29 de out de 2024 às 11:01
O Congresso Nacional das Novas Comunidades deve reunir 2 mil pessoas entre os dias 1 e 3 de novembro, na sede da Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP). O evento é promovido pela Comissão Nacional das Novas Comunidades, organismo da CHARIS Brasil, e terá o mesmo tema do Jubileu 2025, “Peregrinos de Esperança”.
O congresso nacional “é um momento de formação, é um momento que as comunidades param para rezar, para refletir, para celebrar, sobretudo, a Eucaristia, para adorar Jesus Eucarístico”, mas também um momento de “congraçamento, fraternidade, partilha entre os membros de diversas comunidades”, disse à ACI Digital o fundador da Comunidade Sagrada Família, Italo Fasanella, coordenador da Comissão Nacional das Novas Comunidades.
As novas comunidades
Fasanella contou à ACI Digital que as novas comunidades são uma realidade que já existem “há uns 50 anos na Igreja”. Mas, elas não têm esse nome “simplesmente porque são novas no tempo”. Trata-se de uma “novidade do Espírito”.
O coordenador da comissão nacional destacou que, na exortação apostólica Vita Consecrata, de 1996, o papa são João Paulo II “fala que existem novas formas de vida consagrada” e que “as novas comunidades não são uma alternativa à vida consagrada já tradicional na Igreja, que é a vida religiosa, mas é uma novidade do Espírito que se insere na Igreja como um complemento”.
Embora tenham “muitos elementos que se percebe na vida religiosa”, como “a vida comunitária, a vida fraterna, a vida de oração, a vida missionária”, as novas comunidades têm “uma matriz eminentemente leiga, ainda que muitas comunidades tenham sido fundadas por sacerdotes, mas a grande maioria tem sido fundada por leigos”.
Outra “novidade”, disse, “é justamente a convivência dos estados de vida”. Então, “tem inserido nas novas comunidades leigos solteiros, leigos celibatários, leigos casados, e você encontra diáconos e sacerdotes também”.
Segundo Fasanella, “é em torno do [Concílio] Vaticano II que a gente percebe esse florescer de novas comunidades”, embora haja “relatos de comunidades que nasceram um pouquinho antes”.
Ele ressaltou que as novas comunidades não se caracterizam apenas por “uma missão, um serviço, um movimento”. “Vem a novidade do Espírito através de um carisma de fundação, que porta com ele uma espiritualidade própria, uma identidade, uma missão específica daquele carisma”, disse.
O carisma, segundo Fasanella, “é um dom do Espírito”, que “traz um específico nele”. “Costumamos dizer assim: cada carisma tem em si uma faceta de Cristo. Costumamos chamar de mistério cristológico, porque nós não podemos achar que um carisma tem resposta para tudo”, disse. Então, há comunidades cujo carisma capacita a atuar especificamente com as famílias, com os jovens, com moradores de rua, com a comunicação e várias realidades.
Fasanella destacou também a relação com o bispo diocesano. “Quem tem na Igreja o múnus, o ministério de discernimento dos carismas, especialmente, é o bispo”, disse. “A nossa questão é viver e viver a fidelidade daquilo que entendemos ser chamado de Deus. Mas quem vai dizer ‘esse é um carisma autêntico’ é o bispo. Só que para chegar nesse ponto, nós precisamos passar sob a prova do tempo”, acrescentou.
Segundo ele, somente com o tempo é que se vai entender se aquele é um carisma e vão sendo dados passos na caminhada da comunidade. Nesse processo, também se vai entendendo “a que Deus chama especificamente aquele carisma”. “Às vezes, a missão é uma missão somente ali na cidade”, ou pode ir se expandindo para uma missão “nacional, internacional”. Mas, ressaltou, independente do nível em que se desenvolva a comunidade, “o relacionamento principal de um carisma que está inserido em uma diocese é com o seu bispo”. “E, lógico, se tratando de uma localização geográfica, sempre estaremos alocados no espaço geográfico de uma paróquia. Então, o diálogo e esforço de comunhão com o pároco local é fundamental”, completou.
As novas comunidades no Brasil
“Por aquilo que temos visto, o Brasil tem o dobro das comunidades do mundo todo”, disse à ACI Digital Italo Fasanella, que também é membro da comissão latino-americana e da comissão internacional de novas comunidades.
