No final da primeira assembleia geral do Sínodo da Sinodalidade, há um ano, versões eletrônicas de um rascunho do relatório de síntese confidencial foram distribuídas para jornalistas e outro.

Este ano, aparentemente para dificultara vazamentos, os organizadores do sínodo deram aos participantes apenas cópias em papel do rascunho do relatório, que não são tão facilmente disseminadas.

A ironia é que pode não haver muito para divulgar.

Interna e externamente, nas últimas semanas, a assembleia sofreu intensa pressão para mudar as estruturas de governança da Igreja e até mesmo algumas de suas doutrinas básicas.

A teóloga Myriam Wijlens, consultora sinodal, disse na quarta-feira (23) que o papa Francisco pediu para “reconfigurar a Igreja de forma sinodal”. Fazer isso exigiria mudanças na lei canônica para, por exemplo, tornar conselhos paroquiais ou diocesanos obrigatórios.

Mas mudanças maiores, como abrir o diaconato para mulheres ou permitir exceções ao celibato sacerdotal, para citar duas questões que foram defendidas publicamente neste mês, parecem fora de questão.

Segundo fontes que falaram com a CNA, agência em inglês da EWTN News, o que resta é um rascunho de relatório que está gerando decepção nos setores progressistas, mas muito pouco burburinho.

Intitulado “Comunhão, Missão e Participação”, trata-se de um documento curto — 152 parágrafos, por enquanto, cobrindo cerca de 47 páginas. Segundo fontes que participam do sínodo, ele é dividido em cinco partes.

A primeira parte lida com a compreensão da sinodalidade e seus princípios teológicos. A segunda é sobre o que é chamado de “conversão relacional”. A terceira parte fala de discernimento eclesial, processos de tomada de decisão, cultura de transparência, responsabilidade e avaliação. A quarta parte busca entender como cultivar a troca de dons de novas maneiras. Por fim, a quinta parte fala da formação na e para a sinodalidade missionária.

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O documento final do sínodo, disse um delegado à CNA, parece ser inspirado no documento sobre sinodalidade que a Comissão Teológica Internacional publicou em 2018, com o título “Sinodalidade na Vida e Missão da Igreja”.

Dois terços da assembleia precisam aprovar um parágrafo para que ele seja mantido. No passado, se um parágrafo não alcançasse nem dois terços, ele não era publicado. Era dito que ele não representava a comunhão sinodal. O papa Francisco, no entanto, quis que cada parágrafo do documento final fosse publicado e que os votos a favor ou contra fossem indicados junto com o parágrafo.

Além das conversas sobre descentralização saudável, o rascunho do documento fala sobre como essa descentralização deve ser abordada. Em particular, há um parágrafo que diz que em uma Igreja sinodal, a competência decisória do bispo e do bispo de Roma é “inalienável”, ao mesmo tempo em que propõe algumas boas práticas para tornar o conselho diocesano e paroquial representativo de todo o povo de Deus, incluindo as mulheres.

Alguns descrevem o documento como interlocutório em vez de definitivo. Um bispo disse que “o documento permite que todos administrem as coisas como desejarem”. Mas, disse ele, ao mostrar certa decepção: “Então o que estávamos discutindo?”

Se esses são os resultados de duas etapas sinodais em Roma e uma jornada de três anos de diálogo e escuta antes disso, é claro que muitos ficarão decepcionados. Não há revoluções, mas sim um chamado para uma mudança de mentalidade na Igreja fundamentada na ideia de que a sinodalidade sempre esteve presente na Igreja.

Esse será o ponto de partida para a sessão de encerramento amanhã (26).

Depois do documento final ser publicado, será preciso esperar o papa Francisco agir. O papa pode decidir adotar o documento final na íntegra como uma exortação pós-sinodal ou ele mesmo pode redigir uma exortação pós-sinodal, antes ou depois dos vários grupos de estudo de especialistas entregarem seus relatórios finais em maio do ano que vem.

No fim, tudo depende do papa.