O Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS) apresenta nesse ano uma exposição de obras brasileiras, de diferentes regiões do país, com os mais variados estilos e materiais. Em tempos de interatividade, o público poderá fazer a curadoria da mostra, escolhendo quais peças serão exibidas.

São Francisco de Assis foi o autor do primeiro presépio em 1223, em Greccio, uma pequena vila na Itália. Ele desejava tornar o Natal uma experiência mais tangível e espiritual para os fiéis, permitindo-lhes visualizar o nascimento de Jesus de uma maneira direta e emocional.

Naquela época, ele obteve permissão do Papa Honório III para montar um cenário de presépio em uma caverna. Usou uma manjedoura com um boi e um burro vivos, para representar a cena do nascimento de Cristo. Ele convidou os habitantes locais para participar da celebração, em que um sermão foi pregado sobre o humilde nascimento de Jesus.

A iniciativa de São Francisco rapidamente ganhou popularidade e criou uma tradição que se espalhou pela Itália e, eventualmente, por toda a Europa.

O museólogo Ramon Vieira Santos que coordena a exposição dos presépios no MAS, explica que, à semelhança dos franciscanos, os jesuítas incorporaram e conferiram ao presépio um papel importante na evangelização das colônias portuguesas como o Brasil. “Já no século XVII, eles inovaram na confecção de presépios móveis e articulados”, diz Santos. “Desde 1549, os jesuítas aqui se estabeleceram e se espalharam pela costa brasileira, povoando as aldeias e instalando os colégios de norte a sul”.

Santos ressalta que no Brasil, a cena da natividade foi apresentada pela primeira vez aos índios e colonos portugueses em 1552, por iniciativa de são José de Anchieta, um dos jesuítas que evangelizou o Brasil no século XVI. “Mas é a partir da invenção da imprensa, ainda que bastante restrita, que a cena da natividade vai prefigurar várias publicações de gravuras e missais que irão circular pelo Brasil ao longo do século XVII e XVIII, influenciando os artistas que aqui exerciam os ofícios, popularizando a representação e a produção dos presépios”.

O museólogo afirma que o Museu d e Arte Sacra de São Paulo, um dos mais importantes do país, possui em seu acervo uma coleção de presépios significativa pela variedade de materiais, origens e estilos. Dentre eles, há obras de diferentes países e regiões do Brasil, produzidos nas mais diversas técnicas e feitos entre os séculos XVII e XXI. “Temos presépios que foram produzidos tanto por artistas anônimos quanto por nomes conhecidos como [o italiano imigrado para o Brasil] Fulvio Pennacchi, Mestre Vitalino e mestres italianos contemporâneos, como Ulderico Pinfildi”, diz.

A diversidades de representação não se limita à cena da Natividade propriamente dita. Os elementos característicos de várias culturas estão incorporados às montagens de pequenas caixas, lapinhas, miniaturas e figuras de até 50 cm de altura.

Os presépios do Museu de Arte Sacra de São Paulo integram as diversas coleções geridas pelo Museu: são cerca de 30 conjuntos da Cúria Metropolitana de São Paulo e 160 da coleção do MAS – Governo do Estado. Desta última faz parte o acervo incorporado do antigo Museu de Presépios, criado pelo industrial Francisco “Ciccillo” Matarazzo Sobrinho, na década de 1950.

Diferentes regiões, diferentes estilos

A arte brasileira é constituída da diversidade das mais variadas manifestações culturais que incorporou muitas expressões dos diversos grupos étnicos formadores da população brasileira. 

Presépio feito pelas freiras do convento de Santa Clara, Sorocaba (SP), em 1842. Museu de Arte Sacra de São Paulo
Presépio feito pelas freiras do convento de Santa Clara, Sorocaba (SP), em 1842. Museu de Arte Sacra de São Paulo

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Ramon explica que a proposta da exposição “Presépios Brasileiros” é o resultado desse amalgamento de diferentes tradições, de norte a sul e de leste a oeste, trazidas pelos povos indígenas e pelas outras culturas que aqui solidificaram as bases de uma tradição que se expressa nos materiais, formas, elementos e estilos dos presépios. 

A identidade brasileira se revela, por exemplo, na substituição de elementos universais de presépios, como estruturas clássicas de ruínas e colunas arquitetônicas, por casebres ou estruturas e vegetação típicas.

Os presépios brasileiros sofreram mais influência da tradição lusitana, que diferentemente dos italianos, se concentra mais nos personagens tradicionais, como os reis magos e pastores, estes caracterizados com elementos da cultura portuguesa, e no nosso caso, elementos da cultura brasileira. 

Interatividade

Através do link https://forms.office.com/r/KrUhUXF6EY, pode-se ter acesso aos presépios da coleção e votar, até o próximo domingo, 24 de novembro, em quais farão parte da exposição no MAS. A exposição será inaugurada no próximo 30 de novembro.

“A iniciativa reflete o compromisso do Museu de Arte Sacra de São Paulo em democratizar o acesso à cultura e valorizar a opinião do público, reafirmando seu papel como espaço de celebração e preservação da identidade cultural brasileira”, diz Ramon. A ideia é trazer o público para participar mais ativamente dos processos de construção expositivos e buscar fazer novas conexões entre os itens do acervo e a opinião do público.

A pré-seleção se deu a partir dos itens da coleção do Museu, que possuem presépios com ou sem autoria, feitos por artistas plásticos, mestres e artesãos em várias épocas das décadas do século XIX e XX.

Exposição Presépios Brasileiros

Mais em

Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo – Avenida Tiradentes 676 (entrada pelo estacionamento).

A partir de 30/11/2024, de terça a domingo, das 9 às 17h (entrada permitida até 16:30h).

Ingressos: R$6,00 (inteira) e R$3,00 (estudantes). Aos sábados, entrada gratuita.