25 de nov de 2024 às 10:18
Os cristãos que sofrem perseguição no Paquistão precisam que o Ocidente pressione para que seus direitos sejam respeitados e para que se ponha um fim às conversões forçadas de meninas e às condenações injustas sob a lei da blasfêmia, disse Joseph Janssen, paquistanês e fundador da Voice for Justice.
Segundo o relatório sobre liberdade religiosa da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), dos 208 milhões de habitantes do Paquistão, 96,47% professam o islamismo e 1,9% o cristianismo. O restante está dividido entre budistas, hindus, agnósticos e membros de outras religiões locais.
Embora o país tenha sido fundado em 1947 como um Estado laico, a partir da década de 1970 a lei islâmica começou a ter um papel cada vez mais importante no sistema jurídico. A decisão mais relevante ocorreu quando a Constituição de 1973 estabeleceu o islã como a religião do Estado
E embora a própria Constituição afirme que as minorias religiosas têm o direito de praticar livremente a sua fé e desenvolver as suas culturas, Janssen alerta que a realidade tem mostrado que os cristãos vivem sob dois esquemas diferentes.
O primeiro é que as autoridades lhes permitem celebrar os seus cultos em “certos limites”, dentro dos templos e das suas instalações, mas ao mesmo tempo os cristãos e outras minorias são vítimas de maus-tratos e abusos que podem chegar a incêndio de igrejas, casas e prisões.
“Legalmente há discriminação, perseguição em grande escala que os restringem. Há uma série de proibições com as quais, legalmente, esta perseguição é permitida”, disse. A maioria dos cristãos “ignora que são violações da liberdade religiosa”.
O fundador da Voice for Justice falou com a ACI Prensa, agência em espanhol da EWTN, num encontro organizado pela ACN Colômbia, que um dos maiores fardos que recai sobre as minorias é a lei da blasfêmia.
Ele disse que o principal problema desta lei é que “não há uma definição de blasfêmia”, o que significa que qualquer situação pode ser considerada um ataque ao islã ou ao profeta Maomé e levar uma pessoa a ser condenada à morte.
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O caso mais conhecido é o de Asia Bibi, que entre 2010 e 2018 foi condenada à morte por beber água de um copo que era usado por suas companheiras muçulmanas, que a consideravam impura por ser cristã. Depois de anos de apelações e pressão internacional, ela foi finalmente libertada e atualmente mora com a família fora do Paquistão.
Janssen disse que esta indefinição faz com que não seja raro que uma pessoa “que estava queimando papéis” seja acusada de blasfêmia “porque num deles havia palavras em árabe” e que o denunciante considerava parte do Alcorão e, portanto, um ataque ao Islã.
E embora nenhum dos acusados tenha sido executado até agora, o fundador da Voice for Justice disse que “a lei da blasfêmia é como uma espada que paira sobre a cabeça dos cristãos” e que traz sofrimento aos condenados.
Há alguns anos houve uma tentativa do então Ministro das Minorias, o católico Shahbaz Bhatti, de reformar esta legislação. No entanto, em 2 de março de 2011, ele foi morto por três muçulmanos quando estava indo para o trabalho.
Mas, além dessa lei, outra dificuldade enfrentada pelas minorias religiosas é o sequestro de meninas para forçá-las a se converter ao Islã e casá-las com muçulmanos.
Embora em julho deste ano uma emenda à Lei do Casamento Cristão tenha estabelecido que a idade mínima para o casamento é de 18 anos, isto só se aplica à capital, Islamabad.
Segundo Janssen, “estima-se que todos os anos mil menores de minorias religiosas sejam sequestradas para serem estupradas e convertidas ao Islã”. Embora em casos isolados os juízes tenham concordado com os pais, na maioria das vezes “eles concordam com os sequestradores”.
Por isso, o fundador da Voice for Justice apelou ao Ocidente para se envolver mais na defesa dos cristãos perseguidos no Paquistão. “A comunidade internacional tem poder, tem a oportunidade de falar sobre estas pessoas”, como foi o caso de Asia Bibi, concluiu.