“Muitas das nossas mulheres são verdadeiras diaconisas”, disse o arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo cardeal Steiner, que participa do Sínodo da Sinodalidade. Para ele, o papa Francisco “não encerrou a questão” da ordenação de homens casados.

No passado, dom Steiner chegou a dizer que “haverá um modo” de acabar com o celibato sacerdotal obrigatório.

No Sínodo da Amazônia de 2019, o cardeal brasileiro também emergiu como um firme defensor da ordenação de homens casados, questão sobre a qual o papa Francisco não teria dado uma palavra definitiva, como disse hoje (15) dom Steiner.

Na reunião que ocorre diariamente na Sala de Imprensa da Santa Sé, o cardeal de 74 anos disse que na sessão de hoje (15), correspondente ao terceiro módulo do Instrumentum Laboris , os participantes do Sínodo refletiram sobre “os lugares da Igreja".

O cardeal disse que a Igreja deve estar aberta “à escuta das culturas e das religiões”, para que o Evangelho possa ser “inculturado”.

Cerca de 2,3 milhões de pessoas vivem em Manaus, das quais cerca de 30 mil são venezuelanos e 71 mil são indígenas da Amazônia.

Ao tomar esses números como exemplo para evidenciar as diferenças culturais entre o Ocidente e os habitantes da sua diocese, o cardeal disse que, apesar de “há mais de cem anos viverem sem sacerdotes”, as comunidades se organizaram e continuaram a rezar “com vários modos de oração”.

Assim, dom Steiner disse que “as mulheres participam muito” e que também são “líderes das nossas comunidades”.

“Por que não restaurar o diaconato feminino ordenado?”

O cardeal disse desejar “que algumas comunidades mais distantes possam celebrar alguns sacramentos, por exemplo o batismo, sem a presença de um sacerdote”.

Portanto, disse dom Steiner, “muitas das nossas mulheres são verdadeiras ‘diaconisas’, sem que isso seja oficial”. O cardeal disse também que gostaria de chamá-las de “diaconisas”, já que são “diaconisas” para todos os efeitos, embora tenha preferido não usar esse termo “para não criar confusão com o ministério ordenado”.

Para o cardeal, “infelizmente não temos uma palavra adequada” para o seu papel, mas o que fazem e a sua responsabilidade dentro da nossa Igreja é “admirável”.

“Há muitas mulheres que orientam a comunidade, que levam adiante a Palavra de Deus, que reúnem a comunidade num momento de oração e que são ativas, por exemplo, na pastoral carcerária, na catequese, na atividade da Cáritas. São elas que fazem essa atividade, atuam ao lado das pessoas na rua, são elas que representam a nossa Igreja em muitos lugares”, disse dom Steiner.

O cardeal falou sobre sua posição a favor da ordenação das mulheres ao diaconato e sobre uma comissão “historicamente encarregada de estudar esta questão”.

“Por que não restaurar o diaconato feminino ordenado? Já tivemos uma Igreja assim, com essa cara”, disse dom Steiner ao falar sobre os diáconos.

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“O diaconato permanente dos homens pode avançar com o das mulheres. Acho que devemos refletir muito sobre essas questões, devemos ir mais fundo e devemos lembrar o papel essencial e fundamental da mulher na Igreja”.

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O cardeal disse também que “a porta não deve ser aberta a uma questão de gênero”, mas que é “uma questão de vocações na Igreja. A vocação das mulheres na Igreja e na nossa comunidade.”

Respondendo a um dos jornalistas presentes na entrevista coletiva, o cardeal disse que o Sínodo da Amazônia “abriu a possibilidade” de fazer o Sínodo da Sinodalidade.

Sobre esse “processo”, dom Steiner disse que “se abriu um caminho no qual não se pode voltar atrás”, pois “não há ponto de retorno”.

“É fundamental que todos entremos no interior de um movimento que é ser Igreja” e sintamos a responsabilidade da missão através do Batismo e da Graça de Deus.

O papa “não encerrou a questão” da ordenação de homens casados

Respondendo sobre a ordenação de homens casados, tema que “desapareceu” dos grupos de estudo desta segunda e última sessão do sínodo, o cardeal disse que depois do Sínodo da Amazônia “houve uma desilusão sobre essa questão”.

Dom Steiner disse, no entanto, que “o Santo Padre não encerrou a questão” e que “em alguma realidade não seria uma dificuldade”.

O cardeal disse também ter esperança de que o papa Francisco “tenha a capacidade de avançar”, ao mesmo tempo que diz que o papa ainda não quis fazer isso devido à “sua grande sensibilidade”.

Dom Steiner disse que devemos “continuar a falar” sobre essa questão e que o ministerialismo deve ser “aprofundado”, já que ainda não foram dados “passos suficientes”.

“Em algumas culturas, o celibato é uma grande dificuldade. Isso é o que eu sinto”, disse o cardeal.

No sábado (12), o cardeal Steiner disse no santuário de Fátima, Portugal, que “impõe as mãos” sobre todas as mulheres que exercem o ministério do Batismo ou de outros sacramentos.

“Essas questões são muito tensas na Igreja. Não devemos parar de discutir e refletir”, disse o cardeal no santuário português. “E se numa hora chegarmos à conclusão de que no passado houve um diaconato feminino, porque não reintroduzi-lo, como foi reintroduzido o diaconato permanente?”