2 de dez de 2024 às 15:14
O papa Francisco enviou uma carta pastoral aos fiéis da Nicarágua em meio à perseguição à fé que o país sofre sob o regime de Daniel Ortega e sua mulher e agora copresidente, Rosário Murillo.
Francisco escreveu a carta na semana em que os fiéis nicaraguenses estão celebrando a novena da Imaculada Conceição. O papa falou do “afeto que professo pelo povo nicaraguense, que sempre se destacou por um extraordinário amor a Deus, a quem vocês chamam carinhosamente de Papachú”.
“Eu estou com vocês”, disse o papa Francisco, encorajando os fiéis a confiar na Providência do Senhor, “único guia seguro”, especialmente nos momentos mais difíceis, “quando se torna humanamente impossível compreender o que Deus deseja de nós, somos chamados a não duvidar de seu cuidado e de sua misericórdia”.
O papa disse que a confiança em Deus e a fidelidade à Igreja são os “dois grandes faróis” que iluminam a existência dos fiéis da Nicarágua. “Tenham a certeza de que a fé e a esperança fazem milagres”, disse.
Francisco convidou o povo a voltar o seu olhar para a Virgem Imaculada, referindo-se ao título da sua carta: “Quem causa tanta alegria? A Concepção de Maria!”. Esta expressão popular marca a celebração de “La Gritería”, tradição nicaraguense que enche as igrejas todo dia 7 de dezembro em homenagem à Mãe de Deus.
Francisco fez votos de que esta festa, que antecede o Jubileu de 2025, seja fonte de encorajamento “nas dificuldades, nas incertezas e nas privações” e exortou os fiéis a se abandonarem nos braços de Jesus com a jaculatória “Deus primeiro”.
“Quero dizer com força: a Mãe de Deus não para de interceder por vocês, e nós não deixamos de pedir a Jesus que os leve sempre pela mão”, acrescentou o papa Francisco.
Ele também os encorajou a rezar a oração “poderosa” do terço, onde os mistérios “penetram na intimidade do nosso coração, onde está guardada a liberdade das filhas e filhos de Deus, que ninguém pode nos tirar”.
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O papa confiou o povo da Nicarágua à proteção da Imaculada Conceição e concluiu com “aquele grito simples e profundamente confiante: Maria da Nicarágua, Nicarágua de Maria. Que assim seja!
Perseguição à Igreja na Nicarágua
A carta do papa Francisco chega num momento crítico para a Nicarágua, pouco depois de a Assembleia Nacional ter aprovado uma reforma constitucional proposta pelo governo, que transformou o presidente Daniel Ortega e sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, em copresidentes do país. Agora eles têm oficialmente o controle total do governo.
Entre as medidas mais controversas está uma disposição que exige que “as organizações religiosas devem permanecer livres de qualquer controle estrangeiro”.
O regime de Ortega há anos intensifica a perseguição sistemática contra todas as expressões de fé no país. Fiéis leigos, padres e bispos são constantemente monitorados, perseguidos, sequestrados e até presos em condições deploráveis.
Muitos membros do clero foram deportados do país, e perderam a nacionalidade nicaraguense sendo considerados apátridas, como é o caso do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez e dois seminaristas.
Sob o regime comunista, os católicos foram silenciados e as expressões públicas de fé, como orações pelos perseguidos ou atividades pastorais e espirituais, são estritamente proibidas.
Entre 2018 e 2024, foram registrados 870 ataques contra a Igreja na Nicarágua, segundo o relatório Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?, que mostra a gravidade desta crise.