O papa Francisco escreveu uma carta dirigida especialmente aos sacerdotes em formação para promover a renovação do estudo da história da Igreja que inclua a “dimensão histórica do próprio ser humano”.

Na carta, apresentada ontem (21) na Sala de Imprensa da Santa Sé, o papa diz ser preciso abandonar a “concepção angélica da Igreja” e abraçar as suas “manchas e rugas” para amá-la como ela é.

O papa pede que a verdadeira Igreja seja vista “para amar aquela que realmente existe”, uma Igreja “que aprendeu e continua a aprender com os seus erros e as suas quedas”.

É, segundo Francisco, a “retificação daquela terrível abordagem que nos faz compreender a realidade apenas a partir da defesa triunfalista da função ou papel que se cumpre”.

“Ninguém pode saber verdadeiramente quem é e o que pretende ser amanhã sem cultivar o vínculo que o une às gerações que o precedem”, diz Francisco. Para o papa, todos, não apenas os candidatos ao sacerdócio, precisam dessa renovação.

O papa fala sobre os perigos de uma leitura ideológica da história

O papa Francisco falou sobre a manipulação da história por ideologias que, sob diversas “cores”, destroem “tudo o que é diferente” para se perpetuarem sem oposição. Essa distorção, diz Francisco, leva os jovens a desprezar a história e a ignorar tudo o que a precedeu.

Para o papa, isso também leva a colocar “falsos problemas” e a buscar “soluções inadequadas”, especialmente em uma época marcada pela tendência de dispensar a memória ou de construir uma “que se adapte às necessidades das ideologias dominantes”.

Francisco fala sobre o risco de “deformações ideológicas” e de “histórias cuidadosa e secretamente pré-fabricadas que servem para construir histórias ad hoc, histórias de identidade e histórias de exclusão”. A expressão latina ad hoc, literalmente “para isso”, designa na filosofia da ciência teses formuladas para resolver um problema específico ou para chegar a uma conclusão aceita de antemão.

Para o papa, o passado não pode ser “abordado com uma interpretação rápida e desligada das suas consequências”. A realidade “nunca é algo simples que possa ser reduzido a simplificações ingênuas e perigosas”.

Francisco fala sobre os que se consideram “deuses perfeitos” que querem suprimir parte da história e pede para evitar julgamentos criados a partir dos meios de comunicação ou das redes sociais, em que “estamos sempre expostos ao ímpeto irracional da raiva ou da emoção".

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O papa elogiou também o papel essencial e decisivo dos historiadores, que pode representar “um dos antídotos para enfrentar esse regime mortal de ódio baseado na ignorância e no preconceito”.

Fragilidade humana e difusão do Evangelho

O papa Francisco fala também sobre a fragilidade humana daqueles a quem “o Evangelho é confiado” e exorta-os a estarem conscientes dessas deficiências e a “combatê-las com a máxima energia” para que não prejudiquem a sua difusão.

Francisco convidou também a ter presentes os “fatos históricos que nos fazem envergonhar-nos de sermos humanos”, como as guerras que ocorreram ao longo da história, pois, disse Francisco, “nenhum progresso se consegue sem uma memória integral e luminosa”.

O papa disse que “o perdão não implica esquecimento” e incentivou o cultivo de “uma memória penitencial, capaz de assumir o passado para libertar o futuro das próprias insatisfações, confusões ou projeções”.

Francisco disse também para evitar a “abordagem meramente cronológica” da história da Igreja, que “ensinada como parte da teologia, não pode ser desligada da história da sociedade”.

Papa pede para evitar plágio na internet

O papa diz também que “faltam ferramentas” para ler as fontes sem “filtros ideológicos” e diz também que a história da Igreja pode ajudar a “recuperar toda a experiência do martírio”, sublinhando “que essa preciosa memória nunca deve estar perdida”.

Segundo o papa, precisamente “onde a Igreja não triunfou aos olhos do mundo foi quando alcançou a sua maior beleza”.

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Por fim, Francisco pede aos sacerdotes em formação que evitem “conversas” e leituras superficiais ou “recortar e colar” resumos da internet.

“O estudo serve para fazer perguntas, para não se deixar anestesiar pela banalidade, para procurar o sentido da vida”, conclui o papa Francisco.