel sobre a tática.

Katholisch também diz que as caixas de correio dos delegados sinodais estão sempre cheias de convites para eventos paralelos, que, diz-se, são mais frequentes e mais progressistas do que na sessão do ano passado.

Esses eventos paralelos são um elemento particularmente interessante em um evento dedicado à sinodalidade. Um elemento importante da sinodalidade, foi dito, é a escuta, e a existência de um tipo de circularidade entre os mais altos níveis da Igreja universal e os níveis mais locais das Igrejas particulares.

O próprio Sínodo da Sinodalidade tem sido um exercício nesse tipo de circularidade, ao avançar do estágio diocesano para o nacional, depois para o continental, e, agora, para o universal, mas com esforços regulares para obter “feedback” dos níveis anteriores à medida que o processo avançava.

A presença de grupos ativistas tentando influenciar a assembleia sinodal parece romper essa circularidade. Assim como o lobby político, a dinâmica parece favorecer grupos com recursos, tempo e interesses especias para investir em ir a Roma para fazer lobby no sínodo. Em outras palavras, não há muitos católicos comuns.

O risco não é apenas que certas questões sejam exageradas na percepção mais ampla do sínodo. É também que outras preocupações, que provavelmente são mais importantes para um número muito maior de católicos, sejam ofuscadas.

Por exemplo, os organizadores do sínodo disseram na semana passada que o discurso de uma mãe sobre a importância da iniciação cristã para os jovens recebeu os aplausos mais altos até agora no salão sinodal. Mas pouco se falou desse discurso.

Porque “iniciação cristã para jovens” não é um interesse especial defendido nas margens do sínodo e amplificado pela mídia simpática. A ordenação de mulheres e questões LGBTQ são.

A presença de defesa de interesses especiais no Sínodo da Sinodalidade destaca a tensão entre o comprometimento da Igreja em ouvir e a influência de grupos bem organizados e orientados por agendas. Enquanto a sinodalidade enfatiza a circularidade frutífera, eventos de lobby em Roma correm o risco de distorcer a discussão.

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A liderança do Sínodo enfrenta agora a questão de saber se essa forma de ativismo interrompe o processo sinodal e se tais esforços refletem a voz autêntica do povo de Deus — ou simplesmente amplificam as opiniões dos defensores mais veementes.