O papa Francisco disse ontem (21) aos participantes da primeira assembleia plenária do dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé que o desejo, a coragem e a esperança cristã são os remédios necessários para superar a “sombra do niilismo” predominante na sociedade.

Ao descrever o niilismo como “talvez a praga mais perigosa da cultura atual” por causa de sua tentativa de “apagar a esperança” no mundo, o papa disse aos membros do dicastério que a instituição deveria trabalhar para inspirar a humanidade.

“As escolas, as universidades, os centros culturais devem nos ensinar a desejar, a ter sede, a sonhar, porque, como nos lembra a Segunda Carta de Pedro, ‘aguardamos novos céus e uma nova terra, onde habita a justiça’ ”, disse Francisco.

“Entendam sua missão no campo educacional e cultural como um chamado para ampliar horizontes, para transbordar de vitalidade interior, para abrir espaço para possibilidades invisíveis, para doar os caminhos do dom que só se torna mais amplo quando é compartilhado”, disse o papa.

Ao falar aos ouvintes sobre a vasta herança cultural e educacional da Igreja, o papa disse que “não há razão para ficarmos dominados pelo medo”.

“Em uma palavra, somos herdeiros da paixão educacional e cultural de tantos santos”, disse Francisco citando os exemplos de santo Agostinho, são Tomás de Aquino, santa Teresa Benedita da Cruz, e o filósofo e matemático católico Blaise Pascal.

“Cercados por tal multidão de testemunhas, livremo-nos de qualquer fardo de pessimismo; o pessimismo não é cristão”, disse o papa Francisco.

O papa também se baseou nas obras culturais de nomes da música e da literatura, incluindo o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e a poetisa americana Emily Dickinson (1830-1886) que não era católica, e disse que elas também podem ser uma fonte de inspiração para os vários projetos culturais e educacionais do dicastério.

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'Pensemos no futuro da humanidade'

Ao identificar a pobreza, a desigualdade e a exclusão como “patologias do mundo atual”, o papa Francisco disse ser um “imperativo moral” da Igreja garantir que as pessoas, especialmente crianças e jovens, tenham acesso a uma educação abrangente.

“Cerca de 250 milhões de crianças e adolescentes não frequentam a escola. Irmãos e irmãs, é genocídio cultural quando roubamos o futuro das crianças, quando não lhes oferecemos condições de se tornarem o que poderiam ser”, disse Francisco.

Ao falar aos membros do dicastério sobre a experiência do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry com as dificuldades das famílias refugiadas, o papa disse que o escritor francês se sentiu ferido depois de ver as crianças.

“Atormenta-me que em cada um desses homens haja um pequeno Mozart assassinado”, escreve de Saint-Exupéry em sua obra autobiográfica “Terra dos Homens”.

Perto do fim da audiência privada, o papa Francisco se referiu ao tema da assembleia plenária do dicastério, “Passemos para a outra margem” (cf. Mc 4,35), e pediu aos ouvintes que tenham coragem e façam seu trabalho com um sentimento de esperança.

“Repito: Não devemos deixar que o sentimento de medo vença. Lembre-se de que passagens culturais complexas frequentemente se mostram as mais frutíferas e criativas para o desenvolvimento do pensamento humano”, disse Francisco.

“Contemplar Cristo vivo nos permite ter a coragem de nos lançarmos ao futuro”, disse o papa.