19 de nov de 2024 às 11:35
Pete Hegseth, indicado pelo presidente eleito dos EUA Donald Trump para chefiar a Secretaria de Defesa, tem tatuagens que a agência de notícias Associated Press (AP) disse estarem conectadas ao nacionalismo cristão e à supremacia branca. A AP concentrou-se especialmente na tatuagem de uma cruz de Jerusalém no peito de Hegseth.
A reportagem foi imediatamente acusada de ser anticristã pelo vice-presidente eleito, J.D. Vance, e muitos outros nas redes sociais. A questão é: o que o símbolo realmente significa?
A cruz de Jerusalém é um dos símbolos cristãos mais imediatamente distinguíveis. Ela é formada por uma grande cruz central, chamada de cruz potente, geralmente com barras transversais nas quatro extremidades que abrigam quatro cruzes gregas menores. É um desenho simples usado há séculos para representar a Igreja em Jerusalém e lembrar os fiéis e o mundo dos evangelistas, de Jerusalém e do sofrimento de Cristo. A cruz de Jerusalém também é a insígnia heráldica associada ao patriarcado latino de Jerusalém e à ordem equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.
Um símbolo de peregrinação
A cruz apareceu pela primeira vez anos antes do papa Beato Urbano II convocar a primeira cruzada (1096–1099) para tirar Jerusalém e a Terra Santa das mãos dos muçulmanos. Chamada às vezes de cruz do cruzado, ela foi particularmente associada ao brasão do famoso cavaleiro cruzado Godofredo de Bulhões, principal líder da primeira cruzada, mas não era de uso comum até a segunda metade do século XIII, quando foi adotada como a bandeira principal do reino de Jerusalém que governou grande parte da Terra Santa até a expulsão final dos cavaleiros cristãos da Terra Santa em 1291. Mesmo depois do fim da era dos cruzados, os peregrinos carregavam a imagem da cruz de Jerusalém, ao conectar suas próprias jornadas de fé à paixão de nosso Senhor e ao desejo de ver a Cidade Santa.
A cruz é onipresente em imagens cristãs desde então. Ela aparece na ornamentação artística e arquitetônica de igrejas e edifícios cristãos, como ilustração em capas de bíblias e, muitas vezes, como uma peça de joalheria usada para declarar a fé cristã. A Geórgia, país da Europa oriental, também usa ocasionalmente versões da cruz de Jerusalém em sua bandeira nacional desde o início do século XIV.
Visitantes e peregrinos a Jerusalém também costumam receber uma tatuagem da cruz ao concluir sua peregrinação. Essa é uma tradição de mais de 700 anos. Talvez a pessoa mais famosa a receber a tatuagem tenha sido Albert, príncipe de Gales, depois coroado rei Eduardo VII do Reino Unido, que recebeu uma tatuagem da cruz de Jerusalém em seu braço em uma visita à Terra Santa. Seus dois filhos, o príncipe George, duque de York, depois rei George V, e o príncipe Albert Victor, duque de Clarence, também receberam tatuagens da cruz de Jerusalém ao visitar Jerusalém 20 anos depois.
Hoje, a cruz de Jerusalém ainda é a principal insígnia do patriarcado latino de Jerusalém, a diocese católica latina da Terra Santa, da custódia da Terra Santa administrada pela ordem franciscana, e da ordem equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.
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A ordem do Santo Sepulcro é uma instituição leiga e ordem católica de cavalaria colocada sob a proteção da Santa Sé que tem como objetivo principal aprofundar a fé entre seus membros e apoiar obras e instituições de caridade e sociais da Igreja na Terra Santa. Seus 30 mil membros em todo o mundo ajudam a construir hospitais, escolas, clínicas e missões que auxiliam não apenas os cristãos, mas também muçulmanos, judeus e não-crentes. Assim, a ordem também promove a paz, a harmonia inter-religiosa e um futuro de estabilidade para a Terra Santa. Seus membros são imediatamente reconhecidos por suas capas, que são decoradas com a cruz de Jerusalém vermelha. A publicação oficial da liderança da ordem, com sede em Roma, chama-se The Jerusalem Cross.
Os significados da cruz de Jerusalém
Os cinco elementos da cruz de Jerusalém, a cruz potente e as quatro cruzes gregas, receberam diferentes significados espirituais ao longo dos séculos, mas cada um reflete a maneira como a imagem da cruz não é focada em cruzadas ou nacionalismo, mas em Cristo.
Uma interpretação é que os cinco elementos representam o sacrifício de Cristo na cruz através de suas cinco feridas: as cruzes menores retratam as feridas nos pés e nas mãos de Cristo, e a cruz principal representa a perfuração de seu lado pela lança do centurião.
Outra versão diz que as quatro cruzes menores representam os quatro evangelistas, são Mateus, são Marcos, são Lucas e são João, e a quinta cruz é para Cristo. Parte dessa interpretação diz que as quatro cruzes mostram a maneira como os evangelistas ajudaram a espalhar o Evangelho para os quatro cantos do mundo e que todos são chamados a proclamar a fé também com as mentes e corações focados no túmulo vazio na igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.
Qualquer um pode usar um medalhão da cruz de Jerusalém ou ter uma tatuagem dela. Mas, quer ela seja usada em volta do pescoço ou colocada sobre o corpo, deve-se ter como único propósito reverenciar e abraçar o que ela representa. O papa Bento XVI falou sobre isso em 2009 ao visitar o Santo Sepulcro em Jerusalém:
“Esta antiga igreja do Anastasis (ressurreição em grego) traz um testemunho silencioso, quer do peso do nosso passado com todas as suas faltas, incompreensões e conflitos, quer da promessa gloriosa que continua a irradiar do túmulo vazio de Cristo. Este lugar santo, onde o poder de Deus se revelou na debilidade, e os sofrimentos humanos foram transfigurados pela glória divina, convida-nos a olhar mais uma vez com os olhos da fé o rosto do Senhor crucificado e ressuscitado. Ao contemplar a sua carne glorificada, completamente transfigurada pelo Espírito, conseguimos compreender mais plenamente que também agora, mediante o Batismo, trazemos ‘sempre e em toda a parte no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste na nossa carne mortal’ (cf 2 Cor 4, 10-11). Também agora a graça da Ressurreição está em ação em nós! Possa a contemplação deste mistério estimular os nossos esforços, quer como indivíduos quer como membros da comunidade eclesial, a crescer na vida do Espírito mediante a conversão, a penitência e a oração. Possa, além disso, ajudar-nos a superar com o poder deste mesmo Espírito, todo o conflito e toda a tensão nascidos da carne e remover todos os obstáculos, tanto dentro como fora, que se interpõem ao nosso testemunho conjunto de Cristo e ao poder do seu amor que reconcilia”.