27 de nov de 2024 às 15:25
Mais de cinco séculos depois de sua morte e de três processos de canonização, o papa Francisco aprovou a beatificação de Joana da Cruz, freira franciscana que recebeu os estigmas, foi abadessa e até conselheira do Império Espanhol sem mal saber ler ou escrever.
A Santa Sé informou na segunda-feira (25) que o papa aprovou a promulgação do decreto de beatificação da serva de Deus Joana da Cruz.
O papa aprovou a beatificação sem necessidade de milagre, uma concessão incomum, dada a fama de santidade de Joana Vázquez Gutierrez, uma das figuras mais relevantes da Igreja Católica dos séculos XV e XVI, cujo legado sobrevive até hoje.
Todo dia 3 de maio marcará no calendário o dia da nova beata espanhola.
Joana da Cruz nasceu em Azaña (atual Numancia de la Sagra), numa família pobre. Em 1496, apesar da oposição da família e depois de fugir de casa vestida com roupas de homem, chegou ao convento franciscano de Cubas de la Sagra, onde entrou aos 15 anos com o nome de Joana da Cruz.
Hoje, este lugar é conhecido como Mosteiro e Santuário de Santa Maria da Cruz e Santa Joana, construído depois que Nossa Senhora apareceu em 1449 a Inés Martínez, uma menina simples com cerca de 12 anos. Desta época existem 72 milagres comprovados com registros notariais e é preservada uma cópia do manuscrito original das aparições.
Durante os primeiros anos no convento, Joana da Cruz começou a experimentar o êxtase e o aparecimento dos estigmas. Começou a pregar e isso chamou a atenção de muitos, especialmente do cardeal Jiménez de Cisneros, primaz da Espanha e regente de Castela, que a nomeou sua conselheira.
O imperador Carlos V, que a visitou diversas vezes, nomeou-a conselheira do império. Ela também era admirada por Gonzalo Fernández de Córdoba, conhecido como “o Grande Capitão”.
Milagres surpreendentes logo foram atribuídos à freira. Ela também tinha dons e carismas abundantes, como o dom de línguas mesmo sendo analfabeta, bem como os dons de inspiração, bilocação e cura.
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Santa Joana é representada nas pinturas e imagens com uma cruz e um pergaminho com o texto: “O que me é dado a mim, senão de ti meu Deus”. Também costuma aparecer com um vaso com flores de onde saem várias almas do purgatório e um anjo com terços.
Joana da Cruz morreu com fama de santidade em 1534 e foi sepultada à porta da sala de comunhão do convento. Anos depois encontraram seu corpo incorrupto e flexível, com o hábito em perfeito estado.
Em 1810, as tropas napoleônicas profanaram o mosteiro e roubaram tudo. O local também foi afetado, 20 anos depois, pelo processo de expropriação de bens eclesiásticos conhecido como Confisco de Mendizabal e Madoz; e, em 1936, pela Guerra Civil Espanhola. O mosteiro foi saqueado e o túmulo de Joana foi profanado. Em 3 de maio de 1994, foi encontrado seu corpo, que não estava incorrupto.
Processo de canonização de santa Joana
O caminho até os altares de Joana da Cruz foi repleto de complicações, tanto que foram estabelecidas três causas diferentes sobre a sua vida.
A primeira causa de canonização não foi concluída porque o papa Urbano VIII mudou as regras da canonização, eliminando o caminho do culto imemorial, que estabelecia que se, 100 anos depois da morte de uma pessoa, o povo a aclamasse como santa, ela seria canonizada diretamente. Esta forma de canonização desapareceu quando haviam se passado 96 anos da sua morte.
O segundo processo baseou-se em um livro que reunia as pregações de Joana sob o título de “conhorte” (conforte), que tinha como objetivo confortar a fé dos simples. São 72 sermões que formam um ciclo litúrgico completo, que inclui uma bela recriação teatral do céu.
Este segundo processo, conhecido como processo de Toledo, não pôde ser concluído porque a Santa Sé pediu o livro original, mas Filipe II o levou para a biblioteca do Mosteiro do Escorial.
Em 18 de março de 2015, o papa Francisco assinou novamente o decreto das virtudes heroicas da irmã Joana da Cruz. A recente decisão do papa corresponde, portanto, ao terceiro processo de canonização.