O cadastro das novas comunidades é feito pela Comissão Nacional das Novas Comunidades, que pertence ao CHARIS, o Serviço Internacional para a Renovação Carismática Católica. Fasanella explicou que o CHARIS “é uma realidade criada pelo papa Francisco, em 2019. É um organismo de serviço e comunhão para todas as expressões carismáticas da Igreja, a Renovação Carismática Católica no sentido de movimento eclesial, novas comunidades, institutos religiosos que nasceram dessa matriz carismática, escolas de evangelização, enfim, todas as expressões carismáticas que nascem da corrente de graça, da experiência do batismo no Espírito Santo”. Mas, “como o próprio papa disse, nós não somos obrigados a acompanhar o CHARIS”, já que é um serviço, então, “uma comunidade pode decidir não fazer o cadastro”.
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Assim, disse Fasanella, atualmente, no Brasil há 760 novas comunidades cadastradas. “Porém, temos notícias de muitas comunidades ainda não cadastradas”, disse, ressaltando que imaginam “que deve passar de mil novas comunidades no Brasil”.
Para Fasanella o grande crescimento das novas comunidades no Brasil pode ser atribuído ao fato de ser “o maior país católico do mundo, que tem o maior número de batizados”. Além disso, declarou, “o povo brasileiro é um povo muito acolhedor, fraterno” e “a Renovação Carismática Católica encontrou um terreno muito propício aqui”.
O coordenador da comissão nacional também lançou um “olhar sobrenatural” sobre o desenvolvimento das novas comunidades no Brasil. Ele recordou que, em uma pregação em São Paulo (SP), na década de 1980, o fundador da Comunidade Canção Nova, padre Jonas Abib (1936-2022), “proferiu uma profecia” de que “o Brasil seria o celeiro espiritual da humanidade”. “E a gente tem percebido isso”, disse, ao destacar o envio de muitos missionários de novas comunidades brasileiras para Europa, África, Américas. “Deus escolheu o Brasil para algo além-fronteiras no campo da Igreja e da evangelização”, acrescentou.
Internamente, Fasanella destacou que as novas comunidades também têm um grande peso no Brasil. “Temos percebido, por exemplo, nas vocações nos seminários. Eu já ouvi bispos e padres falando: se não fossem as vocações vindas das comunidades e dos grupos de oração, praticamente não teríamos vocação na nossa diocese”, disse.
Além disso, há “a ação evangelizadora” e “obras sociais que são tocadas pelas comunidades”, disse. “Quando olhamos, percebemos que o número de obras sociais tocadas pelas novas comunidades é imenso no Brasil: o trabalho na rua, com moradores, dependentes químicos, comunidades que cuidam de creches, de asilos, que trabalham com gestantes que querem abortar, que acolhem crianças...”.
“Então, se hoje as comunidades todas parassem de trabalhar, a Igreja no Brasil ia sentir, acho que ela ia perder uma parte de seus pulmões”, disse.
O futuro das novas comunidades
Para Fasanella, “a vitalidade espiritual, missionária que enxergamos hoje [nas novas comunidades] dá uma esperança de perspectiva de um longo futuro de muitos frutos para a Igreja”.
“Vejo que as novas comunidades, com a novidade do Espírito que elas trazem, elas trazem uma novidade na forma de evangelizar. Isso foi desejado por são João Paulo II, uma evangelização nova no ardor, nos métodos, uma nova evangelização. Então, as comunidades trazem esse vigor de evangelização com novidades de métodos”, disse.
Segundo ele, “isso dá uma vitalidade e uma sobrevida para as novas comunidades”. “Elas ainda estão no florescer da sua existência, porque 50 anos é muito pouco para uma Igreja de 2 mil anos”.
“Se as comunidades se mantiverem fiéis aos seus carismas, elas ainda têm décadas e décadas e décadas de juventude, de fortaleza espiritual, de jovialidade. Então, isso é uma esperança”, completou.
O Congresso
Essa esperança é que será o centro do Congresso Nacional das Novas Comunidades. “Quando digo que sou peregrino de esperança, significa que estou plenamente cheio de esperança, a esperança não é algo que está fora de mim, a esperança está dentro de mim e eu sou um instrumento dessa esperança”, disse sobre o tema do evento, ‘Peregrinos de Esperança’. O texto bíblico que norteará o congresso é do profeta Isaías 43,18: “Não vos lembrei mais dos acontecimentos de outrora!”.
Participarão do congresso o bispo de Paranavaí (PR), dom Mário Spaki, o responsável de acompanhar os trabalhos realizados pelo Serviço Brasileiro de Comunhão, e o bispo de Campos (RJ), dom Roberto Francisco Ferrería Paz, bispo referencial para as Novas Comunidades na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Um dos convidados é o atual presidente da Comunidade Canção Nova, padre Wagner Ferreira.
Para participar do evento não há taxa de inscrição. Mais informações podem ser acessadas AQUI.