A Nicarágua expulsou o bispo de Jinotega, dom Carlos Enrique Herrera Gutiérrez, presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN). No domingo da semana passada (10), Herrera criticou o prefeito de Jinotega, Leónidas Centeno, que interrompeu a missa com música alta na frente da catedral. Centeno é próximo ao regime do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, ex-líder guerrilheiro de esquerda que acumula mais de trinta anos no poder.

O Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) disse em carta publicada no site da instituição (link em espanhol) dirigida ao arcebispo de Manágua, dom Leopoldo cardeal Brenes, vice-presidente da CEN, que é solidária a dom Herrera e que reza “para que essa situação seja resolvida em breve e ele possa regressar à sua terra natal”.

A CELAM também expressou dor pelos “acontecimentos que afligem a Igreja que peregrina na Nicarágua” e encorajou a CEN e os fiéis do país a continuarem a ser “um testemunho de fidelidade ao Senhor que brilha em todo o continente”.

Segundo o jornal nicaragüense Mosaico CSI, dom Herrera, que é franciscano, foi exilado na Guatemala na última quarta-feira (13), e está em uma residência de sua ordem.

O bispo foi preso pela polícia depois de participar de um encontro em Manágua com os outros membros da CEN, na última quarta-feira (20).

A preocupação do governo dos EUA com dom Herrera

O secretário de Estado adjunto para assuntos do hemisfério ocidental dos EUA, Brian A. Nichols, disse estar preocupado com o que houve com o presidente do CEN.

“Preocupado com o exílio forçado do Bispo Herrera, Presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua, pelas autoridades nicaraguenses”, escreveu Nichols na conta do Escritório Internacional de Liberdade Religiosa na rede social X.

“Metade dos bispos da Nicarágua não pode voltar para casa. Os ataques flagrantes de Ortega e [da vice-presidente Rosario] Murillo contra o clero católico não enfraquecerão a fé do seu povo”, disse o subsecretário. Murillo é mulher de Ortega.

"Igreja nas catacumbas"

“Monsenhor Herrera tem sido historicamente um dos bispos mais comprometidos com a justiça e a solidariedade cristã para com aqueles que não têm voz, um verdadeiro exemplo de firmeza e integridade”, disse Félix Maradiaga, ex-candidato presidencial e presidente da Fundação Liberdade para a Nicarágua.

Maradiaga disse que a expulsão de dom Herrera e a desativação das redes sociais da diocese de Jinotega são “mais um ataque à liberdade religiosa e à dignidade humana na Nicarágua e exige atenção e condenação internacional”.

Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram

Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:

Maradiaga disse à EWTN Noticias que “a Igreja na Nicarágua está sujeita a perseguições que praticamente a transformaram numa igreja [na] catacumba”.

“Os poucos padres que ainda podem exercer o seu ministério com alguma liberdade são aqueles que aceitaram as condições impostas pela ditadura, que exige silêncio total sobre qualquer questão da realidade nacional”, disse Maradiaga.

Arturo McFields, ex-embaixador da Nicarágua junto à Organização de Estados Americanos (OEA) disse na rede social X que o “delito” do presidente da CEN foi “exigir respeito à cerimônia religiosa e impedir o sacrilégio”.

“A liberdade religiosa é um direito humano. O exílio de dezenas de religiosos é um crime contra a humanidade”, disse McFields.

“Mais uma diocese da Nicarágua fica sem bispo. Até o momento há quatro dioceses que estão sem pároco. Continuemos a rezar pela Igreja nicaragüense diante dessa situação de perseguição que vive”, disse no Facebook o padre nicaragüense Erick Díaz, que vive exilado em Chicago, EUA.

Dom Herrera é o terceiro bispo a ser expulso da Nicarágua pelo regime de Ortega este ano. Em janeiro, o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez Lagos, administrador apostólico de Estelí, foi exilado no Vaticano com o bispo de Siuna, dom Isidoro Mora, e outros sacerdotes.

Há alguns anos, em 2019, o bispo auxiliar de Manágua, dom Silvio Báez, crítico do regime de Ortega, foi forçado ao exílio devido a ameaças de morte.

Segundo Mosaico CSI, 44 padres foram expulsos da Nicarágua pelo regime, que persegue a Igreja desde o apoio dado por ela a manifestações de protesto no país em 2018.

Mais em

Uma das ações mais recentes do regime de Daniel Ortega e de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, foi impedir o acesso de padres aos hospitais, impedindo assim os pacientes de receberem o sacramento da unção dos enfermos.

Quantos bispos restam na Nicarágua?

Com a expulsão de dom Herrera, apenas nove bispos da Nicarágua permanecem no país: o arcebispo de Manágua, dom Leopoldo cardeal Brenes; o bispo de Granada, dom Jorge Solórzano; o bispo de Bluefields, dom Francisco José Tigerino, Bispo de Bluefields; o bispo de León, dom Sócrates René Sándigo; e o bispo de Juigalpa, dom Marcial Humberto Guzmán.