25 de nov de 2024 às 15:56
Depois do segundo encontro entre o papa Francisco e Mar Awa III, em 9 de novembro, a ACI Mena, agência em árabe da EWTN, fez uma entrevista exclusiva com o católico-patriarca da Igreja Assíria do Oriente para falar sobre o significado da decisão do papa Francisco de incluir santo Isaque de Nínive no Martirológio da Igreja Católica Romana.
Acolhendo a decisão do papa Francisco de incluir santo Isaque de Nínive, um místico e teólogo do século VII da Igreja Assíria, no Martirológio da Igreja Católica Romana, Mar Awa III disse que foi "um passo muito positivo nas relações ecumênicas entre as igrejas assíria e católica".
"Este reconhecimento, juntamente com o de outros santos e mártires de igrejas orientais não católicas, é um passo louvável em direção a relações ecumênicas sinceras", disse ele.
O patriarca destacou a importância espiritual desta decisão, dizendo: "Os santos e mártires nos fornecem o que é chamado de 'ecumenismo da espiritualidade'. Suas vidas e ensinamentos têm a capacidade única de transcender as fronteiras eclesiásticas e doutrinárias e unir os crentes em respeito comum".
Progresso no diálogo teológico
Refletindo sobre três décadas de diálogo teológico desde a assinatura da Declaração Cristológica Comum, Mar Awa elogiou o relacionamento entre as igrejas assíria e católica como um dos mais bem-sucedidos na história ecumênica.
A Declaração Cristológica Conjunta foi assinada em 11 de novembro de 1994 pelo papa João Paulo II e o então patriarca catholicos da Igreja Assíria do Oriente, Mar Dinkha IV. A declaração diz que “independentemente das diferenças cristológicas que existiram”, “hoje confessamos juntos a mesma fé no Filho de Deus que se tornou homem para que nós, por sua graça, nos tornássemos filhos de Deus”.
“Ao contrário de outras divisões dentro do cristianismo, não houve condenações formais ou excomunhões entre a Igreja Assíria do Oriente e a Igreja Católica”, disse.
“A declaração de 1994 dissipou os mal-entendidos decorrentes do Concílio de Éfeso em 431, esclareceu as posições teológicas e abriu caminho para uma maior compreensão”, ele acrescentou.
Mar Awa também falou do papel significativo do contexto histórico na promoção de maior unidade.
“O papel do bispo de Roma deve ser redefinido em uma igreja unida de uma forma que respeite a tradição patrística do primeiro milênio. Essa abordagem poderia fornecer uma base sólida para o diálogo futuro”, disse ele.
Um chamado para a unidade em meio à perseguição
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Abordando os desafios atuais enfrentados pelos cristãos no Oriente Médio, o patriarca pediu solidariedade entre as igrejas.
“É essencial que todas as igrejas cristãs, especialmente no Oriente Médio, se unam e deixem de lado as diferenças e argumentos teológicos”, disse ele, defendendo a unidade para enfrentar os desafios da perseguição e do deslocamento.
Mar Awa manifestou esperança de que a inclusão de santo Isaque possa servir de inspiração para os cristãos na região.
“Por meio do testemunho de santos como santo Isaque, lembramos nossa fé comum e a força que ela dá, mesmo diante do sofrimento e da adversidade”, disse ele.
Uma ponte para uma unidade mais profunda
Mar Awa elogiou o poder da espiritualidade compartilhada na promoção da unidade.
“A espiritualidade é uma fonte de aproximação das igrejas porque os santos transcendem a divisão doutrinária ou eclesiástica”, disse ele. “A Oração do Senhor, por exemplo, nos une, independentemente da língua, porque é o ensinamento de Nosso Senhor a todos os crentes.”
Ele também falou da cooperação entre as igrejas católica e assíria em áreas como educação e esforços humanitários, mas pediu mais iniciativas para abordar as divisões históricas.
“É necessário fortalecer a cooperação entre os crentes e curar as memórias do passado, para que possamos nos unir”, concluiu.
A Igreja Assíria do Oriente
A Igreja Assíria do Oriente tem suas origens na Era Apostólica, especificamente nos esforços de evangelização de são Tomé e seus discípulos santo Addai e são Mari na Mesopotâmia. A igreja nesta região do mundo passou por séculos de perseguição e deslocamento, particularmente no Oriente Médio moderno. Hoje, a Igreja Assíria do Oriente tem aproximadamente 500 mil membros.
Mar Awa III, um assírio-americano de primeira geração, nasceu em Chicago e foi eleito o 122º católico-patriarca da Igreja Assíria do Oriente em 2021. Ele é o primeiro patriarca da Igreja Assíria nascido no Ocidente.