3 de dez de 2024 às 11:18
Os bispos do Panamá, Costa Rica, Honduras, El Salvador e Guatemala convidaram os fiéis a participar de um grande dia de oração pela Igreja na Nicarágua no domingo, 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição, celebrada pelos nicaraguenses como a Puríssima.
“Na Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, os católicos nicaraguenses levantam um louvor de admiração, conhecido como 'a gritería'. Com ela, na Nicarágua e em toda a América Central, se expressa a tradicional devoção mariana, tão enraizada na piedade do nosso povo”, dizem os bispos da América Central em comunicado publicado em 29 de novembro, no final da assembleia.
A gritería é celebrada no dia 7 de dezembro na Nicarágua, véspera da festa da Imaculada Conceição, na qual os fiéis percorrem as ruas e visitam altares erguidos em homenagem à Virgem Maria rezando, cantando e acendendo fogos de artifício ou pirotecnia, enquanto as pessoas gritam: “Quem causa tanta alegria? A Concepção de Maria!”.
No comunicado, os bispos manifestaram a sua “profunda solidariedade e comunhão com o povo de Deus na Nicarágua, que – muitas vezes – enfrenta uma realidade desafiadora”.
No texto, os bispos incentivaram os católicos de cada jurisdição ou paróquia a “unirem-se na oração àquele grito de fé e esperança, paz e liberdade, que o povo fiel dirige à sua Mãe e Padroeira. Nossos pensamentos estão com vocês, irmãos nicaraguenses. Unimo-nos fraternalmente ao seu grito, que respeitosamente espera encontrar uma resposta”.
O pedido dos bispos surgiu pouco antes da carta que o papa Francisco escreveu aos católicos da Nicarágua, na qual os encoraja a terem a certeza de que a fé e a esperança “fazem milagres”.
Perseguição à Igreja na Nicarágua
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Há poucos dias a Assembleia Nacional aprovou uma reforma constitucional proposta pelo governo, que transformou o presidente Daniel Ortega e sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, em copresidentes do país. Agora eles têm oficialmente o controle total do governo.
A reforma restringe ainda mais a liberdade de religião e de expressão no país, já bastante limitada. Entre as medidas mais controversas está uma disposição que exige que “as organizações religiosas devem permanecer livres de qualquer controle estrangeiro”.
Em meados de novembro, o governo de Ortega e Murillo expulsou do país o bispo de Jinotega e presidente da Conferência Episcopal do país, dom Enrique Herrera Gutiérrez, que havia criticado um prefeito de Ortega que interrompeu uma missa com música alta, em frente à catedral local.
Como ele, outros bispos e padres são constantemente monitorados, perseguidos, sequestrados e até presos em condições deploráveis.
Muitos membros do clero foram deportados do país, e perderam a nacionalidade nicaraguense sendo considerados apátridas, como é o caso do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, exilado em Roma desde janeiro de 2024 junto com o bispo de Siuna, dom Isidoro Mora, 15 padres e dois seminaristas.
Sob o regime comunista, os católicos foram silenciados e as expressões públicas de fé, como orações pelos perseguidos ou atividades pastorais e espirituais, são estritamente proibidas.
Entre 2018 e 2024, foram registrados 870 ataques contra a Igreja na Nicarágua, segundo o relatório Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?, da advogada e pesquisadora exilada Martha Patricia Molina, que mostra a gravidade desta crise.