18 de out de 2024 às 13:42
Entre as 14 pessoas que se tornarão novos santos da Igreja no domingo (20) estão um padre cuja intercessão levou à cura milagrosa de um homem atacado por uma onça no Brasil, uma mulher que convenceu um papa a convocar uma novena global ao Espírito Santo e 11 homens mortos na Síria por se recusarem a renunciar à sua fé e a converter-se ao islã.
Embora não sejam nomes conhecidos, os 14 futuros santos exemplificaram a virtude heroica e deram testemunho da santidade dentro das suas vocações únicas, incluindo dois homens com famílias – um pai de oito filhos e um pai de cinco, respectivamente – e três fundadores de ordens religiosas que têm gerações de filhos espirituais que continuaram seu legado espiritual em todo o mundo.
O papa Francisco convidou todos os católicos esta semana “a conhecer esses novos santos e pedir a sua intercessão” em antecipação à canonização no domingo na praça de São Pedro, no Vaticano.
“São um testemunho claro da ação do Espírito Santo na vida da Igreja”, disse o papa.
Madre Elena Guerra (1835-1914)
Conhecida como “apóstola do Espírito Santo”, a beata Elena Guerra ajudou a convencer o papa Leão XIII a exortar todos os católicos a rezar uma novena ao Espírito Santo antes do Pentecostes em 1895.
Guerra é a fundadora das irmãs oblatas do Espírito Santo, uma congregação de freiras reconhecida pela Igreja em 1882 que atua até hoje na África, na Ásia, na Europa e na América do Norte.
Amiga do papa Leão XIII e professora de santa Gemma Galgani, Guerra é conhecida por seus escritos espirituais e por sua devoção apaixonada ao Espírito Santo.
“O Pentecostes não acabou”, escreveu Guerra. “Na verdade, acontece continuamente em todos os momentos e em todos os lugares, porque o Espírito Santo quis dar-se a todos os homens e quem quiser pode sempre recebê-lo, para que não tenhamos que invejar os apóstolos e os primeiros cristãos. Basta que nos preparemos como eles para recebê-lo bem, e ele virá até nós como veio a eles”.
Durante grande parte da década dos seus 20 anos, Guerra ficou acamada devido a uma doença grave, um desafio transformador para ela, à medida que se dedicava à meditação das Escrituras e dos escritos dos Padres da Igreja. Ela sentiu o chamado para consagrar-se a Deus em uma peregrinação a Roma com seu pai depois de sua recuperação e passou a formar a comunidade religiosa dedicada à educação.
Em sua correspondência com o papa Leão XIII, Guerra compôs orações ao Espírito Santo, incluindo um terço do Espírito Santo, pedindo ao Senhor que envie o Seu Espírito “e renove o mundo”.
Padre José Allamano (1851-1926)
O beato José Allamano foi padre diocesano na Itália por toda a sua vida, mas deixou um legado global ao fundar duas ordens religiosas missionárias, os missionários da Consolata e as irmãs missionárias da Consolata, que continuaram a difundir o Evangelho no Quênia, na Etiópia, no Brasil, em Taiwan, na Mongólia e mais de 20 outros países.
Allamano disse aos padres da ordem que fundou no norte da Itália em 1901 que eles precisavam ser “primeiro santos, depois missionários”.
“Portanto, como missionários, vocês não devem ser apenas santos, mas extraordinariamente santos. Todos os outros dons não são suficientes para fazer um missionário! É necessária santidade, grande santidade”, disse.
Allamano deu exemplo ao “combinar o compromisso com a santidade com a atenção às necessidades espirituais e sociais do seu tempo”, disse o papa são João Paulo II na sua beatificação em 1990.
“Ele tinha uma profunda convicção de que ‘o sacerdote é antes de tudo um homem de caridade’, ‘destinado a fazer o maior bem possível’, a santificar os outros ‘pelo exemplo e pela palavra’, com santidade e conhecimento”.
O beato foi profundamente influenciado pela espiritualidade dos salesianos e de são João Bosco, que foi seu diretor espiritual, e pelo testemunho de seu santo tio, são José Cafasso.
Allamano será canonizado depois que a Santa Sé reconheceu um milagre médico único atribuído à sua intercessão: a cura de um homem atacado por uma onça na floresta amazônica.
Sorino Yanomami, indígena que vive na floresta amazônica, foi atacado por uma onça-pintada em 1996 e fraturou o crânio. Devido à sua localização remota, passaram-se oito horas antes que ele pudesse ser transportado de avião para um hospital. Enquanto ele recebia tratamento na unidade de cuidados intensivos, seis irmãs missionárias da Consolata, um sacerdote e um irmão da Consolata, esperaram com a mulher do homem, ao rezar com uma relíquia do beato Allamano pela sua intercessão. As freiras também rezaram uma novena a Allamano pedindo a cura do homem, e dez dias depois da operação ele acordou sem nenhum dano neurológico e sem sofrer consequências de longo prazo do ataque, segundo o Dicastério para as Causas dos Santos da Santa Sé.
Quinze missionários da Consolata são hoje bispos, principalmente na África e na América do Sul, incluindo o prefeito apostólico de Ulan Bator, Mongólia, dom Giorgio cardeal Marengo.
Mais de mil membros das ordens da Consolata viajam para Roma para a canonização do seu fundador, disse o superior geral da ordem, padre James Lengarin, à CNA, agência em inglês da EWTN News.
