23 de out de 2024 às 09:29
Gustavo Gutiérrez Merino, sacerdote dominicano peruano que deu nome à teologia da libertação, morreu ontem (22) aos 96 anos.
A província dominicana de San Juan Bautista do Peru informou a morte do sacerdote e teólogo peruano. “Pedimos que nos acompanhem com suas orações para que nosso querido irmão desfrute da vida eterna”, diz comunicado assinado pelo frei dominicano Rómulo Vásquez Gavidia, provincial dos dominicanos no Peru.
Os restos mortais do sacerdote serão sepultados no convento de Santo Domingo, no centro histórico de Lima, Peru.
A vida de Gustavo Gutiérrez
Gustavo Gutiérrez Merino Díaz nasceu em 8 de junho de 1928. Foi ordenado sacerdote em 1959 e era dominicano desde 2001.
Estudou medicina e literatura na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, quando já fazia parte da Ação Católica.
Gutiérrez estudou teologia na Universidade de Louvain, Bélgica e na Universidade de Lyon, França. Foi professor nas universidades de Michigan e em Berkeley, EUA; Cambridge, Inglaterra; Comillas, Espanha, entre outras.
Foi professor na cátedra de teologia John Cardinal O'Hara na Universidade de Notre Dame, EUA. Em 2003, recebeu o prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades concedido pelo governo espanhol.
Em 2012, recebeu o Prêmio Nacional de Cultura do Ministério da Cultura do Peru e da companhia petrolífera Petroperú.
Uma das últimas palestras de Gustavo Gutiérrez num evento internacional aconteceu em Roma, em outubro de 2019, no congresso Comunhão e Participação, realizado na cúria geral dos jesuítas em Roma. Na ocasião, a Pontifícia Comissão para a América Latina o convidou para fazer a conferência “A opção preferencial pelos pobres”.
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Um ano antes, em junho de 2018, o papa Francisco enviou uma carta a Gutiérrez por ocasião de seu 90º aniversário, na qual agradecia a Gutiérrez por sua “contribuição à Igreja e à humanidade através do seu serviço teológico e o seu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade”.
A Santa Sé e a teologia da libertação
O padre Gutiérrez deu nome à principal corrente teológica nascida no continente sul-americano. Articulada ainda na década de 1950 em torno da virada política da ação de vários bispos do continente, a Teologia da Libertação ganhou predominância graças à assembleia do Conselho Episcopal da América Latina e Caribe (CELAM) de Medellín, Colômbia, em 1968. O propósito dessa assembleia era discutir a aplicação das decisões do Concílio Vaticano II no continente. Ali foi definida a “opção preferencial pelos pobres” da Igreja na América do Sul.
Gutiérrez foi o primeiro grande articulador de um modelo de teologia que usava conceitos das ciências sociais e da militância política de esquerda do continente. O nome de seu livro deu o nome à teologia que, nos anos 1970 e 1980 cresceu em importância e se tornou dominante na Igreja do Brasil.
“A teologia da libertação foi uma coisa positiva na América Latina”, disse o papa Francisco em entrevista publicada em janeiro de 2017 pelo jornal espanhol El País. “Foi condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade”.
No pontificado de são João Paulo II, a congregação para a Doutrina da Fé, atualmente um dicastério, fez uma investigação sobre o tema. Ao final, foram publicadas duas instruções.
A primeira, Libertatis nuntius, publicada em 6 de agosto de 1984, trata dos postulados de Gutiérrez em seu livro Teologia da Libertação. A segunda instrução, Libertatis conscientia, foi publicada em 22 de março de 1986.
Ambas as instruções foram assinadas pelo cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da congregação para a Doutrina da Fé, que mais tarde tornou-se o papa Bento XVI.
“A Instrução Libertatis nuntius acerca de alguns aspectos da teologia da libertação anunciava que a Congregação tencionava publicar um segundo documento, que poria em evidência os principais elementos da doutrina cristã acerca da liberdade e da libertação. A presente Instrução responde a esse intento. Entre os dois documentos existe uma relação orgânica. Devem ser lidos um à luz do outro”, diz o segundo parágrafo da segunda instrução.
Numa nota de 2006, a Conferência Episcopal Peruana disse que a Santa Sé havia “concluído o caminho de esclarecimento dos pontos problemáticos contidos em algumas obras do autor” em 2004, com uma segunda versão revisada do artigo de Gutiérrez chamada La Koinonía ecclesial .