A evolução intelectual da feminista radical Marguerite Stern, considerada espetacular em mais de um sentido, é um mistério para muitos comentaristas.

Em fevereiro de 2013, ela invadiu, seminua, a catedral de Notre Dame, em Paris, para comemorar, junto com outras ativistas feministas, a renúncia do papa Bento XVI e gritar seu ódio pela Igreja.

Menos de uma década depois, Stern se tornou uma figura de liderança na luta contra os excessos dos chamados “movimentos woke”, particularmente a ideologia de gênero.

Ideologia de gênero é a militância política baseada na teoria de que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros muito mais variados do que homem e mulher. Daí a sigla LGBTQI+, usada para identificar “lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo e mais”.

A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis 1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou”, na tradução oficial da CNBB.

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher», refletem a sabedoria e a bondade do Criador”.

Nos últimos anos, a contra os excessos dos chamados “movimentos woke” levou Stern a se distanciar de muitos de seus antigos aliados radicais e a criticar, um por um, os dogmas progressistas que antes serviam como sua bússola moral.

Essa jornada intelectual a levou a dizer em um vídeo publicado no YouTube em 31 de outubro, véspera do dia de Todos os Santos, suas “sinceras desculpas” aos católicos feridos por suas frequentes provocações públicas quando ela foi ativista do grupo feminista Femen de 2012 e 2015, “notadamente durante uma campanha a favor do casamento gay”.

Como explicar tamanha reviravolta?

Para Stern, o despertar começou há cinco anos, quando ela se convenceu de que a ideologia de gênero, que “não cria, mas destrói”, representava uma ameaça civilizacional, que “vem da pulsão de morte e do ódio a si mesmo”.

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Foi um impulso semelhante que ela sentiu que a animou quando ela atacou a religião católica, que forjou a “história, arquitetura e costumes” de sua França natal.

“Rejeitar isso, entrar na Notre-Dame de Paris gritando”, disse ela, “era uma forma de danificar uma parte da França, ou seja, uma parte de mim mesma. Aos 22 anos, eu não percebi isso”.

Criada na fé católica, Stern, que é ateia declarada, mantém um amor instintivo pela herança religiosa de seu país. Ela disse que nunca deixou de amar Notre Dame. “Lembro que no dia seguinte ao incêndio [em 2019], fui chorar em uma igreja. Mas às vezes amamos mal”, disse.

'Lutar para preservar os ritos'

Ao dizer que sua oposição à ideologia de gênero a tornou patriota, e então socialmente conservadora, porque sua única conexão profunda é com seu país, Stern disse estar convencida de que a França deve permanecer católica. E para esse fim, seus ritos religiosos devem continuar a ser mantidos vivos.

“Os ritos nos unem. Eles acalmam, às vezes reparam e regulam nossas emoções; eles nos ancoram no presente ao nos lembrar do que aconteceu antes”, disse ela.

“E então há algo mais: Há o que está além de nós. Os campanários que se erguem sobre nós e vestem nossas paisagens sonoras. A majestade dos edifícios. A maravilha de entrar em uma igreja. A beleza. E a fé dos crentes. Lamento ter pisado nisso”.

Esse respeito pelas tradições católicas do país é ainda mais importante para ela porque as ideologias contra as quais ela luta são todas frutos do transumanismo, ideologia na qual os humanos, como demiurgos, tornam-se seus próprios criadores.

“Sem acreditar em Deus, em certos pontos, acabo chegando às mesmas conclusões que os católicos”, disse ela; daí sua convicção de que a blasfêmia, embora seja um direito protegido na França pela lei de 1905 sobre a separação entre Igreja e Estado, “nem sempre é moral”.

“Está na moda hoje em dia denegrir os católicos e fazê-los parecer idiotas da velha França, insuficientemente descolados para merecer o status de seres humanos”, concluiu Stern. “No passado, usei esse clima para agir imoralmente, enquanto ajudava a reforçá-lo. Peço sinceras desculpas por isso”.

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