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Madre Marie-Léonie Paradis (1840-1912)
A freira canadense beata Marie-Léonie Paradis fundou as irmãzinhas da Sagrada Família.
Nascida Virginie Alodie na região da Acádia de Quebec, no Canadá, a beata fundou seu instituto, cujo objetivo era colaborar e apoiar os religiosos da Santa Cruz no trabalho educativo, em 1880, em New Brunswick.
Antes de fundar sua ordem religiosa, Paradis também passou oito anos em Nova York, EUA, servindo no orfanato de São Vicente de Paulo na década de 1860, antes de se mudar para o Estado de Indiana em 1870 para ensinar francês e costura na Academia de Santa Maria.
A pedido do bispo de Montreal, Canadá, Paradis fundou a ordem das irmãzinhas em 1880. Uma parte importante da espiritualidade e do carisma da ordem é o apoio aos sacerdotes através da oração intensa e constante, mas também através do cuidado da cozinha, no lavagem dos seminários e reitorias, num “serviço humilde e alegre” à imitação de “Cristo Servo” que lavou os pés dos seus discípulos .
Hoje as irmãzinhas trabalham em mais de 200 instituições educativas e de evangelização no Canadá, nos EUA, na Itália, no Brasil, no Haiti, no Chile, em Honduras e na Guatemala.
O papa são João Paulo II chamou Paradis de “humilde entre as humildes” quando a beatificou em sua visita a Montreal em 1984, a primeira beatificação que aconteceu em solo canadense.
“Ela não tinha medo das diferentes formas de trabalho manual, que é o fardo que hoje pesa sobre tantas pessoas, embora fosse considerado uma honra na Sagrada Família, na própria vida de Jesus em Nazaré. Lá ela viu a vontade de Deus para sua vida. Com os sacrifícios inerentes a essa obra, mas oferecidos por amor, conheceu profunda alegria e paz”, disse são João Paulo II.
“Eu sabia que se referia à atitude fundamental de Cristo, 'que ele não veio para ser servido, mas para servir'. Ela estava completamente impregnada da grandeza da Eucaristia: esse é um dos segredos das suas motivações espirituais”, disse o papa polonês.
O milagre atribuído à intercessão de Paradis envolveu a cura de uma menina recém-nascida que sofria de “asfixia perinatal prolongada com falência múltipla de órgãos e encefalopatia” ao nascer, em 1986, num hospital em Saint-Jean-sur-Richelieu, Canadá, segundo relatório da Santa Sé.
Mártires de Damasco, Síria (mortos em 1860)
A Igreja também ganhará 11 novos santos mártires que foram mortos por se recusarem a renunciar à sua fé cristã e converter-se ao islã. Os “mártires de Damasco” foram mortos “por ódio à fé” na igreja franciscana de São Paulo, em Damasco, Síria, em 10 de julho de 1860.
Oito dos mártires são frades franciscanos, seis sacerdotes e dois religiosos professos, todos missionários espanhóis, exceto o padre Engelbert Kolland, que era de Salzburgo, Áustria.
Os outros três são leigos que também morreram no ataque à igreja franciscana naquela noite: Francis, Mooti e Raphael Massabki, todos irmãos de uma família católica maronita.
Francis Massabki, o mais velho dos irmãos, era pai de oito filhos. Mooti era pai de cinco filhos e visitava todos os dias a igreja de São Paulo para rezar e dar aulas de catecismo. O irmão mais novo, Rafael, era solteiro e era conhecido por passar longos períodos rezando na igreja e ajudando os frades.
Seu martírio ocorreu na perseguição aos cristãos por muçulmanos e drusos xiitas, do Líbano à Síria, em 1860, que matou milhares de pessoas.
Tarde da noite, os extremistas entraram no convento franciscano, no bairro cristão de Bab-Touma (São Paulo), na cidade velha de Damasco, e mataram os frades: o padre Manuel Ruiz, o padre Nicolás M. Alberca y Torres, o padre Pedro Soler, o padre Kolland, o frei Francisco Pinazo Peñalver e o frei Juan S. Fernández.
A ACI Mena, agência de notícias em árabe da EWTN, deu um relato do martírio dos três irmãos Massabki que também estavam na igreja naquela noite: os agressores disseram a Francis Massabki que sua vida e a de seus irmãos seriam poupadas com a condição que ele negasse a sua fé cristã e abraçasse o islã, ao que Francisco respondeu: “Somos cristãos e na fé de Cristo morreremos. Como cristãos, não tememos aqueles que matam o corpo, como disse o Senhor Jesus”.
Então, ele olhou para seus dois irmãos e disse-lhes: “Tenham coragem e permaneçam firmes na fé, pois a coroa da vitória está preparada no céu para aqueles que perseverarem até o fim”. Imediatamente proclamaram a sua fé em Cristo com essas palavras: “Somos cristãos e queremos viver e morrer como cristãos”.
Ao se recusar a renunciar à sua fé cristã e converter-se ao islã, os 11 mártires de Damasco foram brutalmente assassinados. Alguns foram decapitados com sabres e machados, outros foram esfaqueados ou espancados até à morte.
Todos os anos, em 10 de julho, o calendário litúrgico da custódia da Terra Santa comemora esses mártires. Na capital síria, as comunidades latinas e maronitas celebram frequentemente esse dia juntas.