22 de out de 2024 às 13:19
A Santa Sé renovou o acordo com a China sobre a nomeação de bispos por mais quatro anos.
A renovação foi anunciada hoje (22) dias depois de um relatório da organização conservadora Hudson Institute mostrar como sete bispos na China foram presos sem o devido processo, e outros bispos sofreram intensa pressão, vigilância e investigações policiais desde que o acordo entre a China e a Santa Sé foi assinado pela primeira vez em 2018. Desde então o acordo foi renovado a cada dois anos.
Com a extensão de agora, o acordo entre China e Santa Sé ficará em vigor até 22 de outubro de 2028.
A declaração oficial da Santa Sé diz que a Santa Sé “continua dedicada a promover o diálogo respeitoso e construtivo com a parte chinesa, tendo em vista o desenvolvimento adicional das relações bilaterais para o benefício da Igreja Católica na China e do povo chinês como um todo”.
A declaração diz também que ambos os lados concordaram em estender o acordo provisório depois de “consulta e avaliação apropriadas”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, também confirmou a extensão, ao dizer que os dois lados manteriam “contato e diálogo ao seguir um espírito construtivo”, segundo a agência de notícias americana Associated Press (AP).
Os termos do acordo nunca foram divulgados, embora o papa Francisco tenha dito que ele inclui uma comissão conjunta entre o governo chinês e a Santa Sé para nomeação de bispos, supervisionada pelo Secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin.
O diálogo da Santa Sé com a China nem sempre foi tranquilo. A Santa Sé reconheceu que a China violou os termos do acordo ao nomear unilateralmente bispos em Xangai e na “diocese de Jiangxi”, uma grande diocese criada pelo governo chinês que não é reconhecida pela Santa Sé.
O papa Francisco disse estar satisfeito com o diálogo em andamento com a China em entrevista coletiva no mês passado. No entanto, o secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais da Santa Sé, dom Paul Richard Gallagher, tem sido mais cauteloso, ao dizer que o acordo “não é o melhor acordo possível” e ao falar sobre esforços em andamento para melhorar sua implementação.
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Desde 2018, “cerca de dez bispos” foram nomeados e consagrados sob os termos do acordo da Santa Sé com a China, segundo Vatican News, serviço de informações da Santa Sé.
Um novo bispo coadjutor de Pequim deve ser nomeado na sexta-feira (25) em acordo com a Santa Sé, segundo Asia News, agência de notícias católica da Ásia. O bispo coadjutor seria apenas cinco anos mais novo que o atual arcebispo de Pequim, dom Joseph Li Shan, que tem 85 anos, dez anos a mais que a idade em que um bispo deve oferecer sua renúncia ao papa segudo o direito canônico.
Em agosto, o governo chinês reconheceu oficialmente o bispo de Tianjin, dom Melchior Shi Hongzhen, ex-bispo clandestino de 95 anos. A Santa Sé chamou esse reconhecimento de um “fruto positivo do diálogo” com o governo chinês.
Defensores dos direitos humanos criticaram o silêncio da Santa Sé sobre as violações da liberdade religiosa na China em suas negociações, incluindo a prisão de muçulmanos uigures em campos de concentração e a prisão de defensores da democracia, como o ativista católico Jimmy Lai, em Hong Kong.
Autoridades chinesas ordenaram a remoção de cruzes de igrejas e substituíram imagens de Cristo e de Nossa Senhora por imagens do presidente Xi Jinping, segundo relatório recente da Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF, na sigla em inglês).
A USCIRF também diz que a campanha de “sinização da religião” do Partido Comunista Chinês (PCCh) levou à censura de textos religiosos, forçou o clero a pregar a ideologia do PCCh e exigiu a exibição de slogans do PCCh nas igrejas.
“Embora alguns católicos escolham adorar legalmente dentro da Associação Patriótica Católica Chinesa controlada pelo Estado, eles certamente não são livres, pois devem obedecer aos severos mecanismos de controle e interferência do PCCh”, disse o comissário da USCIRF, Asif Mahmood, à CNA, agência em inglês da EWTN News, no início do mês.
“Em última análise, o governo chinês está interessado apenas em incutir obediência e devoção inabaláveis ao PCCh, sua agenda política e sua visão para a religião, não em proteger os direitos de liberdade religiosa dos católicos”, disse Mahmood.