24 de out de 2024 às 12:25
Católicos progressistas que querem mudanças drásticas na Igreja esperavam que o Sínodo da Sinodalidade trouxesse uma nova primavera.
Com o documento final que deve ser aprovado no sábado (26), porém, os defensores de ordenação de mulheres diaconisas e a aceitação de uniões homossexuais se preparam para um “último banho de água fria”.
Essa é a imagem usada pela jornalista Franca Giansoldati, que cobre a Santa Sé, para descrever a decepção generalizada entre os progressistas que parece se instalar dentro e em torno do sínodo.
Histórias de desilusão dentro da aula Paulo VI chegaram à mídia, e falam até de uma minoria de delegados que apoiam a ordenação de mulheres implorando em lágrimas mudanças e desafiando agressivamente os que veem como adversários. Do lado de fora, grupos de reforma divulgaram declarações críticas sobre o fato de que grandes mudanças parecem pouco prováveis.
Alguns criticam os organizadores do sínodo por elevarem as expectativas sobre o sínodo acima da realidade.
“Dizem-nos repetidamente que este sínodo é sobre uma nova maneira de ser igreja”, escreveu Zac Davis na revista jesuíta America, publicada nos EUA. “Me preocupa que muitos católicos saiam desse processo desiludidos se a nova maneira levar aos mesmos resultados”.
A decepção dos católicos mais progressistas foi acentuada pela decisão do papa Francisco de retirar da pauta da sessão final tópicos relacionados às mulheres e à doutrina sobre sexualidade e entregá-los a grupos de estudo dedicados.
A insatisfação se transformou em quase dissidência quando o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández, que chefia o grupo que estuda a possibilidade de ordenar mulheres como diaconisas, não compareceu a uma reunião com os delegados em 18 de outubro, depois de dizer que "ainda não há espaço para uma decisão positiva" sobre a questão.
Mas a decisão da Santa Sé de arquivar as questões controversas só ocorreu depois que os organizadores inicialmente deram a muitos a impressão de que todas as questões seriam discutidas e encorajaram a contribuição de grupos que discordam abertamente das doutrinas estabelecidas da Igreja.
Nos estágios iniciais do sínodo de 2021 a 2024, ativistas e teólogos católicos progressistas repetidamente apresentaram o sínodo como uma oportunidade para inaugurar grandes mudanças. Os organizadores do sínodo e os parceiros de comunicação tenderam a não corrigir essas narrativas, e rotulavam os que levantavam objeções de terem medo.
Um exemplo notável foi a freira Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo da Sinodalidade, dizer várias vezes que o Sínodo da Sinodalidade “é o evento eclesial mais importante depois do Concílio Vaticano II”.
Essa afirmação sobre a importância do sínodo já havia sido feita em 2021 pelo teólogo progressista Massimo Faggioli, para quem é uma "hipocrisia" que a Igreja não tenha diaconisas. Irmã Nathalie repetiu isso em artigos e apresentações ao longo de 2022.
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Em outras ocasiões, os organizadores do sínodo falaram sobre o processo como uma consulta representativa do povo de Deus, capaz de aferir o “senso dos fiéis”, apesar de em vários países menos de 1% dos católicos terem participado das sessões de escuta que deram início ao processo.
Desde então, os organizadores do sínodo tentaram conter as expectativas grandiosas, mas as esperanças de mudanças drásticas em relação ao evento persistiram.
Como escreveu Andrea Gagliarducci no jornal National Catholic Register, da EWTN, no início da sessão final do sínodo, o verdadeiro desafio que os organizadores enfrentariam seria “administrar as expectativas dos que esperam e pressionam por mudanças radicais”.
Já em outubro do ano passado, Stephen White, da Universidade Católica da América, nos EUA, disse que "uma estratégia de comunicação e marketing sinodal que promete novidades e pressupõe mudanças" já havia feito com que alguns se sentissem "enganados".
“As expectativas para o sínodo, tanto esperançosas, quanto temerosas, cresceram tanto que está cada vez mais difícil imaginar um resultado para o sínodo que não deixe grandes setores da Igreja se sentindo enganados”, escreveu White na época.
Talvez antecipando o descontentamento de alguns com a direção que o sínodo parece estar tomando, o futuro cardeal Timothy Radcliffe pediu à assembleia em 21 de outubro que todos tenham “liberdade interior” diante de um resultado insatisfatório.
“Podemos ficar desapontados com as decisões do sínodo”, disse Radcliffe, nomeado guia espiritual do sínodo pelo papa Francisco. “Alguns de nós considerarão que elas são mal aconselhadas ou até mesmo erradas”.
Para o futuro cardeal, “a providência de Deus está agindo de forma suave e silenciosa”, mesmo quando as coisas parecem sair dos trilhos.
O mestre-geral emérito da ordem dominicana, que o papa Francisco tornará cardeal em 7 de dezembro, deu continuidade a essa reflexão ao fazer comentários em uma entrevista coletiva que desencorajam os que buscavam grandes mudanças ao ler o documento final do sínodo.
“Acho que talvez a tentação de muitas pessoas, incluindo a imprensa, seja procurar por decisões surpreendentes — manchetes”, disse Radcliffe. “Mas acho que isso é um erro. Porque acho que o sínodo é sobre uma renovação profunda da Igreja em uma nova situação”.
Davis, no entanto, contestou essa orientação depois de organizadores do sínodo tentarem promover o evento por anos como uma mudança sísmica.
“No final de um processo de vários anos que pediu a toda a Igreja para contribuir com tempo e recursos”, escreveu Davis, “uma manchete ou duas é realmente pedir muito?”