O papa Francisco falou hoje (31) sobre o que é necessário para que jornalistas católicos cumpram a “grande e emocionante” vocação de “tornar o Coração de Jesus conhecido ao mundo”, em audiência com membros do dicastério para a Comunicação da Santa Sé, no Vaticano.

No início do seu discurso aos comunicadores, o papa falou sobre a exortação de são Paulo: “Ficai, firmes, tendo os vossos rins cingidos com a verdade, revestidos com a couraça da justiça, e os pés calçados, prontos para ir anunciar o Evangelho da paz”.

“Este poderia ser também o retrato do bom comunicador, não é verdade?”, disse Francisco.

A “grande e emocionante” tarefa dos jornalistas católicos

O papa falou sobre o valor do jornalismo católico, uma vocação e ao mesmo tempo uma missão: “Com o vosso trabalho e a vossa criatividade, com o uso inteligente dos meios que a tecnologia põe à disposição, mas sobretudo com o vosso coração: comunica-se com o coração! Sois chamados a uma grande e entusiasmante tarefa".

Francisco disse que essa tarefa se baseia em “construir pontes, quando tantos erguem muros, muros das ideologias; favorecer a comunhão, quando tantos fomentam a divisão; deixar-vos envolver pelos dramas do nosso tempo, quando tantos preferem a indiferença”.

Francisco disse que em cada expressão da vida comunitária, “somos chamados a reverberar aquele amor divino que em Cristo nos atraiu e atrai”.

“E é isto que distingue a pertença eclesial: se raciocinássemos e agíssemos segundo categorias políticas ou empresariais, não seríamos Igreja. Isto está errado! Se aplicássemos critérios mundanos ou reduzíssemos as nossas estruturas à burocracia, não seríamos Igreja”.

Ser Igreja, disse o papa Francisco, “significa viver na consciência de que o Senhor nos ama primeiro, nos chama primeiro, nos perdoa primeiro. E nós somos testemunhas desta misericórdia infinita, que foi derramada gratuitamente sobre nós, transformando a nossa vida”.

Papa Francisco recebe jornalistas católicos hoje (31) no Vaticano. Vatican Media
Papa Francisco recebe jornalistas católicos hoje (31) no Vaticano. Vatican Media

Com que tipo de comunicação o papa Francisco sonha?

“Pois bem, poderíeis perguntar-me: mas o que tem isto a ver com o nosso trabalho de comunicadores, de jornalistas? Tem a ver, e muito! Sim, precisamente como comunicadores sois chamados a tecer a comunhão eclesial tendo os vossos rins cingidos com a verdade, revestidos com a couraça da justiça e os pés calçados, e os pés calçados, prontos para ir anunciar o Evangelho da paz”, disse Francisco.

O papa disse com qual tipo de comunicação sonha: “Sonho com uma comunicação capaz de conectar pessoas e culturas. Sonho com uma comunicação capaz de contar e valorizar histórias e testemunhos que acontecem em todos os cantos do mundo, de os pôr em circulação, oferecendo-os a todos”.

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“Sonho com uma comunicação feita de coração a coração, deixando-nos envolver pelo que é humano, deixando-nos ferir pelos dramas que tantos dos nossos irmãos e irmãs vivem. É por isso que vos convido a sair mais, a ousar mais, a arriscar mais, não para difundir as vossas ideias, mas para contar a realidade com honestidade e paixão".

“Sonho com uma comunicação que saiba ir além dos slogans e que mantenha os holofotes sobre os pobres, os últimos, os migrantes, as vítimas da guerra. Uma comunicação que favoreça a inclusão, o diálogo, a busca da paz. Como é urgente dar espaço aos construtores de paz! Não vos canseis de contar os seus testemunhos, em todas as partes do mundo”, continuou o papa.

“Sonho com uma comunicação que eduque as pessoas a renunciar um pouco a si para dar espaço ao outro; uma comunicação apaixonada, curiosa e competente, que saiba mergulhar na realidade para a poder narrar. Faz-nos bem ouvir histórias com sabor evangélico, que hoje, como há dois mil anos, nos falam de Deus tal como Jesus, o seu Filho, o revelou ao mundo”, acrescentou.

“Não tenhais medo”

O papa exortou também os comunicadores a não terem medo “de participar, de mudar, de aprender novas linguagens, de percorrer novos caminhos, de habitar o ambiente digital”, embora sem substituir “com o encontro online as relações humanas reais, concretas, de pessoa a pessoa”.

Francisco disse que “o Evangelho é uma história de encontros, gestos, olhares, diálogos na rua e à mesa”.

“Sonho com uma comunicação que saiba testemunhar, hoje, a beleza dos encontros com a samaritana, com Nicodemos, com a adúltera, com o cego Bartimeu...", disse o papa Francisco.

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“Tornar o Coração de Jesus conhecido ao mundo”

“Por favor, ajudai-me a dar a conhecer ao mundo o Coração de Jesus, através da compaixão por esta terra ferida. Através da comunicação, ajudai-me a fazer com que o mundo, ‘sobrevivendo no meio das guerras, desequilíbrios socioeconômicos, consumismo e uso anti-humano da tecnologia, possa recuperar o que é mais importante e necessário: o coração’ (Dilexit nos, 31). Ajudai-me com uma comunicação que seja instrumento para a comunhão”, disse Francisco.

Embora o mundo esteja abalado por “terríveis violências”, os cristãos, segundo o papa, sabem “olhar para as muitas chamas de esperança, para as muitas pequenas e grandes histórias de bem”.

“Temos a certeza de que o mal não vencerá, pois é Deus que conduz a história e salva a nossa vida. O Jubileu, que iniciaremos daqui a poucas semanas, é uma grande ocasião para testemunhar ao mundo a nossa fé e a nossa esperança”, disse Francisco.

O papa Francisco disse aos membros do dicastério da Santa Sé que a partir de agora terão que ser “um pouco mais disciplinados em relação ao dinheiro”, porque “a Santa Sé não pode continuar a ajudar-vos como agora”.

“Sei que é uma má notícia, mas é também uma boa notícia, porque move a criatividade de todos vós”, concluiu Francisco.